As ilustrações de Toshio Saeki mostram fantasmas aterradores e sexualidade grotesca

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As ilustrações de Toshio Saeki mostram fantasmas aterradores e sexualidade grotesca

A ausência de limites morais na obra do artista japonês é tão grande como a sua criatividade. Ninguém fica indiferente à violência, às parafilias e às criaturas aterradoras de Saeki.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

A ausência de limites morais na obra de Toshio Saeki é tão grande como a sua criatividade: violações, copofragia, incesto, zoofilia e sexo com criaturas aterradoras. Do alto dos seus mais de 70 anos, o artista japonês é herdeiro da tradição japonesa que celebra a união entre o monstruoso e o magnificamente belo. O terror que os seus desenhos provocam fica-nos gravado na mente e pode ser muito difícil de apagar.

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Sem qualquer tipo de pudor, Toshio Saeki retrata os tabus mais obscuros do ser humano, reproduzindo-os de uma forma ao mesmo tempo escandalosa e elegante, graças à delicadeza dos seus traços. De uma forma muito directa, as ilustrações colocam-nos várias questões e perturbam-nos, sem que consigamos saber exactamente porquê. Porque é que é sinistro ver um bebé com um sorriso maléfico? Saeki tem a resposta. Ao combinar o estranho com o que se conhece, surge o sinistro.

A editora Cornélius acaba de editar a primeira antologia mundial dedicada à obra de Toshio Saeki, Sonho Escarlate. Por esse motivo, reunimo-nos com o artista para sabermos mais sobre a sua obra.

VICE: Parafilias, violência… É sabido que não tens respeito pelas "normas morais" instituidas. Há algum tabu que não te atrevas a desenhar?

Toshio Saeki: A criatividade não deve ter limites. Mas, no fim de contas, sou humano, igual aos outros. As questões éticas e morais preocupam-me e influenciam o meu trabalho.

Geralmente, o público tende a relacionar a obra com o seu autor. A tua obra já te causou problemas?

Na verdade, não. Bem, houve uma altura em que as pessoas me pediam para as atar e coisas do género. Nunca sabia como responder-lhes.

Alguma vez foste censurado?

Quando era jovem, a polícia chamava a atenção às revistas que publicavam as minhas ilustrações. Quando acumulavam várias advertências, as autoridades proibiam-nas de lançar novas publicações.

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Os teus desenhos são perturbadores e majestosos. Como fazes para combinares terror, humor e beleza?

Esta mistura entre o belo, o feio e o atroz é o coração da minha obra. Não acho que algo feio possa ser ao mesmo tempo magnifico apenas graças à técnica. A natureza do artista reflecte-se nos seus desenhos e dá-lhes uma nova dimensão. No que diz respeito ao humor, acho que é porque sou de Osaka, uma cidade famosa pelo seu sentido de humor. As pessoas de lá estão sempre no gozo.

As tuas ilustrações fazem com que quem as vê sinta que está perante uma cena de terror. De onde vem esse sentimento?

A minha obra inspira-se nos pesadelos da infância e nos fantasmas extremos da adolescência. Estas imagens continuam gravadas na minha cabeça e reaparecem de forma exagerada.

O teu trabalho é também uma espada de dois gumes. Por um lado, convidas o espectador a participar, a tornar-se cúmplice e, por outro, acaba por converter-se numa vítima do que vê.

É uma perspectiva interessante. Se o espectador se torna cúmplice, ou vítima, depende apenas da sua própria sensibilidade.

Hoje em dia parece que o sexo e a violência são omnipresentes, que faz com que seja complicado causar impacto nas pessoas, porque nada as surpreende. Apesar disso, as tuas ilustrações parecem não deixar ninguém indiferente. Porquê?

Na minha opinião, é importante revelar os sentimentos ocultos no mais profundo do nosso ser. Não me preocupa se estou a incomodar as pessoas. O que quero demonstrar é que todos temos algo doentio que vive no nosso interior.

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Ouvi dizer que vives perto das montanhas. Porque é que decidiste afastar-te da cidade?

Primeiro, porque as rendas em Tóquio são caríssimas. Além disso, porque queria mudar o que me rodeia para procurar novas inspirações. Isto não influencia as minhas ilustrações, mas permite-me observar as cidades a partir do exterior e questionar a época em que vivemos, tão cheia de incertezas.

Já te percebi melhor. Obrigado.