Q&A: LINDA HEWSON

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Sustainability Week

Q&A: LINDA HEWSON

Diretora criativa da Selfridges, Linda Hewson conversa conosco sobre como ser um agente de mudança na questão moda e sustentabilidade.

Diretora criativa da Selfridges, Linda Hewson conversa conosco sobre como ser um agente de mudança na questão moda e sustentabilidade.

Por que você acha que a moda deve se preocupar com a sustentabilidade?Sabemos que a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo. Dos recursos às emissões, da biodiversidade aos resíduos e ao bem-estar, a moda destrói vidas e ao mesmo tempo cria meios de vida.

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Isso nos dá a urgência e a agência para a mudança. Precisamos falar sobre essas questões de sustentabilidade utilizando as nossas forças coletivas como um setor criativo. Nossos clientes podem e estão de fato ajudando a dar forma a essa mudança através de seus hábitos de consumo, então a oportunidade para a indústria da moda inovar é agora.

No ano passado, perguntamos a mil clientes se a Selfridges deveria contribuir com a sociedade para além dos lucros. Quase todos (93%) disseram sim. Quando perguntamos como, mais da metade respondeu que seria criando uma mudança positiva no comércio ético de moda, beleza e alimentos, e 59% dessas pessoas disseram que apoiariam essa mudança e essas iniciativas através do consumo.

Que perguntas os consumidores devem fazer às marcas para reforçar as mudanças que precisamos?
Os clientes já estão começando a perguntar quem faz as roupas, de que são feitas, onde e como são feitas. A narrativa da sustentabilidade deve ser parte integrante da narrativa da marca e de seus produtos. Assim como vimos na indústria de alimentos, os clientes querem ver a relação entre o produtor e o produto, e se a narrativa for positiva, a experiência do consumidor será mais rica e o relacionamento com o produto, mais profundo.

Como você vê sua atuação como agente de mudança nesse cenário?
Na Selfridges, estamos em uma posição privilegiada de alcançar um setor amplo e diversificado de uma sociedade global. O Projeto Ocean é um grande exemplo do que chamamos "ativismo do varejo". Utilizamos nossa plataforma criativa para conscientizar sobre o perigo que correm nossos oceanos e ajudar ativamente a protegê-los.

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A criatividade é o que move nosso negócio, então naturalmente nossa abordagem no Projeto Ocean – assim como em tudo – é criativa.

Através da nossa linguagem criativa, desenvolvemos uma conversa positiva que pode ser inspiradora, incrível ou edificante (nada de desestimular ou deprimir!). É uma forma poderosa de promover um engajamento de fato com as pessoas e inspirá-las para mudarem sua forma de pensar e se comportar.

E realmente mudamos o comportamento delas. No último verão, paramos de vender garrafas plásticas descartáveis e pedimos aos clientes que comprassem versões reutilizáveis. Verificamos um aumento nas vendas de vasilhames reutilizáveis e apoiamos isso com bebedouros na nossa seção de alimentos, nos restaurantes e em um bar de água.

A iniciativa é tanto interna quanto voltada para o consumidor, pois sabemos que ter três mil de nossos colaboradores pensando em como e por que devemos proteger nossos oceanos – e conversando com suas redes sobre isso – tem mais força que qualquer campanha publicitária. Nossas equipes se comprometeram a não usar garrafas plásticas descartáveis, se voluntariaram, arrecadaram fundos para nossa parceria beneficente e investiram pessoalmente na iniciativa, tanto no trabalho quanto em casa.

Falando de bons exemplos, a Escandinávia é líder no sentido de considerar os resíduos como recursos em vez de um inconveniente. Você poderia destacar algumas iniciativas de boas práticas no seu país?
Como líder no setor de lojas de departamentos de luxo, estamos em uma posição forte de influenciar a compreensão das pessoas sobre o luxo – o que significa e o que simboliza. Por exemplo, a versão 2016 de nossa importantíssima plataforma de talentos Bright Young Things, que ocorre há cinco anos, foi reformulada e agora se chama Bright New Things. Nessa iniciativa, apoiamos alguns dos talentos da moda mais interessantes do Reino Unido, que, por sua vez, defendem a sustentabilidade. A vencedora da bolsa Bright New Things, Katie Jones, é um grande exemplo de estilista que desafia nossa noção comum de luxo. Sua abordagem ♯WASTENOT ("Desperdício Não") utiliza retalhos e excedentes da indústria e celebra o artesanato e o trabalho manual. Todas as peças são feitas com muita consciência no ateliê da marca em Londres.

Você acredita que podemos mudar a cadeia produtiva da moda? Como cada empresa pode contribuir para isso?
Não é questão de 'será que a cadeia produtiva da moda pode mudar', mas sim que ela deve mudar para sobreviver – o atual modelo do setor não só é altamente prejudicial, como também não é sustentável no longo prazo. Nosso esquema Bright New Things apoiou os estilistas que têm a sustentabilidade no coração do seu negócio. São empresas que consideram o efeito de cada passo da cadeia produtiva – e comprovam que é possível criar produtos desejáveis e brilhantes do ponto de vista criativo e que, ao mesmo tempo, têm um impacto positivo sobre o meio ambiente e o bem-estar social. Em outras palavras, o bom design e de luxo não precisa "custar o planeta". Todos nós precisamos olhar para esses novos negócios como exemplos de como podemos trabalhar melhor e reconhecer que, se não fizermos isso, não sobreviveremos no longo prazo. Colocando de forma simples, só teremos um lugar no futuro se encontrarmos formas de sustentarmos a nós mesmos e aos nossos recursos.