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Platão: o precursor pansexual da geração millennial

Como o filósofo da Antiguidade saltava de trabalho em trabalho, ia para a cama com quem lhe apetecia e apregoava os valores da boa vida.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma AMUSE.

Num mundo que gira à volta da argumentação interminável, da desculpa e do debate, é irónico que se saiba tão pouco sobre o homem que oficializou o termo "Diálogo Socrático". Platão viveu nos séculos IV e V a.C., numa época de tradição oral, pelo que existem centenas de teorias sobre o seu verdadeiro nome, as suas crenças, com quem foi para a cama e como morreu. Olhando para a sua vida, no entanto, uma coisa é clara: foi o percursor perfeito para o que é hoje a geração millennial. Eis como e porquê.

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O narcisista original

Tal como os millennials de hoje, Platão viu-se à rasca para encontrar a sua verdadeira vocação. Nascido no seio da aristocracia política, Aristocles recebeu a alcunha de "Platão", que significa "amplo". Primeiro foi lutador: abdominais bem definidos e uma cara escultural, cabelo curto, barba à Bandholz e uma postura imponente.

Mais tarde juntou-se ao exército para combater Sparta e regressou abatido pela derrota. Foi depois disso que conheceu Sócrates e terá de tal forma apreciado o seu método de conversação dialéctica, que decidiu seguir o caminho da filosofia e, basicamente, começou a passar os dias a pensar e a reflectir ao sol. Quando Sócrates foi enforcado, escreveu A República, em que descreve uma nação assente em três castas, sendo a mais baixa a dos amantes do dinheiro, no meio os amantes da honra, e a mais elevada a dos amantes do conhecimento. Colocou-se a ele próprio na última e classificou-se como um narcisista charmoso.

À procura da boa vida

Ainda que seja descrito como uma pessoa que nunca se ria de forma sonora, todos os cerca de 45 trabalhos que produziu exploram, basicamente, uma única questão: "O que é a boa vida?". Os seus diálogos tornaram-se os pilares da filosofia, sendo o mais famoso A Alegoria da Caverna.Muito importante e vastamente discutido é, também, O Simpósio, em que sete homens tentam definir o amor. Já em Phaedrus, Platão diz-nos - através da personagem Sócrates - que não devemos escrever, pois faz com que a nossa memória fique preguiçosa. Em Parmenides, tenta definir o que é "Aquele", o "Certo", e conclui que não pode ser uma coisa única. Pensa nisto: um grupo de chat do século V a.C., a discutir no calor das primárias para a eleição presidencial norte-americana.

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Pensamentos alimentados a sexo e álcool

Platão bebia vinho como se não houvesse amanhã: quase todos os diálogos são interrompidos por pausas para encher o copo e continuam num estado de embriaguez pela noite dentro.

Platão é aquele amigo que consola os amigos de rastos ao balcão do bar e os instiga a deixarem os empregos e a pensarem que mais vale irem atrás daquilo de que realmente gostam.

Platão nunca se casou, mas era poli-amoroso e pansexual: ia para a cama com rapazes mais novos - a pedofilia ainda estava por ser uma cena e ele via-os como uma espécie de musas -, homens mais velhos, mas também mulheres. Acreditava que toda a gente era inerentemente pansexual. Era um pós-feminista, não acreditava na distinção de géneros, como se pode ver na sua descrição dos humanos como originalmente andróginos e apenas divididos em dois por terem enfurecido "os deuses" (chamemos-lhe o governo).

As redes sociais têm muito que lhe agradecer

Platão deu-nos o diálogo e o método socrático da discussão igualitária, sem a necessidade de opiniões e respostas definitivas. Podemos dizer que esta é a raiz do Facebook e do Twitter, as plataformas da modernidade para o discurso de qualquer um, muito à semelhança da Agora grega, onde as pessoas se juntavam para discutir. E, provavelmente, local onde ele aproveitava para fazer publicidade à sua academia enquanto falava e abria discretamente a sua túnica, deixando antever só um bocadinho da sua "amplitude" (se é que me estão a perceber).