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Sexo

Guia para casais curiosos que querem curtir um sexo a três sem estresse

Casais que fazem ménage juntos permanecem juntos? Fui atrás da resposta.
'Love', filme de Gaspar Noé. Imagem: Reprodução.

A julgar pela multiplicação de aplicativos novos destinados a colocar nos casais um par extra de mãos, ou pés, ou o que for do desejo deles, esse “terceiro elemento” tem desfrutado de certo, digamos, momento cultural. Se você estiver de olho nos perfis do Tinder, provavelmente já deve ter topado com o perfil de um casal feliz com “buscando se divertir” na bio.

Estaria mentindo se dissesse que meu interesse pessoal no assunto não cresceu nos últimos anos, e já flertei brevemente sobre a ideia de um threesome com minha namorada e um amigo em comum enquanto estávamos bêbadas em um Uber. Isso me deixou pensando: se você precisa de três pernas pra uma mesa ficar em pé, significa que você precisa de três bocas pra que um relacionamento funcione bem?

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Acontece que ter um terceiro elemento envolve qualquer outro aspecto da vida de um casal e, também, envolve conversar, controlar e se informar, e assim como qualquer relacionamento, existem muitos meios diferentes de fazer isso. Pro interesse da ciência (será que isso é ciência?) pensei em cavucar informações para descobrir se existe uma estratégia perfeita pra formação de uma trindade do sexo. Então abordei quatro casais que têm terceiros elementos em vários aspectos para ver se consigo alguns insights sobre suas aventuras.

Meu primeiro passo nesse mundo de desvendar esse terceiro elemento de um relacionamento foi conversar com dois cavalheiros que às vezes transam com um amigo. Eles o encontraram no Grindr. Joe e Samir estão juntos há quatro anos e começaram a receber terceiros no relacionamento logo que se sentiram seguros a respeito disso. “Sempre gostei de jogos cooperativos, com vários jogadores”, Joe me contou (suponho que ele estivesse piscando para mim no telefone). “É como comer duas coisas diferentes no buffet porque são servidas ao mesmo tempo”, acrescentou Samir. Que atrevidos.

Joe e Samir afirmam que um parceiro a mais costuma ser alguém decente o suficiente a ponto de, em outra situação menos, digamos, nua, eles possam ser amigos. “Também ajuda se for alguém com quem um de nós já transou”, Samir afirmou sobre sua primeira incursão. “Fica ainda mais fácil se eu puder fazer boas referências sobre a pessoa.” Perguntei a Joe se isso era verdade. “Bem, eu gostaria de alguém que viesse com referências”, ele disse. Faz sentido. Se alguém me indicasse para um relacionamento com threesome excelente e nem um pouco esquisito, eu me jogaria de cabeça nisso.

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Joe e Samir são categóricos a respeito de só querer sexo com esse arranjo, não vão querer sair com o terceiro como parte do relacionamento. “Sinto tanto amor e companheirismo em nosso relacionamento, então buscar isso em outro lugar não está na minha lista”, Joe afirmou.

Quando questionado sobre possíveis contratempos, os dois salientaram que a comunicação é a chave para evitar bad vibes. “Eu já tive um terceiro elemento em um relacionamento anterior, mas não acabou bem, principalmente porque as pessoas não estavam falando sobre isso.” Samir recordou. “Sempre tem que haver uma estratégia de fuga, algo que não faça seu terceiro elemento se sentir constrangido.”

Joe e Samir me contam que isso se aplica a todas as situações — não somente ao sexo. “Acho que o motivo porque acaba sendo uma situação pegar ou largar é que se alguém está incomodado e fala sobre isso, então paramos imediatamente”, Joe afirma. “Sim, você não pode antecipar o modo como seus sentimentos vão mudar, então esteja preparado para alguns sentimentos ruins também”, acrescentou Samir. As palavras finais deles são: converse converse converse.

É, não dá uma dessas. Foto via Flickr: Christine Rondeau.

Contudo, se você não conseguir encontrar seu terceiro nos aplicativos, onde mais seria possível? Em seguida, encontrei Rob e Roxy, que são casados e vêm envolvendo amigos em seu relacionamento desde o início. Roxy é bissexual e me conta que, para ela, é muito importante ter essa conversa desde cedo em todos os relacionamentos que ela teve. “Eu amo a forma humana”, ela contou.

