Skate, física e zoeira: conheça os moleques do Vidalocagi
Todas as fotos por Larissa Zaidan/VICE.

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Skate, física e zoeira: conheça os moleques do Vidalocagi

Estreamos o novo vídeo da crew carioca de skatistas que junta os mais toscos recursos, manobras, curtição e funk pesadão.

É um domingo à tarde na Praça Roosevelt, em São Paulo, enquanto uma molecada do skate carioca dá seu rolê por esse que é um dos picos mais frequentados pela galera do esporte. Durante o papo que levamos, pergunto se eles estão curtindo a cidade. O Pedro "Ace" Ventura, 20 anos, saca o celular pra me mostrar um vídeo que havia gravado na madrugada anterior: um dos caras da banca, depois de altos brigonhas (o famoso brigadeiro de maconha), aparece deitado no sofá, quase dormindo. Uma galera ao redor zoa o garoto, colocando óculos escuros ao contrário em seu rosto e um beck em sua boca. O personagem do vídeo, meio acordado, meio dormindo, dá umas risadas e tenta tirar o cigarro da boca, numas cinco tentativas frustradas. Todo mundo desata a rir vendo o vídeo, inclusive eu. Esse é o espírito dos meninos da Vidalocagi, a crew de skate mais fuleragem que você vai conhecer.

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Aproveita, e saque o novo vídeo deles que estreamos em primeira mão aqui na VICE e conheça a história desses loucos logo abaixo:

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Os moleques da banca: Pedro Ventura, Arthur Guedes, Lorran Freitas e Rafael Bernardes. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

O grupo de skatistas nasceu em 2011 de uma junção entre amigos, todos então moradores das Zonas Norte e Oeste do Rio de Janeiro. No começo, o Pedro conta que a ideia era fazer apenas um vídeo "vidalocagi" e não exatamente montar uma banca. Só que, na febre de dar rolê de skate, essa mesma molecada acabava colando sempre nos mesmos picos e andando junto. "Todo mundo já se conhecia e aí foi juntando, ficando as mesmas pessoas sempre e acabou virando a nossa crew mesmo, a Vidalocagi", afirma Pedro. Os vídeos, mesmo que no começo tenham sido feitos só por curtição, sempre foram a onda da galera — hoje já são mais de 30 vídeos já publicados no canal deles no Youtube.

Os meninos dando um rolê em Copacabana. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

Na linha de frente das produções do Vidalocagi, que existe há cinco anos, está sempre o trio "Ace", Lorran "Sujinho" Freitas (23) e Rafael "Guga" Bernardes (19). Pedro conta que, no início, eles eram tão religiosos em relação ao skate que não falavam que eram uma crew, mas sim uma seita. "Teve até problemas aí com uns amigos que eram evangélicos e que tiveram que parar de andar com a gente porque os caras da igreja falaram pra eles pararem", conta Ace sobre o prenúncio do tanto de maloqueragem que estava por vir.

Rolou até um parkour. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

No melhor estilo mambembe, os primeiros vídeos da crew eram feitos na pegada mais tosca e sincera possível, sem muita preocupação com estética ou paradas técnicas. O importante mesmo era a curtição. Munido de uma câmera simplona, Ace captava o que rolava ao seu redor, nas pistas, com os amigos. "Eu saía filmando todo mundo, a pessoa não precisava acertar a manobra, era só eu filmá-la. Aí eu juntava, fazia uma edição, fazia algo tosco, engraçado e lançava", relembra o autointitulado "el bruxo del movimaker."

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Aquele naipe bem maloqueragem. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

Dos registros do el bruxo acabou surgindo o primeiro vídeo da crew a ganhar uma audiência a mais, o FONDASE O NIVEL, que hoje já vai nos seis mil views — e contando.

"Na verdade, era 'foda-se o nível'. Aí o Sandro [Yamada, um dos membros do Vidalocagi] veio me corrigir numa zoeira e eu coloquei 'fondase' de sacanagem mesmo. E ficou até melhor, ficou mais marketing", zoa Ace.

Este de boné rosa é o Sandro Yamada, também da crew. Fotos por Larissa Zaidan/VICE.

Numa pegada meio anos 1990, os vídeos dessa garotada lembram muito o espírito moleque zoeiro no estilão dos VHS do Silly Society. Em tempos em que os vídeos de skate estão cada vez mais sofisticados e profissionais, o rolê dos Vidalocagi resgata um pouco as particularidades das antigas. Os recursos sempre foram poucos e, como o Pedro mesmo me disse, ele pegava o que "tinha na panela e cozinhava".

