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Life of D. Duck É um Adventure Feito com Canetinha e É Fera

Além da história completamente retardada, Life of D. Duck é todo feito com desenhos infantis de esferográfica e hidrocor, e todos os personagens parecem fugidos do pior hospício imaginável.

Controlando uma versão estilosamente deformada do famoso Pato Donald, sua intenção é casar com sua namorada Margarida, mas, ao ser atacado por seu tio obeso Jubalon, que pretende comer tudo o que há em sua casa, você logo se encontra em uma fria daquelas, já que sua pretendente decide passar o fim de semana com seu o primo talarico Gastão. Será que você tem os meios para, através de uma série de quebra-cabeças lógicos, se livrar de seu tio e casar com sua namorada? Esse é o começo do incrível jogo Life of D. Duck II, um adventure gráfico feito por meio da ferramenta Adventure Game Studio, um programa desenvolvido especificamente para fazer jogos de adventure.

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Dá uma sacada no caos gostoso que é o jogo.

O gênero adventure é um dos preferidos dos gamers old school e análogo perfeito do nerd de música que prefere o primeiro disco do My Bloody Valentine a todos os outros discos gravados no universo conhecido. O estilo adventure nunca sumiu por definitivo do universo dos jogos eletrônicos, especialmente dos de computador, mas sua popularidade relativa já foi bem maior, principalmente na década de 1990, quando grandes empresas faziam muitos jogos do gênero, quase todos com uma qualidade bem razoável. Grande exemplo disso é da Lucas Arts, do vovô nerd George Lucas, que investiu uma grana considerável para trazer à vida talvez os jogos mais emblemáticos do gênero como Full Throtle, a série Monkey Island, The Dig, Sam and Max e Grim Fandango. Sempre com uma boa história e bom humor (e por bom humor eu digo piadas engraçadas e bem escritas) o gênero foi o primeiro a conseguir inserir uma história um pouco mais trabalhada dentro dos jogos eletrônicos, e nos últimos anos vem crescendo com exemplos claros, como o sucesso do kickstarter do Double Fine Adventure, que ao almejar por meros quatrocentos mil dólares, conseguiu arrecadar três milhões e caralhada, e terminou por fazer, até o presente momento, a primeira parte da série Broken Age. Vale notar que o sucesso desse kickstarter se deve basicamente ao pessoal envolvido com a produção do jogo, como o Tim Schaefer, o responsável por Full Throtle e Grim Fandango entre outros clássicos do gênero Adventure.

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A figura na frente da casa é o protagonista, D. Duck, os pestinhas fugindo são seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho.

O amor é lindo.

Como o melhor do Black Metal, Bjørnar B é nativo da Noruega. Em seu site pessoal, que, infelizmente, parou de ser atualizado em 2012, é possível ver algumas de suas principais obsessões: sua fixação pela Disney, por diferentes tipos de obesidade, pelo apresentador norueguês Knut Borge, além de seus desenhos, histórias em quadrinhos e ensaios. Eu gostaria de acreditar que Bjørnar B é uma pessoa de verdade, mas tenho 120% de certeza que é um personagem desses que nascem por brotação espontânea de uma ou outra piada de internet e, por algum motivo obscuro, viram entidades autônomas. Existente desde o longínquo ano de 2000, quando só os mais fortes sobreviviam na internet, Bjørnar B lançou dois jogos eletrônicos do gênero Adventure: o Life of D. Duck, em 2005, e, em 2008, o Life of D. Duck II. E os jogos são bem o que era de se esperar dessa mente doentia obcecada pelo pato Donald e seu universo próximo.

Não, eu também não entendi o que tá rolando ali.

Tadinho do pato Donald.

A Vovó Donalda no primeiro jogo ao encontrar um ovo, de onde nasce o pato Donald.

Além da história completamente retardada, Life of D. Duck é todo feito com desenhos infantis de esferográfica e hidrocor, um estilo de figuração que, a partir de sua invenção, nunca mais vai sair de moda. Com certa preocupação de figurar os cenários de maneira razoavelmente lógica, a estética de desenho infantil não vira um caos completo na hora de jogar, mas os personagens, especialmente enquanto estão falando, viram garatujas deformadas absolutamente lindas. Com os personagens do núcleo da Disney em que figuram especialmente as aves aquáticas da família Anitidae, o pessoal está quase todo presente com o Donald, seus sobrinhos malucos, sua namorada, Gastão e o Tio Patinhas. O que não é comum ao universo Disney, fora traços caricatos da estrutura psicológica dos personagens, é que todos eles parecem fugidos do pior hospício imaginável, exemplo da Vovó Donalda, que no jogo está sempre andando com um rolo de macarrão na mão e dá porrada em tudo e todos que surgem em seu caminho.

A jogabilidade é típica dos jogos de adventure dos anos 1990, e parte da interface, incluindo os ponteiros de mouse que indicam a interação que seu personagem terá com o ambiente e os objetos que estão nele parecem diretamente tirados de Sam & Max, um dos clássicos do gênero. Se você tem alguma afinidade com esse tipo de jogo, você provavelmente consegue terminar tranquilamente Life of D. Duck I e II. E as histórias, embora insanas, cumprem com a coerência interna do mundo doentio de Bjørnar B. Só espero que ele realize seu sonho de ser contratado pela Disney.

Siga o Pedro Moreira no Twitter - @pedrograca