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Além de conversar sobre filhos, casamento e quantas casas na praia eles gostariam de ter, eles também precisavam de tempo para discutir com quantas mulheres a mais eles se permitiriam transar. Muito bem. Acho que minha reação inicial foi semelhante à do Rob, que ele admite ter sido bem pedante. “Minha reação inicial foi típica do machão ‘sou o maior macho alfa, pego duas mulheres ao mesmo tempo blá blá blá’, mas honestamente, acho que essa reação veio de um lugar de insegurança, no qual eu sentia quee não era suficiente, ou de que eu não estava satisfazendo a Rox sexualmente, então fiz disso uma prioridade.”

Roxy afirma que a primeira vez que ela levou outra mulher para casa, Rob estava “dando uma de machão esquisito” na cama. “Foi perturbador”, ela me contou. Ai, querido. Então, para Roxy e Rob uma terceira pessoa não serviria pra ter um sexo incrível -- porque as investidas de macho não são nem um pouco sexys. Para eles, era uma questão de um elemento prático para o relacionamento, mais ou menos como respeitar a opção de ser vegana de sua esposa almoçando em lugares veganos — parece que eles chegaram a esse ponto através de compromissos, não de um desejo mútuo.

Perguntei a Roxy como ela fez para anunciar isso ao Rob, de que o sexo não estava funcionando para ela no início. Roxy começou a rir e então ficou em silêncio. Ai meus deus, isso foi bem esquisito. “Cara, eu só tinha visto threesomes em filmes pornôs, então achava que era isso o que eu deveria fazer!” Rob interrompeu. Jogo limpo para o Rob. Pelo menos ele admitiu seus erros. “Eu amo o ponto em que estamos agora”, Roxy finalmente respondeu. Bem esperto, Rox.

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Em seguida, perguntei a respeito da terceira pessoa atual deles. “Ela é muito querida. Muito receptiva e extremamente confiante, o que acho que é o motivo por dar certo”, Roxy afirmou. “Estamos todos muito confortáveis e ninguém está com ciúmes.” Ela parecia um pouco apaixonada. Amém. “Nossos amigos a conhecem como nossa namorada”, ela acrescentou. “Temos um grupo de amigos bem poliamoroso.”

É claro que Roxy e Rob tomam cuidados ao revelar seu arranjo para pessoa de fora de seu círculo de amigos. “Alguns anos atrás, tivemos de apresentar uma terceira pessoa como minha ‘prima’ para uma de minhas colegas de trabalho quando nos encontramos para jantar”, Rob se lembrou. “O que foi muito esquisito.” “E muito sexy”, Roxy acrescentou. “É… eu acho que foi o que deixou isso tudo muito esquisito”, Rob continuou. Senti como se estivessem piscando para mim do outro lado do telefone.

E qual é a maior qualidade necessária em seu terceiro elemento? Perguntei. “É a maturidade, eu acho. Isso é muito importante”, respondeu Rob. Bem, acho que se você for o recheio apimentado no sanduíche de um casal, você precisará destilar certa dose de maturidade. Se eles forem do tipo preocupados em conversar e com sentimentos e coisas de um casamento, você precisará ter a capacidade de acompanhá-los. Somente presenciar as conversas exige uma paciência além daquela de que disponho.

Em seguida, conversei com Ben e Anna, outro casal em que cada um tinha seus motivos para querer um terceiro elemento no relacionamento. “Acho que sou uma pessoa muito sexual”, Anna disse. “E eu sou tipo 75% gay”, acrescentou Ben. “Você se acha 75% gay?”, Anna perguntou, parecendo surpresa. “Depende da manhã. Depende do tempo. Acho que é algo hormonal”, Ben disse a ela. Depois desse choque inicial, Anna relevou isso.

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A terceira pessoa atual deles é descrita como “heteronormativa mas com um passado homoerótico”, que é como eu poderia descrever todos os meus amigos. Anna já dormiu com a terceira pessoa e Ben já planejou fazer isso. Para os dois, tudo bem, contanto que cada um siga firme no arranjo. E, novamente — sendo honesta — não consigo parar de pensar que esses casais estão se exibindo.

Para Ben e Anna, sua incursão no threesome não tem a ver só com sexo, diferentemente dos outros casais com quem conversei. Eles buscam um relacionamento com essas pessoas. “Não queremos só transar com uma pessoa aleatória, quero uma amizade e um relacionamento emocional duradouro. Pense em amizade e química… com sexo”, Anna explica. Então Ben e Anna transam com a terceira pessoa, mas também saem para jantar, o que pode não ser muito legal.

