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concerto

Podíamos ter ido jogar à bola com os Sensible Soccers

Mas preferimos ficar a ouvi-los.

Enquanto Viktoria Mullova, uma das violinistas mais prestigiadas do mundo, subia ao palco do Centro Cultural Vila Flor (para um concerto da Fundação Orquestra Estúdio, dirigida pelo maestro Miguel Graça Moura), o centro histórico da cidade era invadido por centenas de medievais, numa daquelas recriações de época que nos fazem querer morrer precocemente e sem dor. Isto foi na sexta-feira à noite, em Guimarães. A vantagem de uma Capital da Cultura é que há oferta para todos os gostos, mesmo para os maus. Do erudito ao popular, nós ficámos ali pelo meio, onde está a virtude. As sextas-feiras à noite são um dia como qualquer outro para o desporto. Por isso, vestir o calção e calçar a chuteira rumo à Fábrica da Asa foi o nosso destino. Na verdade, não se tratava de nenhum desporto, apesar de se terem baptizado com o nome de um dos videojogos mais emblemáticos do século passado.São uma banda e chamam-se Sensible Soccers. E foi o mais próximo que estive de me tornar uma atleta de alta competição. Há meses, estrearam-se em Guimarães. Estiveram no café concerto do CCVF e o público não aderiu de forma entusiástica. São os riscos dos cafés-concerto, onde o público nem sempre sabe ao que vai: na maioria das vezes, nem vai para nada e acaba por estragar a cena toda à malta que lá foi com um objectivo bem definido. Mas desta vez o palco foi outro (o ON/OFF da ASA) e quem lá foi, sabia para o que ia. No escurinho, numa espécie de gruta dentro de uma estrutura de madeira, os Sensible Soccers levaram o público por uma viagem intimista e quente, apesar do armazém industrial que os albergava. E tal como no concerto anterior, o quarteto levou-nos de passeio com sons às vezes electrónicos, às vezes analógicos, que nos fazem divagar por universos acolhedores, com uma estética quase sempre familiar e muitas vezes irónica. Não inventam, apenas reinventam, reciclam e reconstroem. De passagem pela CEC, a banda apresentou temas dos seus dois EPs, temas compostos para integrar uma futura edição em formato LP e canções, ainda, sem edição prevista. Começaram numa toada mais ambiental, "lenta", para ir crescendo progressivamente para ritmos mais dançáveis, sempre com muito psicadelismo à mistura.E foram muito aplaudidos. Portanto, os Sensible Soccers têm um óptimo trabalho, têm uma excelente imagem e até o nome é bom. Estão há cerca de dois anos na partida. Têm viajado e tocado sem parar. Tudo indica que Hugo Alfredo Gomes, Emanuel Botelho, Filipe Azevedo e Né Santos, em breve, estarão na primeira liga da música electro-indie, se é que já não estão. E num mundo onde o futebol é rei, atrevo-me a dizer que os Sensible Soccers vão ser grandes, no que toca a música. Aqui e além.