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Sophie Hyde: Meu corroteirista, Matt, teve a ideia. "Vamos fazer um filme chamado 52 Tuesdays, onde toda terça-feira duas pessoas se encontram e nós filmamos só nas terças." E eu disse: "Isso é loucura! Mas também muito interessante". A forma veio primeiro e só depois exploramos qual poderia ser a história – fomos escrevendo o roteiro com o tempo.Você só deixava os atores verem suas falas uma semana antes da gravação, certo? Por quê?
Não demos o roteiro aos atores porque teríamos um ano de filmagem pela frente, e sentimos que o elenco ficaria entediado se soubesse a história o tempo todo. Era um longo tempo para investir nisso, para ser real dentro disso e não antecipar as coisas.
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Para o James, estávamos procurando alguém que já tivesse compartilhado uma experiência parecida e acabamos com Del Herbert – Jane. O ator que interpreta o James, na verdade, é muito diferente do James personagem; James é um homem transgênero, Del não se identifica com um gênero. Nem ele nem ela, apenas Del. Bem diferente do nosso personagem na verdade. Mas acho que há uma experiência compartilhada aí, o que era importante.Fizemos muita pesquisa, olhamos para a diversidade da comunidade de gênero e isso foi fascinante e esclarecedor para nós. Ao mesmo tempo, tínhamos que pôr algumas coisas de lado e pensar no James como um personagem feito de muitas coisas – incluindo ser uma mãe, ter uma certa idade e ser um certo tipo de pessoa. Tínhamos que colocar de lado a ideia de que estávamos representando a comunidade transgênero e criar um filme sobre uma pessoa.Os pronomes usados para se referir ao James variam muito entre os personagens, o roteiro era fixo ou algo que foi mudando?
Isso foi mudando porque fazíamos ensaios três vezes por semana, então era uma colaboração entre o elenco e o Matt, nosso roteirista. Em termos de pronome, o pai, Tom, usa "ela" bastante, e queríamos abordar isso sem tornar uma coisa importante demais. Nem sempre é fácil fazer isso direito, mesmo quando a pessoa está tentando. Se você viveu com uma pessoa por 20 ou 25 anos, é realmente difícil mudar um pronome.
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Acho que ser pai, em qualquer momento – se você está tentando viver não apenas como uma mãe ou um pai, mas como pessoa – é sempre complicado. Acho que a história de alguém que está fazendo a transição dramatiza essa complicação em alguns pontos. Quanto tempo você gasta em ter certeza que está feliz e vivendo autenticamente, não vivendo apenas para o seu filho?A adolescência de Billie coincide com a transição da mãe. As duas estão fazendo uma transição de certa maneira…
As duas estão passando pela puberdade! É lindo como uma criança vê isso, mas acho que também coloca a pergunta de quem você realmente é. Se uma pessoa que você conheceu não é o que você achava, você logo pensa: "Quem diabos sou eu?"
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Enquanto você cresce, há momentos onde percebe que o que faz tem consequências. O mundo exterior entra e diz: E se isso cair na internet? E se outras pessoas virem? E se isso destruir sua vida?Isso pode parecer muito deprimente, mas, ao mesmo tempo, nenhum deles realmente divulga o vídeo. O centro disso é que todo mundo pensa que essa é a pior coisa que pode acontecer com alguém, a pessoa ser vista na internet sendo sexual ou nua, mas há coisas muito mais terríveis que podem acontecer com todos nós, então por que temos tanto medo da nudez?Gostei de como a Billie e sua mãe filmam aspectos de suas vidas. Por que você escolheu incorporar isso?
Acho difícil não usar essas coisas hoje, numa história moderna. Estamos interessados em ver o que acontece na comunidade trans – onde as pessoas gravam a mudança. Gostamos da ideia de que James registrasse isso para ver se podia ver a mudança, e que Billie espelhasse esse processo –que ela também quisesse revelar coisas em filme e gravá-las.Comecei trabalhando com documentários – onde você se senta atrás da câmera e tem o privilégio de fazer perguntas às pessoas – então isso entrou naturalmente no filme.Quando Billie mostra um trecho de um vídeo e pergunta ao público "O que é uma vida autêntica?", era isso que você queria – fazer o público se perguntar o que é uma vida autêntica?
Com certeza havia esse desejo das pessoas poderem se conectar emocionalmente com o filme, mas também pensar em suas próprias vidas. Se fazer perguntas como: "O que você faz o ano inteiro? Como você reage aos outros?" O que você quer é que as pessoas assistam o filme, falem sobre isso e sejam parte da conversa.Obrigada, Sophie.52 Tuesdays está sendo lançado hoje pela Peccadillo Pictures.Tradução: Marina Schnoor