FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

​O Segredo Anti-Envelhecimento do Rato-Toupeira-Pelado

O bicho pode ser feio, mas ele aprendeu a eliminar processos de envelhecimentos importantes para garantir uma longa vida.
Crédito: Roman Klementschitz/Wiki

Os ratos-toupeiras-pelados sacaram tudo. Eles não só estão entre as criaturas mais bem adaptadas do planeta, como eles também descobriram como deixar de lado esse negócio de envelhecer (em termos evolutivos). Ou melhor, descobriram como jogar pra escanteio um dos mecanismos centrais do envelhecimento, o acúmulo de proteína inútil que surge e apodrece no corpo como a maré ascendente de lixo e chorume que surgem depois daquela bela festa chamada Ano Novo, no Rio de Janeiro.

Publicidade

Nossos amigos desnudos criaram um jeito de se livrar de todo esse lixo não coletado, resultando em vidas muito mais longas, ao menos em relação a outros roedores. Isso de acordo com uma nova pesquisa publicada no periódico BBA: Molecular Basis of Disease,que descreve um fator celular que protege e guia as atividades do complexo proteico proteassoma, cujo trabalho envolve a digestão química de proteínas restantes. A proteassoma é o catador de lixo, o caminhão de lixo e o incinerador, em outras palavras.

Proteínas são uma moeda de troca essencial para as células, mediando as comunicações entre elas, atuando como agentes do sistema imunológico, fornecendo matéria-prima para estruturas e por vezes servindo como fontes de alimento e energia. Imagine se cada palavra que você já falou, cada pensamento trocado com outra pessoa, fosse feito de meleca biológica. E quanto mais você se comunica, mais daquela meleca se acumula ao seu redor, cada pensamento adicionando mais à pilha que cresce rapidamente.

Ou imagine as pilhas de correspondências antigas no apartamento de um acumulador, aumentando vagarosamente e dificultando cada vez mais a mobilidade do residente naquele apartamento para fazer o que ele precisa para viver normalmente, e bem, sobreviver. As coisas naquela célula-apartamento vão ficando cada vez mais lentas e confusas com o tempo. Esta célula-apartamento pode fazer parte do núcleo pulposo no centro da medula espinhal. Com a progressão de acúmulo de proteínas, não é só aquela célula-apartamento que sofre e sim todas ao seu redor, com o núcleo adotando aos poucos um tom marrom, secando, enquanto a matéria sulfurosa se acumula. Um estudo publicado em 2002 estima que o acúmulo destas proteínas inúteis aumenta ao ritmo de 1% ao ano.

A expectativa de vida de um rato-toupeira-pelado é de 31 anos, quase igual a média humana no início do Séc. XX. Esta longevidade se deve em parte às excepcionalmente robustas proteínas de proteassoma presentes nestes animais que conseguem sobreviver aos sucessivos ataques de venenos contra elas. Esta resistência é permitida por conta de um certo "fator citosólico transferível que impede acompanhantes". Este fator basicamente fica junto das proteassomas, de forma a modular a atividade da proteína coletora. As proteassomas ficam ativas na presença do fator, e são estimuladas a produzirem peptidase, enzimas que rompem as ligações químicas de certas proteínas. Algo como aparecer com um triturador diante das correspondências de nosso acumulador.

A robustez de nossos colegas roedores vai um pouco além, porém, e inclui adaptações um tanto quanto bizarras, como uma incapacidade de sentir dor na pele, "sangue frio", taxas metabólicas e de respiração excepcionalmente baixas, um talento incrível para correr de costas, e dentes mais adequados para cavar na terra do que qualquer outra coisa. Eles vivem de uma combinação de suas próprias fezes e tubérculos encontrados no subterrâneo. É tentador chamar a espécie de super adaptada – imagine um rato-toupeira-pelado em um ambiente um tiquinho diferente – mas é seguro afirmar que a Terra não vai deixar de ter terra adequada para ele tão cedo.

A boa nova é que o fator anti-envelhecimento empregado pelos animais é portátil. Em linguagem científica, "além disso, proteassomas presentes em roedores, humanos e em leveduras expostas à frações citosólicas enfraquecidas do rato-toupeira-pelado, recapitulam a resistência à inibição observada, e as proteassomas de mamíferos também demonstram aumento em sua atividade", explica o estudo. Talvez seja hora de olhar para nossos amigos roedores em busca de promessas de imortalidade (ou ao menos vidas bem mais longas) ao invés de Ray Kurzweil e sua Singularidade.

Tradução: Thiago "Índio" Silva