FYI.

This story is over 5 years old.

praia

A praia aqui tão perto: a banhos com a Brooke Shields

Como apanhar sol em Guimarães sem incidentes.

Quando era miúdo, tinha uma admiração super especial pelo pai do meu vizinho. Ele economizou dinheiro durante anos e acabou por comprar uma Ford Transit com jantes especiais. Na minha inocência de meninez, perguntei ao meu amigo por que é que o pai tinha comprado um furgão de três lugares à frente, com uma grande bagageira, se eles eram cinco (pai, mãe e três filhos) e o carro era para percurso urbano. O rapaz deu-me a resposta mais óbvia — é para ir para a Póvoa de Varzim no mês de Agosto. Assim, fiquei a saber que o meu vizinho tinha apostado tudo num bólide, que podia carregar uma tonelada e tinha quase três metros cúbicos de área interior, para a peregrinação anual da família. Nos últimos dias de Julho, era vê-lo a empacotar colchões, malas, lancheiras, guarda-sóis, fogareiros e até um frigorífico no rabo da Transit. Os miúdos faziam a viagem atrás, no meio da parafernália, sentados em cadeiras de praia agarrados à dita arca, provavelmente. E o meu amigo lá me explicava que, apesar de eles alugarem um quarto/room/chambre/zimmer poveiro, o veículo era fantástico, pois havia a vantagem de, se tivessem visitas alguém podia dormir na carrinha, num dos colchões que eles transportavam precavidos. Durante muitos anos foi assim: chegava a época balnear e milhares de vimaranenses tinham de migrar, à procura de melhores paragens, onde pudessem molhar os joanetes cansados. Era o que acontecia às gentes de Guimarães que sempre sonharam com Cancun, Biarritz, Cannes e Caxinas, pelo facto da cidade não ter praia. Era ir ao Passeio Alegre e ver os vimaranenses a entrar na água, facilmente identificados pelas suas camisolas de contrafacção made in Guimarães. Acabavam por amanhecer nas cálidas águas poveiras, agarrados ao suporte da bola de Nivea para não serem levados pelo Atlântico. A solução chegou este ano, graças à Capital Europeia da Cultura, com o projecto "Fountain Hacks".  O Pedro Gadanho, responsável do Performance Architecture — um concurso internacional de ideias que selecionou esta e outras propostas para intervenções urbana — contou-me que esta intervenção é apenas “uma estratégia de apropriação hackiana das fontes da cidade”, mas para mim é o paraíso, um sonho realizado. Como foi possível? O estúdio de arquitectura LIKEarchitects e o estilista Ricardo Dourado entraram na onda e propuseram, neste contexto, introduzir “objectos que transformam as fontes em piscinas e que promovem, durante o Verão, o uso dos locais que antes eram só de contemplação, como espaços lúdicos”. Por isso, Sereias, aqui vou eu! Como muitos vimaranenses, sempre defendi a inclusão de uma frente de praia, de um cais, de um porto, ou até de um pequeno ancoradouro no mobiliário urbano da cidade, mas agora, quando chego ali ao topo da Avenida Conde Margaride e olho para o espelho de água em frente à escola secundária de Guimarães, penso que estou em Phuket! Como é comum na Tailândia, vislumbro uma esplanada na praia de águas verdes e rasas a perder de vista. Finalmente, o sítio ideal para molhar os calcanhares e lavar a micose à entrada da cidade, ou pedir um fininho e mandar vir uma pizza — das de mota — do estabelecimento em frente, usufruindo do rápido serviço de entrega. As zonas de banhos não acabam por aqui. E, se fores como eu (um nadador de fundo), deves preferir ir ao largo João Franco. Tens acesso facilitado à zona de mergulho e podes sempre atirar-te de cabeça para começar a exploração submarina. Mesmo ali ao lado, tens um posto de vigia com bóia e equipamento de salvamento. Para finalizar, o chapeuzinho no copo de cocktail das praias vimaranenses: a praia ali em Creixomil em frente ao Hospital de Guimarães. O cenário do arvoredo atrás da esplanada traz-me logo à cabeça as imagens do Lagoa Azul. E só apetece estar lá, no meio da selva à procura da Brooke Shields semi-nua, a lavar-se no rio de Couros, enquanto sorvo uma cola comprada no centro comercial de Guimarães — e vejo o meu vizinho a passar na rodovia, que, com o devir dos tempos, comprou uma pick-up para ter mais capacidade de carga em altura. Fotografias de Dinis Sottomayor