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Cláudio Rodrigues

Como um passarinho nas nuvens de Guimarães

A gróia a andar de balão.

Isto é tudo muito bonito e, à partida, gróia até parece uma coisa simples, mas por mais que tu adores a tua cidade — e, neste caso, “a tua cidade” é muito mais do que um limite geográfico —, é sempre complicado partilhares com todos aquilo que tu queres preservar, que queres manter, que não queres que ninguém, no mínimo, te roube ou, no máximo, te estrague. É o contrário de inveja, não é pecado. Deve ser uma doença. Ser vimaranense é uma cena complicada: ou nasces cá e não tens hipótese, ou vens viver para cá e não consegues escapar deste sentimento.

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Eu nasci aqui, não tive hipótese. O jeito que me falta para escrever compenso-o com lamechices. A verdade é que, estando cá diariamente, a maioria das vezes nem reparo no que me rodeia. Tenho a sorte de viver na margem Sul da cidade, do outro lado da linha de comboio, o que me permite, ainda hoje, ver coisas pela primeira vez. É como se vivesses em frente ao computador, com o YouPorn nos favoritos, e a seguir fosses assistir à rodagem do filme. Melhor ainda, é como se fizesses parte do elenco! É mais ou menos isto: sentires-te tão deslumbrado que te sentes a levitar. Este texto é sobre Guimarães vista da perspectiva de quem está a levitar. Não tenho asas, por isso fui sacar imagens ao workshop ,)feito pelo James Bridle,) no âmbito do mapeamento comunitário com balões, promovido pelo LCD, um projecto da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. Sim, gróia também é viveres numa cidade deste tamanho e, ainda assim, seres Capital da Europeia da Cultura. Isto é uma representação dos balões. O James Bridle começa a ser repetente em Guimarães. Em Maio já cá esteve para outra oficina de mapeamento: imprimiram mapas do Google e, no terreno, desenharam percursos não-mapeados, corrigiram outros mal traçados e representaram, no mapa, objectos com interesse cultural (como tanques públicos, edifícios abandonados ou a antiga zona de curtimentas de Couros). Os resultados estão aqui, caso queiram espreitar. Desta vez, o mapeamento fez-se recorrendo a fotografias com uma engenhoca de uma câmara fixada a um balão. Imaginem: engenhocas (fixe), mapas (boa cena), fotografia (excelente) e Guimarães (topo) — estou conquistado! Isto é parte da engenhoca. No texto que escreveu sobre o workshop, o James Bridle fala sobre o processo de montagem destas engenhocas e também de algumas limitações, bem como das soluções encontradas para resolver esses problemas. Este gajo tem mesmo uma personalidade de investigador, daquele que arregaça as mangas e faz as coisas acontecer. E, ouro sobre azul, não é invejoso: partilha as cenas com todos. Do tipo manual de instruções e resultados obtidos. São milhares de imagens de Guimarães, de domínio público, prontas para download legal. Ainda há pessoas boas no mundo. Das milhares de fotos partilhadas, fiz uma selecção para vos mostrar e aproveito para comentar. Estou aqui para vos fazer a papinha toda. Começo pelo Toural, o local mais em voga nesta Capital. Isto é o mapa do Centro Histórico do Toural. Toda a gente está convencida que a internet é super rápida e que o Google é deus. Não estão totalmente errados, claro, e é por isso que sou ateu. As obras do Toural já acabaram há meses e o Google Maps ainda não actualizou. Assim, e pela primeira vez, é possível ver com detalhe o desenho da Ana Jotta para este sítio e identificar com exactidão os locais deste mapa (mais um). Uma fotografia útil, portanto. Isto é o Ricardo com luvas. Das milhares de fotos que saquei, outra que destaco é aquela que mais próxima se encontra do chão. Neste caso, é uma foto fora do baralho porque estamos longe de estar a levitar, só que é impossível não fazer referência ao CAAA, Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura, aqui representado pelo Ricardo (um dos seus fundadores). Uma metáfora da sintonia entre trabalho e fixeza. Isto é uma praça. Esta é uma imagem da nova praça de Couros, um local de Guimarães reabilitado no conjunto das obras para a Capital Europeia da Cultura. A praça está sobre uma antiga zona fabril de curtimenta, agora transformada em espaço público, e tem contado com iniciativas promovidas pela população local. Festas de arromba e tudo (dou-vos a minha palavra). Da última vez que lá estive, bebi à borla a noite toda. Isto são os chafarizes em época balnear. Destaco ainda o Fountain Hacks, um dos projectos vencedores do concurso internacional promovido pela Guimarães 2012, o Performance Architecture. Projectadas pelos Like Architects, estas intervenções nos chafarizes da cidade convidam o pessoal a umas banhocas em locais públicos. E é mesmo engraçado estar a stressar no trânsito e ver os turistas tipo lagostins, ao nosso lado, a chapinhar na água. Isto é o Vila Flor e os seus jardins. O Centro Cultural Vila Flor, aberto há poucos anos, já é um local incontornável de Guimarães. Em 2012 alberga também, no Palácio Vila Flor, o centro operacional da Guimarães 2012. No entanto, destaco a fotografia para fazer referência aos jardins, um local especial com vista sobre o Centro Histórico de Guimarães, que acolhe o festival Manta, este ano com concertos gratuitos de Russian Red (quinta-feira 26, às 23h) e Nite Jewel (sexta-feira 27, às 00h). Isto é parte do castelo. Para terminar em grande, uma foto do castelo. Fotografado a horas decentes — antes dos atrevidos convites que a penumbra costuma trazer — o ex-líbris vimaranense é o símbolo em que todos se revêem. Ao contrário do que as más línguas dizem, o castelo permanece igual ao original e é impossível negar que é feio. Isto é o fim do Centro Histórico e também o fim deste texto.