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Choca aí, Obama: tens mais quatro anos para tentar

O Barack continuará na Sala Oval, com uma bandeira em torno da piça.

Michelle, levas um abraço, porque continuas a ser a primeira-dama. Ontem à noite, tal qual boa parte dos meus amigos no Facebook (porque não os tenho na vida real), acompanhei na internet e por zapping televisivo as eleições presidenciais norte-americanas, até me encher de sono e adormecer na ânsia de saber o vencedor. Hoje, acordo e a primeira coisa que faço é aceder aos websites de jornais para dar de caras com: OBAMA
REELEITO
POR
MAIS
QUATRO
ANOS! Claro que, como aparentemente todos os europeus, eu estava à espera que o Obama ganhasse: não porque sinta que ele irá mudar o que quer que seja (porque não vai), não porque ele tenha adoptado políticas de cariz social-democrata de esquerda (porque não o fez), não porque, agora que foi reeleito e existe todo um largo historial de presidentes norte-americanos que só começaram a trabalhar a sério no segundo mandato, seja o herói de que o mundo precise para avançar (porque não o é). Não, eu esperava que o Obama ganhasse por um motivo mais fútil, mais interessante, mais troll — o tipo tem swag. E, como todos os tipos com swag, nós desejamos segui-los, emulá-los, elevá-los ao mesmo panteão dos deuses da masculinidade. Fora isso, ninguém tem realmente grandes razões para estar satisfeito com a reeleição do gajo. As presidenciais norte-americanas, e vocês já o deveriam saber em vez de fazer filas para comprar iPhones, não se tratam de batalhas entre o bem e o mal, entre os totós dos republicanos e os mariquinhas dos democratas: as eleições norte-americanas, como as nossas, como as da Coreia do Norte (*riso abafado*), como as de qualquer aldeia africana remota, limitam-se a ser uma máscara para o que realmente acontece — um tipo que não conheces de lado nenhum irá controlar os destinos da tua vida durante uma quantidade específica de tempo e não há nada que possas fazer acerca disso. Não, nem a malta libertária, tão em voga hoje em dia por via do swag mínimo do Ron Paul, apresenta uma alternativa viável. Claro: ele pode controlar-nos melhor ou pior, mais afincadamente ou mais na descontra, mas, no final de cada dia, estaremos a regressar do nosso trabalho, fodidos de cansaço e com uma miríade de contas por pagar para as quais simplesmente não temos dinheiro, e ele estará na Sala Oval, com a bandeira em torno da piça enquanto duas ex-modelos cocaínadas lhe fazem felácios à vez. Parabéns, América: acabas de votar para eleger o chulo que queres que te explore. Talvez esteja a ser demasiado anarquista, demasiado revoltado, demasiado adolescente neste texto (dormi e acordei mal, acreditemos que noutra ocasião seria mais simpático), mas, tal como os Sex Pistols em 1977, eu não vislumbro um futuro. O mundo acabou. Rasguem tudo e comecem de novo. Quero que metam os partidos, os políticos, as ideologias, todas essas merdas destruidoras de neurónios dentro de uma caixa gigantesca e que as enviem para uma galáxia distante, para dentro de um buraco negro ou para o sol, para que se extinga e para que nunca mais ouçamos falar delas, para que possamos, simplesmente, viver a vida sem um filho da puta qualquer a prometer-nos mundos e fundos enquanto nos cobra impostos até sobre os bocados de merda que nos ficaram presos aos pêlos depois de cagar. Para que uma árvore possa crescer e dar fruto que alimente vinte pessoas, e não seja encaixotada com um logótipo e exportada para um país pleno de dívidas. Para que se possa caminhar na rua e, num rasgo de felicidade, beijar a pessoa mais próxima sem que sejamos acusados de agressão sexual, autismo ou esquizofrenia. Para que Deus possa voltar a ser uma ideia interior, e não um eleitor psicopata. Oh, saudosa utopia. Visto que não podemos fazer mais nada senão suspirar e resignarmo-nos, siga, pelo menos, listar o que de minimamente bom se retira da reeleição do Barry O.: a casa branca continuará a ter um nome por agora altamente irónico; o Meat Loaf e o Kid Rock vão tornar-se ainda mais irrelevantes no século XXI, enquanto o Jay-Z porá no mundo mais umas quantas malhas do caralho (e, muito provavelmente, outro filho); os republicanos, principalmente os extremistas, continuarão a dizer coisas absurdas no que ao aborto, à religião, às mulheres diz respeito, impelindo ondas e ondas de activismo cibernético, soundbytes para moldar e transformar e ouvir repetidamente, memórias futuras em que numa conversa casual alguém dirá: “Ei, lembras-te quando aquele tipo disse aquela coisa estúpida?” Os democratas continuarão a ter piada porque seguirão choramingando a sua falta de capacidade para fazer alguma merda, enquanto apontam o dedo ao menino mau que reteve controlo da câmara dos representantes e que não o deixa trabalhar; os portugueses continuarão a mostrar-se incrivelmente interessados numas eleições que (apesar de tudo) não lhes dizem tanto respeito quanto isso, ao mesmo tempo que se inclinam para o voto democrata enquanto, por cá, continuam a lamentar que o PS e o PSD são os dois a mesma merda; os jornais, cada vez mais obsoletos por contraste com o Twitter, continuarão a apostar em bugigangas electrónicas para conquistar o apreço e a atenção dos espectadores como se estes fossem crianças de seis anos (estou a olhar para ti, CNN, a cada dia que passa te tornas mais ridícula); o Nuno Rogeiro continuará a ter um emprego; o Canadá continuará a ser o melhor país daquele continente. Tudo belo. Tudo hilário. Tudo merda. FOUR MORE YEARS!