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Vice Blog

Conversamos com os Revolucionários de Russell Brand Sobre a Inglaterra "Alternativa" Ideal

Pensando nos primeiros anos de fama do Russell Brand, quando ele apresentava o Big Brother's Big Mouth e fez o "Escola para Garotas Bonitas e Piradas" com a Gemma Arterton, ninguém podia imaginar que veria esse mesmo cara exigindo uma revolução.

Pensando nos primeiros anos de fama do Russell Brand, quando ele apresentava o Big Brother's Big Mouth e fez o Escola para Garotas Bonitas e Piradas com a Gemma Arterton, ninguém podia imaginar que veria esse mesmo cara exigindo uma revolução com mais 50 mil pessoas em frente à Casa do Parlamento. Mas foi exatamente isso o que aconteceu no sábado, numa manifestação contra a austeridade organizada pela Assembleia do Povo em Londres.

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“Essa será um revolução pacífica, alegre e sem esforço”, declarou Brand. “O poder não está ali [na Câmara dos Comuns], mas aqui, dentro de nós. A revolução necessária não é uma revolução de ideias radicais, mas de implementação das ideias que já temos.”

Mas que ideias são essas? Como a marcha era liderada por um faixa que dizia “Chega de Austeridade – Exigimos a Alternativa”, fui perguntar aos presentes no que consiste essa alternativa e como seria essa Inglaterra melhorada deles.

VICE: Oi, Michael. Como você propõe resolver a situação atual?
Michael: Bom, acho que precisamos começar os cortes de cima para baixo. Não entendo por que eles querem cortar de pessoas que não vão conseguir lidar com isso, que vão sofrer para pagar pelos custos básicos de vida e até para se alimentar.

Então o problema gira em torno da divisão das riquezas.
Sim. Acho que o capitalismo surgiu por razões supressivas, mas agora saiu do controle. Os contras do capitalismo se tornaram mais notáveis e aparentes agora. Temos que prestar atenção em como o sistema trata a classe trabalhadora.

E que outras ideologias te atraem, ou você acredita simplesmente numa melhor regulamentação das pessoas que estão no topo?
Acho que o sistema só precisa ser melhor regulado. Quando usado do jeito certo, o capitalismo pode proporcionar uma mudança positiva, não somente ser um meio de gerar o maior lucro possível no menor espaço de tempo, sem qualquer compreensão dos efeitos adversos. Mas não tenho certeza de como isso seria melhor alcançado, já que acredito que os governos não podem simplesmente ser quebrados em estruturas mais simples. Mas sei que eles criaram uma grande divisão entre eles e as pessoas que eles representam.

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Obrigado, Michael.

Você está aqui porque não gosta de como as coisas estão sendo conduzidas. Qual é a alternativa?
Richard: A melhor alternativa é impedir que os ricos fiquem mais ricos e começar a impor taxas à elite global. A corrupção deles está empobrecendo o mundo todo. É por isso que estou aqui, porque as vozes não são ouvidas, e o governo só quer nos mandar para mais guerras em que não deveríamos ter nos envolvido em primeiro lugar. É uma longa caminhada para uma melhora, mas não posso ficar de braços cruzados esperando.

Como essa nova alternativa seria implementada? Você quer dizer um novo partido político ou uma nova maneira de governar inteiramente?
É difícil dizer. Não sou político, então não sei nada sobre as minúcias de um governo, ou como implementar novos sistemas ou partidos que sejam melhores do que os que eles vão substituir. Estou aqui porque estou puto com o estado das coisas, simples assim.

Infelizmente, perdemos a foto do Jon, então vai a de um dos cartazes do protesto.

Oi, Jon. Você está exigindo uma alternativa. Qual seria ela exatamente?
Jon: Acredito no Partido Comunista da Inglaterra. O partido apoia a Carta do Povo, que é um plano econômico alternativo que mostra que é possível ter uma forma socialista de governo.

OK. Mas como você responde a quem argumenta que o comunismo nunca conseguiu realmente se sustentar? Economicamente, isso até ajudou a reconstruir países no passado, mas muitos desses países se tornaram lugares bem desagradáveis de se viver.
Os críticos tendem a encontrar exemplos muito específicos para revisar uma versão diferente da história que eles têm construído. Pensando no partido comunista inglês, ele tem tido muito sucesso em se opor ao fascismo, ao alistamento obrigatório e ao imposto comunitário, só para citar alguns exemplos – além de estar aqui hoje.

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Então, para você, a única solução é o comunismo?
Acho que a solução é uma classe trabalhadora forte e unida. O partido está disposto a trabalhar com outros grupos políticos, como o Partido Verde e o Partido dos Trabalhadores. Qualquer um disposto a colocar os trabalhadores em primeiro lugar, ou que acredite no socialismo, tem algo em comum conosco.

