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Lost in Translation

Fomos ao Japão ver se D. Afonso Henriques era um samurai

Guimarães e Tóquio são assim tão diferentes?

Os portugueses têm muita coisa em comum com os japoneses. Para começar, Afonso Henriques era uma espécie de Samurai. Um lutador que tinha uma farrapeira esquisita e que andou de espada comprida pelo Condado Portucalense a desancar em tudo e em todos, inclusive na própria mãe.

Outra coisa que temos de próximo com esse povo é o que está escrito nos livros. Assim, é facto histórico que no ano de 1543, nós, portugueses, fomos os primeiros europeus a chegar ao Japão, quando arribámos à ilha de Tanegashima. Agora, no ano de 2012, a saga continua pois, qual conquistador, fomos à maior e mais gorda ilha do Japão comprovar como, passados 470 anos de lá termos chegado, eles ainda não sabem fazer sardinha na brasa e, por isso, continuam a comer o peixe cru. Um ou dois prédios são maiores que a Torre de Menagem. No Japão, decidi começar pela capital e, sendo assim, passo a dizer que Tóquio é uma cidade um pouco maior que Guimarães. O cenário não intimida um vimaranense, mas quem vem da cidade berço tem de se preparar mentalmente para compreender que eles têm alguns prédios maiores do que a Torre de Menagem, ou até mesmo do que o edifício do Hotel Fundador. Outra das coisas que eles têm é um sistema de metro e comboio razoável, (têm até um sistema que se chama Shinkazen — comboio bala, uma espécie de comboio Guimarães-Porto, mas sem paragens em Covas, Nespereira, Vizela, Pereirinhas, Cuca, Lordelo, Giesteira, Vila das Aves, Caniços, Santo Tirso, Lousado, Trofa, Portela, São Romão, São Frutuoso, Leandro, Travagem, Ermesinde, Águas Santas, Rio Tinto e nem sequer em Contumil pára…). Uma espécie de expresso Guimarães-Porto. Apesar destes transportes óptimos, mesmo assim, os japoneses andam muito de bicicleta. A cidade é minimamente plana e, por isso, não se intimidam como nós a pedalar, porque não têm de subir a Penha para fazer umas comprinhas do dia. O que pensei logo foi — assim é fácil, não bebem álcool porque têm uma enzima que faz com que não aguentem uma cerveja, eles comem um arrozito, levezinho, fácil de digerir e pedalam por aí fora. Queria vê-los a comer uma vitela à minhota, com dois jarros de verde tinto e conduzir uma bicicleta do Teleférico ao Toural. Caíam ao rio de certeza. E, sim, nesse percurso há pelo menos um rio nas Hortas, que apesar de não ser o Douro nem o Tejo, não aconselho a cair lá. Andam de bicicleta, mas não aguentam com duas malgas de verde tinto. O que fomos fazer a Tóquio foi convidar mais de dez artistas japoneses a participar no Guimarães noc noc deste ano, faz parte da agenda da Capital da Cultura e é um evento artístico que se realiza nos dias 5, 6 e 7 de Outubro. Eles adoraram a ideia e vêm aí. Por isso, preparem-se para trocar umas ideias e quem sabe, até umas receitas de bacalhau com vários japoneses. Como já disse, são mais de dez e aproveitem e tragam cartões pessoais, pois esta gente, com o tempo, ganhou hábitos estranhos e para quebrar o gelo nas apresentações, dão os seus cartões pessoais com as duas mãos e uma vénia. Já eu, para lhes mostrar de onde era, mostrava o cartão do Vitória de Guimarães enquanto batia com a mão no peito para lhes lembrar que o D. Afonso Henriques chegou a algum lado, porque tinha uma espada comprida.