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Música

Um pai de família que faz música com paixão

Fomos conversar com Little Friend, o novo projecto do John Almeida.

A norte, tudo de novo. À senda dos projectos mais entusiasmantes que têm surgido em Portugal, nos últimos anos, junta-se agora

Little Friend

, projecto de John Almeida, que conta com a "ajuda" de muitos nomes conhecidos no nosso panorama (com André Tentugal e Alexandre Monteiro à cabeça). Curiosa pelo bonito tema de estreia, "Sunken Low", decidi ir falar com o John, para saber tudo sobre os próximos passos de

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Little Friend

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VICE: Ei, John. Comecemos pelo início. Como conheceste a Jo Hartley? E como é que surgiu a hipótese de trabalharem juntos?

John Almeida:

Bem, eu conheci primeiro o trabalho da Jo Hartley na televisão e no cinema inglês. Quando entrei em contacto com o Lewis Arnold, o realizador do vídeo, ele disse-me logo que havia a possibilidade de ter uma actriz conhecida no vídeo. Quando me disse quem era, fiquei imediatamente entusiasmado, e tudo partiu daí. Eles já tinham trabalhado juntos, e ela concordou em fazer o vídeo, quando ouviu a minha música. Curiosamente, só entrámos em contacto os dois, depois de estar o vídeo feito. Gosto muito do trabalho dela.

Já colaboraste com o André Tentugal, em We Trust, e também te fazes acompanhar do Weatherman, em Little Friend. A pop portuguesa vive bons dias, não achas? Pensas que vais contribuir para isso?

A colaboração do André e do Alexandre foi essencial na gravação do disco, porque ambos tocaram bateria e teclados, participam em quase todas as músicas, e ajudaram-me com a produção. Além disso, a par do João Vieira, de quem sou amigo há imensos anos, o André foi a pessoa até hoje que mais impulso me deu em tudo isto, por vezes até com mais entusiasmo do que eu próprio. O Alexandre também, da sua forma mais contida, mas igualmente importante. Eles são duas razões pelas quais a pop portuguesa vive este momento, dois exemplos de quem faz as coisas à sua maneira, com convicção e com garra. O André é das pessoas mais tenazes e sem medo que conheço. Acredita e faz-te acreditar. Eu acho que posso, com certeza, contribuir para este bom momento, tenho algo para dar que espero seja diferente, novo, interessante, bonito.

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O que mais gostaste de ouvir, em português, no ano que passou?

Não sei se me estás a pedir exemplos de música feita em Portugal ou em português… Mas houve várias coisas na língua portuguesa que me chamaram a atenção. A Márcia, por exemplo. Os Capitães da Areia. Gostei também do disco dos Memória de Peixe e dos Black Bombaim. O Filho da Mãe é muito interessante. Portugueses que cantam em inglês há, claro, os We Trust e os Best Youth, o Old Jerusalem… Gosto muito dos Minta and the Brook Trout, dos Dear Telephone. Há tantos, é difícil dizer assim de repente. Os Voxels. Faltou um disco dos X-Wife este ano.

Há um fenómeno positivo de bandas pop e de autores a virem do norte, nos últimos anos. Foi algo que te inspirou a “sair do armário? Ouvi dizer que já fazes música há muito tempo, antes de nos mostrares “Sunken Low”…

Já faço música há algum tempo, noutras bandas e sozinho. Pode dizer-se que tudo isso que se passar no Porto e no norte me ajudou, porque escolhi passar algum tempo a fazer outras coisas, e esperar um pouco no que dizia respeito à música. Tinha de me organizar mentalmente. Começaram a aparecer amigos meus que estão em bandas no Porto, que puxaram por mim, confesso. Achei que era um bom momento para mostrar o que tinha. O Porto sempre teve, nos últimos seis ou sete anos, uma onda que se via que ia crescer, e que ia trazer coisas boas.

O que te levou até ao Gerês, para gravar? Há lá algo que te inspire em particular?

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A razão principal foi o convite do Alexandre ( Weatherman) para nos “escondermos” em casa dele e gravar algo. O André Tentugal pegou nas rédeas da coisa, como é seu costume, e incentivou-me a pensar naquilo como um disco a sério, e não como umas férias. Na altura, tínhamos passado muito tempo a ouvir o primeiro disco dos Bon Iver, e aquela mística toda que rodeou esse álbum, a cabana na neve atraiu-me para fazer algo assim, já que fico muitas vezes afogado pelo ruído da cidade. O sítio é lindíssimo, e trouxe muita coisa boa à superfície.

E porquê a escolha de teres o Lewis Arnold a realizar o teu primeiro videoclip?

Isso foi uma daquelas coisas que acontecem. Enviei umas músicas a um amigo meu que estuda Sound Design em Londres, e pedi-lhe que investigasse junto dos mestrandos de realização da faculdade dele quem estaria interessado em fazer o vídeo. O Lewis foi logo o mais entusiástico, e foi quem mostrou mesmo amor pela música. Enviou-me logo um “treatment” para o vídeo, e adorei as ideias e o outro trabalho dele. Fugia aos clichés de ter jovenzinhos bonitos de 18 anos a dançarem numa discoteca, coisa que não tem nada a ver com a minha música, apesar de não ter nada contra isso. E quando me falou na Jo, foi a última peça.

Sentes-te mais “confiante”, ao rodeares-te de pessoas que conheces bem, em Little Friend? Ou a escolha do João Bessa, do Miguel Araújo Jorge, do André e do Alexandre foi, meramente, de cariz musical?

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Não foi só de cariz musical, de todo. Sempre equacionei a música, ingenuamente, como uma paixão. Sempre quis tocar em bandas com amigos, ou com pessoas que fossem muito sintonizadas com a minha maneira de abordar a música. Com o André houve logo um clique, gostávamos das mesmas coisas, e encarávamos a música como uma experiência, uma coisa que era para ser adorada. O Alexandre é um instrumentista incrível, um compositor com muito talento. Eles ajudaram-me em termos de produção, arranjos, coisas assim, apesar de a minha música ser muito simples e não precisar de muita coisa, mas ajudaram-me a navegar a coisa. Já conheço o João há alguns anos, e também começámos a trabalhar juntos porque havia uma ligação não profissional. Falei-lhe da minha música, ele ouviu, quis produzir, e partimos daí. O Miguel tocou baixo na” Sunken Low” a convite do João, embora também o conheça há muito. Tudo começa por uma ligação pessoal, por termos gostos semelhantes e por nos entendermos. Por acaso, calhou serem dos melhores profissionais que há.

Quem é o John Almeida? O que faz no dia-a-dia?

Sou uma pessoa simples, um pai de família. :) Trabalho como tradutor, escrevo, leio, ouço música. Sou bastante reclusivo, nos dias que correm.

Conta-nos tudo sobre Little Friend: quais serão os próximos passos?

Bem, o próximo passo é tocar ao vivo, e acabar de misturar o disco. Mais uma vez, no que toca a tocar ao vivo, rodeio-me de pessoas que conheço bem, e com quem partilho uma ligação que ultrapassa o profissional. Estou a tocar com duas pessoas que foram membros da minha primeira banda, o Carl e Silvio Minnemann, dois irmãos que tocam baixo e bateria, entre outros instrumentos. A ideia é marcar umas datas ao vivo, acabar de misturar o disco e editá-lo em breve. E continuar a fazer música.