Da esquerda para a direita: Eleanor, Abbey e Clare.

Oi, Clare. Diga o que você acha que precisa mudar.
Clare: Bom, não há um único aspecto das nossas vidas que não tenha sido afetado pelo que o governo está fazendo. Tenho uma filha com Asperger, uma neta com autismo, um genro com problemas de aprendizado, um filho com problemas mentais… Trabalho para o sistema público de saúde e moramos em habitações sociais.

Então você está sentindo o peso total dos cortes.
Sim. A solução não é simplesmente o caso de fazer os corte de cima para baixo, mas o governo tem que reconhecer que algumas pessoas na sociedade vão precisar de auxílio sempre. Você não pode exigir ou ameaçar essas pessoas para que elas trabalhem quando elas não podem sequer mudar quem são. Não podemos demonizar os vulneráveis; isso lembra o que os nazistas estavam dizendo antes de começar o programa T4.

Como exatamente os cortes afetaram sua família?
Meu filho, que é maníaco depressivo, vive na miséria com a namorada porque cortaram seu direito aos benefícios do estado. Meu genro, depois de 18 meses tentando cometer suicídio por causa de sua situação financeira, ainda não recebeu nenhuma ajuda que foi prometida a ele. Minha filha Eleanor, apesar de cuidar de dois membros deficientes da família, tem Asperger e precisa fazer uma avaliação de “aptidão para o trabalho” no mês que vem. Enquanto tudo isso está acontecendo, somos assediados pela Unidade de Famílias Problemáticas para “voltar ao trabalho”. Não somos criminosos, mas estamos sendo tratados como tais.

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O Maurice não quis ter sua foto publicada. Aqui temos alguns guerreiros de classe.

Oi, Maurice. O que trouxe você aqui hoje?
Maurice: Estou aqui porque esse governo está forçando uma austeridade que só afeta os pobres. Sou funcionário do setor público, e não recebemos aumento há anos. Estou aqui hoje porque esse governo está nos fazendo voltar aos anos 1930, e se não tomarmos uma posição agora, não vamos poder tomar uma posição nos anos que virão.

E o que seria uma alternativa melhor?
Primeiro, temos que nos livrar desse governo. Eu não diria que precisamos criar uma nova forma de governo, mas precisamos eleger um governo que realmente represente as pessoas que o colocaram no poder. Esse governo representa a superelite, e eles não se importam em garantir a qualidade de vida da classe trabalhadora. Sou parte do Sindicado de Serviços Públicos e Comerciais, e nós propusemos uma alternativa aos cortes de Cameron.

E qual é essa alternativa?
Sinto que esses cortes não estão abordando o verdadeiro problema, que é a falta de recursos em primeiro lugar. Se as pessoas vão trabalhar, elas precisam ter um salário que as possibilite viver. E em vez de cortar das pessoas que vivem de um salário de cada vez, que têm dificuldade para comprar comida, precisamos olhar para outras áreas onde será possível economizar. Temos que colocar de volta no lugar o que o governo tirou.

Que políticas governamentais fizeram você vir aqui hoje?
David: Bom, acho que esses cortes – especialmente na educação e na saúde pública – são exagerados. Vimos guerras – os conflitos no Iraque e no Afeganistão, além da intervenção na Líbia – que causaram incontáveis mortes e refugiados. Marchar dois quilômetros até aqui faz diferença? Não sei, mas você tem que fazer seu melhor, não? Quero ver o público tomando a propriedade dos grandes serviços. Essa situação toda parece uma conspiração mundial, se é que posso usar essa expressão [risos].

Você está dizendo que existe um escalão mais alto da superelite trabalhando nos bastidores para alcançar seus próprios objetivos?
Eu diria que sim. Sou socialista. Acredito que o povo deve ter a propriedade das necessidades básicas. As únicas que sobraram para nós foram a educação e a saúde, que eles querem – eu acho – tornar privadas também. E parece que eles querem começar outra Guerra Fria – ou mesmo uma guerra quente pelo que sabemos.

Você acha?
Em minha opinião, eles querem ressuscitar a Guerra Fria ou com a China ou com a Rússia. A indústria de armamentos se sai muito bem nessas situações. Se você pensar em todo o dinheiro que foi gasto durante a Guerra Fria e no que aconteceria se tivéssemos gasto isso para melhorar as coisas, provavelmente viveríamos numa utopia. Com as guerras do Iraque e do Afeganistão custando £30 bilhões até agora, é difícil acreditar que eles precisam espremer alguns poucos milhões do sistema público de saúde.

@EuanCoe

Tradução: Marina Schnoor