Dos velhinhos rezou a história no segundo dia do NOS Primavera Sound
Brian Wilson. Todas as Fotos por ANAÏS F. AFONSO

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Dos velhinhos rezou a história no segundo dia do NOS Primavera Sound

Também há quem lhes chame clássicos. Uma coisa é certa, no dia em que as escolhas se faziam entre pop solarenga e ruído infernal, os séniores ganharam quase sempre.

Depois do dia de inauguração, com o ambiente ainda em aquecimento, ligou-se o motor. White Haus, projecto de João Vieira dos X-Wife, deu as bem-vindas aos mais pontuais. Muitos aproveitaram o calor para se sentarem um bocadinho e os mais atrevidos ainda mexeram o rabo.

As influências estão na cara e são transpiradas com competência, falo de toda esta vibe disco-punk Nova Iorquina. Foi um bom começo.

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Destroyer.

A partir daqui, o universo do Festival dividiu-se em duas cronologias paralelas: Os tipos da música tranquila e a malta do ruído. Os duelos começaram a separar amigos pelo seu gosto musical. Mueran Humanos, no Palco . (sim, ponto), com os seus sintetizadores distópicos e crus, tocavam pela hora da psicadélia pop de Cass Maccombs no Palco NOS. Depois, no Palco Super Bock entra Destroyer e no Palco . entra a energia kraut-rock hipnótica dos BEAK>, grupo de Geoff Barrow (o criador de Portishead).

Destroyer aproveitava o sol, enquanto os outros agitavam os corpos. Os outros eram os BEAK>, claro, que entusiasmaram até que - merda! - a coluna do lado direito do palco falhou. A multidão apontava para a coluna e Geoff, na bateria, que continuava com som de palco, olhava intrigado. A música terminou e ele perguntou à multidão se era por causa do sistema de som - "Ah, bem me parecia". Enquanto o problema era resolvido ia falando com a audiência para quebrar o gelo. Passou um drone no ar, "As máquinas querem-nos dominar! Abatam essa máquina!". A música retomou, continuou maravilhosa e nenhum drone saiu ferido.

Dinosaur Jr.

O grande dilema do Festival acabaria por chegar: Brian Wilson, ou Dinosaur Jr.? As contas parecem mais simples do que na verdade são. O Brian Wilson nasceu em 1942 e o J Mascis (vocalista dos Dinosaur Jr.) em 1965. Portanto, é muito fácil de fazer uma simulação e perceber quem vai morrer primeiro. Atenção, não quer dizer que o Brian Wilson não dure mais umas décadas e até podes ser tu a morrer antes de qualquer um deles. O que estou a dizer é que, no reino das possibilidades, o Brian Wilson está em primeiro. Nem que seja pelos danos cerebrais causados por toda aquela droga há 50 anos. O gajo vai tocar o Pet Sounds, um álbum lançado um ano depois do J Mascis nascer. Acho que há mais probalidades do Sr. Wilson nos deixar primeiro.

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Estarei errado? Optei por ir ver o Brian Wilson e passei meia hora a pensar: "Caraças, o J Mascis está ali ao lado". Enquanto esperava por uma cerveja, o vento trouxe-me um excerto da "Out There". O lado negro venceu. Desculpa, Brian. Vemo-nos outra vez? Muito dificilmente, porque já és um bocado velho, mas espero que sim. Os Dinosaur Jr. arrasaram e a minha consciência ficou mais tranquila. Tal como o título da cover que fazem dos The Cure, foi "Just Like Heaven". Finalmente vi crowdsurfing.

PJ Harvey.

Ainda a poeira não tinha assentado, começou a fumegar no Palco Super Bock. Uma parede branca preparava-se para soltar o ruído. Savages abanaram o recinto com um rosnar intenso. Parecia que todo o Festival estava a fumar dentro daquele palco enquanto acendiam luzes ao calhas, mas resultava!

Ao lado, no palco do ponto final, Floating Points pode ser resumindo com: lasers que dão que pensar, música house com influências jazz e músicos do caraças. Começavam eles timidamente, enquanto o barulho de Savages ainda se intrometia na intimidade para um concerto destes. E, por falar, em intimidade. Já não basta PJ Harvey ser uma seca, ainda têm que falar tanto? Sim, vocês que estavam a ver os concertos. Não se podem calar? Como é que querem que eu consiga perceber a PJ Harvey se vocês não param de ter conversas? Amuei e vim-me embora.

Savages.

Os Mudhoney fazem o seu próprio teste de som: punk ou pobre? Quero pensar que é a primeira hipótese. Tocam as primeiras malhas e o pessoal mais velho, que sabia as letras todas, faz air guitar e pula de contentamento.

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O lado do ruído venceu a minha atenção. Quando cheguei a Protomartyr, um tipo ao meu lado desabafava a um amigo que o vocalista parecia um gajo de um pub inglês. Como se fosse uma coisa má. Os vocalistas têm de parecer estrelas de rock? E ainda por cima deram um grande espetáculo. As pessoas nunca estão satisfeitas.

Se nos virem, paguem-nos copos.

Já era tarde e separámo-nos mais uma vez. Uns pelo post-rock dos Tortoise, outros pelo exprimentalismo electrónico de Holly Herdon e muitos pela indie dos Beach House. As pernas doíam, mas a vontade puxava.

A música imperava. Roosevelt trouxe a dança, já perto das três da manhã [Nota do Editor: FESTÃO!]. Os resistentes ainda viram a luz de do dia, já outros dormiam. Hoje paguem finos.

Estes rapazes estão calados. Vêem? É fácil.