Quando a mágica acontece. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

No início, o Ace usava uma filmadora MiniDV e, mesmo quando adquiriu um equipamento mais firmeza, optou por colocar no modo da pior qualidade pra manter essa parada sujona que seus vídeos passam. A trilha sonora é outra atração. A curadoria dos sons fecha tão bem com as manobras e com as xaropadas dos moleques, que não dá pra imaginar nenhuma outra trilha possível. É tipo a mistura do Brasil com Egito que deu certo: tem Misfits e Iron Maiden, mas tem também UDR e MC Magrinho.

Bem de Roosevelt. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

Outra brisa é a de colocar funk como trilha dos vídeos do canal. Os meninos me contam, inclusive, que, no começo, a galera próxima a eles não curtia o som, era um tabu no skate. "Muita gente não gostava de nós lá no Rio, ainda mais que a gente botava os nomes de 'cracudo', essas paradas toscas." Até tinha funk nos vídeos de outras crews, mas, segundo Pedro, "era aquele funk old school, que tem uma batida maneira, que é mais aceito", o que pra eles não interessava. "A gente pegava logo aquele ruim mesmo, aquele que o cara falava 'não quero que meu filho ouça."

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Superando obstáculos. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

Entre referências, sons, e gravações toscas, noto que o shape do skate do Ace tem um bando de fórmulas matemáticas e descubro que é uma prova de Análise Tensorial. Como se não bastasse o skate, a edição e os rolês, os moleques ainda são ligadões em números. "Eu e o Guga fazemos a mesma faculdade, a gente faz Física. Aí eu boto [as fórmulas] por que eu acho essas contas bonitas pra caralho, eu acho artístico. Às vezes eu até tiro foto, posto, porque, porra, fica bonitão, vários números, vários índices, várias letras."

Análise Tensorial. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

No último mês de junho, o Vidalocagi completou cinco anos. "Normalmente a gente lança um vídeo", conta Pedro, "mas dessa vez a gente esqueceu". Ainda assim, pra não deixar a data se perder, os manos estrearam o LINHA DU CRACK, que você viu no começo deste texto. Mais Vidalocagem do que nunca, o vídeo resgata as gravações feitas nos primórdios da banca.

Tudo menino bom. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

O vídeo é uma obra de arte da zoeiragem, e é difícil não dar gostosas gargalhadas com o senso de humor dos caras. A introdução, por exemplo, alterna um maninho no skate com closes dum apresentador de moda do SBT dizendo "Fique ligado nas manobras radicais super descoladas". E só melhora. Os caras mandam várias linhazinhas numa pegada rolê de amigos mesmo, sem contar as várias referências meméticas que aparecem entre uma parte e outra. "A edição é zoada, tosca, é meme de internet, eu abria o Facebook e olhava uma coisa engraçada, salvava e falava 'isso aí eu vou usar, vou misturar tudo o que eu puder, vou fazer o mais foda-se possível."

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Pausa pro descanso. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

No vídeo, no-complies, variações de flips, tanto heel como kick, de frontside e backside, entrando e saindo dos obstáculos, e de grinds. Impressiona o gás e a velocidade com que os caras dão as manobras também, coisa linda. Ah, e uns ollies cabulosos, altos pra caralho.

VDLCG. Foto por Larissa Zaidan/VICE.

E a pira deles não é só andar de skate, filmar e colocar uns memes (o que já é fera demais). Os caras são imaginativos, criam em cima das manobras que já existem. Tanto que, numa das partes do vídeo lá em cima, o Sujinho sobe num palquinho de wallie. Essa parece ser uma manobra que eles curtem bem, é recorrente no vídeo. Aqui, vale dizer que, geralmente, o wallie é uma manobra dada na parede. E, após exaustivas tentativas, assim que o Sujinho acerta, entra um letreiro tipo aqueles depôs que a gente recebia no Orkut parabenizando-o pela manobra: "Você é o herói que necessitamos, continue nos inspirando, beijos".

Devidamente apresentados, deleite-se com esse jeito meio nerdão, meio skatista maloqueiro despreocupado que dá a essência pra esse bando de meninos que leva a zoeira muito a sério.

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