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Milhões de Festa

Milhões de Bike: Segunda etapa, das Caldas da Rainha a Coimbra

A aventura continua. Doa o que doer.

O segundo dia do Milhões de Bike foi diferente.

O primeiro foi o do triunfo

, o segundo foi cheio de problemas. Começou logo com a ressaca do dia anterior, no Parqe. Foi difícil levantar o rabinho da cama e o pelotão saiu um bocado mais tarde do que aquilo que estava previsto. Tomámos o pequeno-almoço ainda no Imaginário (o apelido do Hélio) e foi bom — mas havia 120 quilómetros no horizonte.

Lá partimos. E começou logo mal. Mal dei a primeira pedalada perdi logo o pelotão. O atacador prendeu no pedal e por pouco não caí. Ouvia repetidamente na minha cabeça o Hélio a dizer: "Pessoal, temos de ir todos juntos porque vamos por um atalho e é complicado o caminho.” Dali para baixo era sempre a descer e eu via-os ao longe. E, de repente, desapareceram.

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Eu bem os procurei por todo o lado. Era tudo íngreme, andei para a frente e para trás durante um bom bocado. Liguei ao grupo e estavam ao pé de uma estrada nacional, até me mandaram a localização (obrigado smartphones). Meti no GPS e segui caminho. Terrível, por sinal: ora descia milhões ou subia ainda mais. Isto tudo intercalado por imensas chamadas, o pessoal estava mesmo preocupado. Conclusão: o GPS mentiu-me, andei a subir e a descer desalmadamente para nada, afinal era no sentido contrário.

Coisas que acontecem: pneu rebentado.

Fui dar a uma mata e dei por mim a fazer montanhas, em troços de areia com paus e uma banda-sonora experimental com animais desconhecidos a mexerem-se. Para ajudar à festa consegui ficar sem água e sem bateria no telemóvel. Só pensava: “Como é que aqueles gajos me vão encontrar? Se me acontecesse aqui alguma coisa, com um javali ou isso, quanto tempo levariam a encontrar o meu corpo inconsciente?”

Voltei para trás, por um caminho improvisado, e encontrei um casal de agricultores que me deu indicações. Só tinha de subir o monte durante dez minutos de bicicleta e depois voltar a descer. Subi e encontrei um telefone público que usei para chamar a equipa. Não tinha a mínima noção do tempo que teria passado. Foram duas horas aos círculos, à volta do Coto — estava um coto farto. Fui levado, de carrinha, até aos meus companheiros. Finalmente estávamos todos juntos outra vez, mesmo a tempo de um belo almoço na Marinha Grande.

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Eu a ligar à minha mãe, depois de me encontrarem, para lhe garantir que ainda podia ser avó.

De volta ao grupo.

Comemos, conversámos e fizemo-nos à estrada. Depois da Marinha Grande o dia começou a ficar melhor. E ainda bem. Até Leiria, o trajecto era para meninos, foi mesmo na boa. Toda a gente estava feliz e a dar-lhe bem. Todos juntos, como deve ser. Mas este foi um dia diferente e a carrinha de apoio acabou por ser pequena para tantos percalços. Ora vamos lá ver: três pneus furados, um pneu rebentado e uma roda-pedaleira estragada. Mesmo assim, continuámos sempre. E toda a gente se aguentou.

O amor idoso também é bonito (desculpem, esta vai ser filtro).

Parei para fotografar este monumento ao amor para o Instagram e, ao levantar-me, senti um clique. Não foi a máquina que disparou, foi o meu joelho. Rebolei de dores, senti a longa faca das lesões a penetrar o meu corpo. Felizmente, um dos elementos da Massa Mítica, o Johannes, está em Portugal a fazer o melhor tipo de Erasmus: medicina. Esteve a olhar para o meu joelho e chegou à conclusão que era melhor terminar o meu dia por ali.

De volta à carrinha, agora lesionado.

Não há pior do que querer fazer 400 quilómetros e ter este tipo de obstáculos. Tive de ir na carrinha, todo cabisbaixo, a ver a acção de longe. Senti o amargo sabor da derrota, mas o grupo foi forte e a revelação do dia foi mesmo o Hélio, que foi sempre quase sem parar até Coimbra. Chegou em primeiro lugar e tudo. Como não há prémios, não ganhou nada a não ser uns valentes abraços.

Eu ainda não sei se a minha aventura continua ou acabou por aqui, mas este grupo deixa-me orgulhoso. Pessoas que, sem grande rotina de bicicleta, fazem as maiores subidas com um sorriso. Amanhã é o dia em que vou saber se vou continuar a ser um repórter sobre rodas ou se volto à minha posição de acompanhante de luxo, como em 2012. O rapaz que lixou a roda-pedaleira também se magoou e caiu.

Enfim, a aventura continua apesar de tudo. Vamos todos para o Porto amanhã. Doa o que doer.