Ben e Anna afirmam que enfrentam muita tensão sexual fora de seu relacionamento, então ter uma terceira pessoa ali ajuda eles a “Ter uma experiência autêntica juntos”. De acordo com Anna, ter uma terceira pessoa fez Ben melhorar muito no beijo. Perguntei a ele se isso era verdade. “Sim, você recebe feedback e então muda sua técnica”, ele disse. Ter uma terceira pessoa pode significar não somente um sexo maravilhoso, mas claramente isso pode significar que existe potencial para trabalhar e melhorar partes importantes do relacionamento e consigo mesmo. Não acho que preciso de uma terceira pessoa para melhorar meu beijo, mas quem sabe — também depois de toda a conversa obrigatória, do acompanhamento e compartilhamento, ter uma terceira pessoa poderá redefinir minha inteligência emocional; então que venham as melhorias!

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O último casal com quem conversei foi Chelsea e Meg, que estão juntas há quatro anos e só recentemente começaram a trazer terceiras pessoas, depois de um grande hiato. As duas se retraíam verbalmente, como me contaram. “Estávamos sob a impressão de que tínhamos tudo, como amor e apoio e um relacionamento incrível, mas que talvez estivéssemos sentindo falta de algo”, ela continuou. “Sentindo falta de algo… como um pinto?”, respondi, fazendo uma careta. “Acho que cogitamos isso. Ugh, eu odeio”, Meg respondeu. Elas convidaram um homem para o relacionamento porque pensaram que sentiam falta de uma rola. O que é uma experiência bastante comum para mulheres bissexuais, e lembro que eu e minha ex tivemos uma conversa parecida quando estávamos aceitando nossa sexualidade.

Meg e Chelsea não falam sobre esse período do relacionamento com muito carinho e, diferentemente dos outros casais com quem conversei sobre essa estranha jornada de descoberta, elas me contaram que ter um terceiro elemento masculino impactou negativamente seu relacionamento — fomentando inseguranças e ciúmes extremos. Depois de quase um ano com Jack, o terceiro elemento, elas o dispensaram, e optaram por trabalhar no relacionamento sem ele. Mas elas desde então tiveram muito êxito montando um trio com uma amiga. Então, por que tentar de novo?

Meg contou que suas inseguranças surgiram por medo de que Chelsea poderia ser hétero, mas que a ideia de abrir o relacionamento para outra mulher era bastante atraente. “Sempre achamos a ideia de um threesome bem sexy”, afirmou Chelsea. “Era como ‘ah, outra vagina — isso é muito tranquilo’.” Para ser honesta, este é, de longe, o sentimento que sinto — o que é mais uma vagina entre amigas?

A terceira pessoa atual delas é uma grande amiga e defensora do relacionamento, e que é extremamente respeitosa do espaço delas. Meg até me conta que ela e Chelsea raramente precisam iniciar conversas intensas depois de terem feito sexo, porque a terceira faz isso por elas. Então, elas têm uma terapeuta de casais sexy com quem elas ainda transam e talvez eu esteja com muita inveja disso.

“Mas então, qual é o segredo?” Perguntei a elas. “O principal é ter um terceiro que seja um acréscimo para um relacionamento satisfatório, não para preencher algum vazio esquisito”, Meg afirmou. “Acho que foi isso que aprendemos com o Jack — nós estávamos fingindo preencher uma lacuna para nós. Enquanto isso, agora somos mais felizes como um casal sem outra pessoas, e a nossa terceira pessoa é uma cereja de um bolo delicioso e feliz.” Já estou gostando dessa metáfora. “Se o bolo não for delicioso, não é a cereja que vai salvá-lo.” Chelsea acrescentou.

Talvez tenha sido o papo sobre as vaginas e os bolos que turvou meu julgamento, mas isso fez todo o sentido para mim, e estou até concordando com tudo, sentindo como se as estrelas estivessem se alinhando em minha mente. “Então… essencialmente, vocês estão fazendo o bolo e o comendo também?” Perguntei. “Pelo amor da analogia com o bolo, vamos dizer que sim.” Obrigada Chelsea, e parabéns ao casal.

Afinal de contas, o que foi que aprendi? Duvido que esteja perto de sentar com minha namorada e decidir se desejamos fazer isso, mas é muito bom saber que existem muitos jeitos de fazer isso, e que tudo bem se não der certo. Meu maior conselho deve ser: não transe com terceiras pessoas a não ser que esteja muito feliz e confortável com seu relacionamento. Mas se der certo, uma terceira pessoa poderá abrir espaço para todo tipo de melhoria em um relacionamento, independentemente de ser construído pela confiança e pela comunicação mútua. É mais barato e sexy do que um terapeuta de casais, para ser sincera, então não é de se admirar que muitas pessoas estejam fazendo isso.

Matéria originalmente publicada na VICE Canadá.
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