Novas Leis Antiprotestos Reacenderam as Revoltas na Ucrânia

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Novas Leis Antiprotestos Reacenderam as Revoltas na Ucrânia

Enfurecidos com as novas leis que visam criminalizar os protestos de forma efetiva, os manifestantes entraram em confrontos violentos com a tropa de choque no que já é o maior enfrentamento desde o início dos protestos.

Quando parecia que os protestos da Euromaidan na Ucrânia estavam se acalmando, barulho e violência retornaram às ruas de Kiev durante uma manifestação antigoverno ontem. Enfurecidos com as novas leis que visam criminalizar os protestos de forma efetiva, os manifestantes entraram em confrontos violentos com a tropa de choque. O enfrentamento foi o mais intenso na capital ucraniana desde o começo dos protestos.

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Enquanto a campanha Euromaidan seguia ao longo do Ano Novo e o Natal Ortodoxo (no dia 7 de janeiro), a participação nos protestos caiu compreensivamente. A manifestação inicial, em resposta à recusa do presidente Viktor Yanukovych em assinar um acordo de comercio com a União Europeia em novembro, estava começando a minguar. Não estava claro quanto tempo os manifestantes iriam aguentar, ou qual era a estratégia da oposição além de pedir pela renúncia de Yanukovych. Mas a nova lei — e filmagens farsescas de políticos trocando socos no parlamento ucraniano — forneceu aos oponentes do presidente um novo impulso para lutar.

As últimas semanas foram pontuadas por ataques a ativistas antigoverno em Kiev e outras cidades. Entre eles, o atentado contra Tetyana Chornovol, uma jornalista investigativa conhecida por denunciar acordos escusos de oficiais ucranianos de alto escalão. Nas primeiras horas do dia 25 de dezembro, Tetyana dirigia sozinha para casa depois de publicar um post em seu blog com fotos de uma residência fora da cidade, que ela afirmava pertencer ao ministro do interior ucraniano (o post foi intitulado “Um carrasco mora aqui!”). Um vídeo aterrorizante feito pela câmera do painel do carro dela mostra toda a perseguição; quando o outro carro finalmente a alcançou, ela foi brutalmente espancada e deixada para morrer na beira da estrada.

Chornovol acusou Yanukovych de ordenar o ataque. Ontem, em sua primeira entrevista coletiva desde o espancamento, ela mostrou uma foto de uma enorme mansão em construção, que ela diz pertencer a Yanukovych.

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Enquanto os protestos continuavam na Praça da Independência, outra forma de manifestação emergiu. No “automaidan” (hashtag #автомайдан), vários carros se dirigem até Mezhyhyria, a residência pessoal de Yanukovych fora de Kiev, ou bloqueiam prédios do governo.

A calma relativa acabou na última quinta-feira, quando o parlamento ucraniano aprovou uma série de novas leis que limitam seriamente os protestos. A aprovação foi pressionada pelos partidários de Yanukovych, sem pausa para discussão. E não pela primeira vez, uma briga estourou no parlamento. Mas os procedimentos de votação continuaram e, no dia seguinte, Yanukovych assinou as novas leis aprovadas.

As leis, resumidas neste infográfico em inglês, limitam claramente a liberdade de reunião dos ucranianos. Elas introduzem penas pelo uso de capacetes em manifestações, montagem de barracas e palcos públicos e distribuição de materiais “extremistas”, entre outras atividades. Pessoas dirigindo em colunas de mais de cinco veículos podem perder suas carteiras de motoristas e os carros (com certeza, uma resposta às iniciativas populares “automaidan”). Observadores internacionais foram particularmente visados pela lei — que parece mais uma cópia da lei similar russa de Putin — que rotula ONGs que recebem financiamento de outros países como “agentes estrangeiros”.

“No papel, a Ucrânia agora é uma ditadura”, comentou Timothy Snyder, historiador norte-americano especializado no Leste Europeu, no New York Review of Books. Carl Bildt, o ministro sueco de Relações Exteriores, chamou as novas leis ucranianas de as mais repressivas a serem aprovadas por um parlamento europeu em décadas. Elas “são uma promessa de um futuro sombrio para a nação inteira”, acrescentou a Anistia Internacional.

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As novas leis chocaram os manifestantes e foram condenadas pela oposição. “Elas não têm nenhuma base legal”, disse Vitali Klitschko, o ex-campeão dos pesos-pesados que lidera o UDAR (literalmente, “soco”), um dos três principais partidos de oposição. Parecia que as autoridades finalmente desocupariam a Maidan, um labirinto de barracas e barricadas construídas ao redor de um palco principal na Praça da Independência da cidade. Para muitos comentaristas, as novas leis são um sinal de que Yanukovych está tentando vencer as próximas eleições presidenciais, marcadas para 2015, a qualquer custo.

Descontentes, para dizer o mínimo, com as novas leis, cerca de 100 mil pessoas se reuniram na Maidan no domingo. Alguns manifestantes escolheram responder à proibição de capacetes posando para fotos com escorredores de macarrão de metal e outros acessórios de cozinha na cabeça. Outra lei, que se refere a extremistas mascarados, levou as pessoas a usarem máscaras coloridas de animais.

O domingo, que começou com protestos pacíficos, foi logo consumido pela violência quando radicais enfrentaram a polícia nas proximidades do estádio Dynamo, cerca de 300 metros da Praça da Independência. Um ônibus da polícia foi incendiado. Os policiais responderam com gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água. O Canal 5 da Ucrânia relatou que policiais da tropa de choque despiram e espancaram dois manifestantes usando seus canhões de água neles em pleno frio congelante. Um vídeo (acima) dos eventos de ontem mostra a tropa de choque correndo em direção aos manifestantes, só para fugir logo depois, deixando dois policiais para trás sendo espancados com pedaços de pau ao som do hino nacional ucraniano. Outro vídeo, publicado pela Radio Svoboda, mostra a polícia mirando em um de seus repórteres.

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A luta continuou pela noite, deixando dezenas de cidadãos feridos. Entre a polícia, o número de feridos também foi alto: cerca de 100 policiais procuraram ajuda médica e mais de 60 foram hospitalizados de acordo com o Ministério do Interior. Além disso, mais de 20 pessoas foram detidas.

Falando na noite de domingo para o hromadske.tv, um canal de notícias, Klitschko repetiu seu pedido pelo adiantamento da eleição presidencial. Respondendo a uma questão sobre os eventos do dia, ele disse: “O que eu deveria fazer? Usar minhas habilidades de esportista?”. Klitschko mencionou a possibilidade de “guerra civil” mais de uma vez durante a entrevista.

Uma declaração da Casa Branca chamou o aumento da tensão na Ucrânia de uma “consequência direta” da recusa do governo em ouvir as exigências do povo. “Desde seu primeiro dia, o movimento Maidan foi definido por um espírito de não violência e apoiamos o pedido dos líderes da oposição para restabelecer esse princípio”, acrescentando que os Estados Unidos estão considerando medidas em resposta à violência, incluindo sanções.

Na manhã de hoje, muitas pessoas ainda estavam ao redor da rua Hrushevskoho, onde os piores combates aconteceram. Parte do pavimento foi quebrado e usado para atacar a tropa de choque. O ônibus da polícia incendiado na noite anterior ficou decorado de forma sinistra com pingentes de gelo.

Enquanto isso, o governo ucraniano mostrou que estava acima das manchetes do final de semana, começando o dia com o seguinte tuíte: “Parlamentar Mykola Azarov: Há uma perspectiva de desenvolver a indústria [ucraniana] de açúcar”.

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