Mossless In America: Eva O'Leary e Harry Griffin

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Mossless In America: Eva O'Leary e Harry Griffin

Eva O'Leary e Harry Griffin são fotógrafos que trabalham juntos. No ano passado, eles financiaram um projeto chamado Devil's Den para fotografar atores e espectadores da encenação comemorativa de 150 anos da Batalha de Gettysburg.

A Mossless in America é uma coluna que apresenta entrevistas com fotógrafos documentais. A série é produzida em parceria com a revista Mossless, uma publicação fotográfica experimental comandada por Romke Hoogwaerts e Grace Leigh. Romke começou a Mosslessem 2009 como um blog em que ele entrevistava um fotógrafo diferente a cada dois dias. Desde 2012, a revista já teve duas edições impressas, cada uma lidando com um tipo diferente de fotografia. A Mosslessfoi destaque na exposição Millemmium Magazine, de 2012, no Museu de Arte Moderna de Nova York, e conta com o apoio da Printed Matter, Inc. A terceira edição, um volume dedicado à foto documental norte-americana dos últimos dez anos, é intitulada The United States (2003 – 2013) e foi lançada recentemente.

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Eva O'Leary e Harry Griffin são fotógrafos que trabalham juntos. No ano passado, eles financiaram um projeto chamado Devil's Den usando o Kickstarter. Nesse projeto, eles fotografaram atores e espectadores da encenação comemorativa de 150 anos da Batalha de Gettysburg. As sobreposições dentro das imagens deles desnudam as diferenças entre aquela época e a de agora. O projeto está na terceira edição da Mossless. Falamos com a Eva e o Harry sobre preconcepções tiradas dos livros de história, financiamento coletivo como estratégia de autopublicação e a natureza da colaboração.

Mossless: O que fez vocês quererem fotografar a encenação de Gettysburg?
Eva e Harry:A ideia evoluiu de um interesse compartilhado. Tínhamos falado sobre colaboração antes, mas estávamos esperando pela ideia certa. Uma família conhecida nossa tinha participado da encenação antes e estava falando em voltar.

Gettysburg é uma cidade de 7.645 moradores. Uma vez por ano, na última semana de julho, aproximadamente 50 mil pessoas chegam do mundo todo para ter um gostinho da glória, fascinação e nostalgia da guerra travada em 1863. Ano passado foi o aniversário de 150 anos da batalha, e o evento foi particularmente grande.

O que mais surpreendeu vocês no evento?
A primeira vez que fomos ao Walmart e vimos um atirador rebelde comprando papel higiênico.

Livros de história, a internet e o boca a boca nos levaram a Gettysburg com noções preconcebidas. A escala da batalha foi impressionante, mas nada se compara aos espectadores. Eles eram incríveis.

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Vocês financiaram esse projeto através do Kickstarter. Como foi isso?
Levantar dinheiro é difícil! Sem o Kickstarter, o projeto nunca teria saído do papel. Devil's Den foi concebido originalmente como um livro, e o dinheiro deveria ir para a produção e publicação. No final, o [cheque] caução nos levou à Pensilvânia, permitiu que a gente ficasse uma semana inteira lá e nos deu liberdade financeira para fazer fotos. Ainda estamos no processo de publicação do livro.

Como foi a infância de vocês?
Eva: Meus pais eram pintores que se conheceram na faculdade em Chicago. Fui criada entre duas culturas, com pouco dinheiro, mas educada com um senso de coragem e fé na moeda das artes. Eu era uma criança de duas identidades: dois sotaques e dois sobrenomes. Metade do ano eu passava na Irlanda, o país da minha mãe, onde era encorajada a rejeitar meu DNA americano. Eu era uma mutante e uma observadora sensível, adotando a fala e a linguagem corporal de qualquer país onde eu estava.

Harry: Nasci e fui criado no Sul da Flórida, com o Everglades do outro lado da rua. Parte da minha família era devotada à indústria do cinema, uma carreira obsessiva e consumidora. Quando eu tinha sete anos, minha tia me escalou como extra no filme Ace Ventura: Detetive de Animais, mas a cena foi cortada. Houve uma época em que eu assistia aos VHS dos filmes do meu avô, maravilhado e aterrorizado ao mesmo tempo com o conteúdo.

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Como as mudanças culturais dos últimos dez anos afetaram vocês pessoalmente?
Eva:A Irlanda se transformou completamente do país que conheci quando era criança; ficou quase irreconhecível. Cresci no meio da explosão bancária irlandesa dos anos 90, uma época de crescimento rápido e gastos desenfreados. Por um breve período, o país foi o segundo mais rico do mundo. No verão passado, voltei até lá para visitar minha família pela primeira vez em quatro anos. A paisagem contemporânea era diferente do que eu me lembrava. Há um sentimento claro de traição pelas promessas quebradas do capitalismo. Fiquei imaginando: como um país que sobreviveu à colonização, fome e pobreza pode ser derrubado por excessos capitalistas?

Harry: Minha mãe, que era secretária de um cirurgião plástico, perdeu o emprego no mês passado. Ela trabalhou lá por dez anos e foi demitida por tentar salvar uma vida. Ver a luta dela como uma mulher solteira desempregada de 55 anos é muito triste. Esse é um sistema muito falho para quem não tem fundos fiduciários.

Como essa coisa de fotografar em equipe funciona?
Trabalhar juntos foi algo que veio naturalmente. Conhecemos e respeitamos o trabalho um do outro e reconhecemos nossas forças e fraquezas. Mas percebemos uma coisa difícil quando começamos a mostrar nosso trabalho online. O que começou como uma emoção sincera se transformou em frustração quando a atribuição foi dada a uma só pessoa. É algo pelo que você tem que lutar, especialmente na era da mídia digital.

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Preocupamo-nos profundamente com o trabalho e nos devotamos a ele tanto quanto à prática individual. Devil's Den é dividido meio a meio. Tínhamos duas câmeras e nunca revelamos quem tirou o quê. Tivemos a ideia de amigos da família da Eva, Ken Graves e Eva Lipman. Eles são uma equipe colaborativa que faz a mesma coisa.

O que fez vocês juntarem forças?
Admiração e respeito mútuos.

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Tradução: Marina Schnoor