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Em Favela “Pacificada” do Rio, Protesto pelo Assassinato de Morador Acaba em Morte

Confrontos começaram fora da Pavão-Pavãozinho, perto de Copacabana, depois da morte de um dançarino que os manifestantes afirmam ter sido assassinado pela polícia. O resultado foi um homem morto e um garoto de 12 anos ficou ferido.

Na noite de terça-feira, confrontos começaram fora da Pavão-Pavãozinho, perto de Copacabana, depois da morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, de 26 anos, o DG, que os manifestantes – inclusive a mãe dele – afirmam ter sido assassinado pela polícia. Pelo menos um homem morreu – supostamente com um tiro na cabeça – durante os protestos e um garoto de 12 anos ficou ferido.

A violência foi uma reposta à morte do dançarino profissional morador da Pavão-Pavãozinho. Ele se apresentava regularmente no programa de TV Esquenta, da Globo. Seu corpo foi encontrado na manhã de terça-feira.

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Os manifestantes culparam a polícia, que teria confundido o rapaz com um traficante. Os moradores fizeram uma barricada na entrada da favela e colocaram fogo em pneus e carros, bloqueando o trânsito por mais de cinco horas.

A filmagem abaixo mostra os policiais vigiando a favela enquanto moradores enraivecidos – alguns apontando para uma poça de sangue no chão – xingam.

As autoridades do Rio dizem que vão investigar o incidente, mas sugeriram que os ferimentos no corpo do dançarino seriam consistentes com uma queda – uma afirmação já rejeitada por relatórios que dizem que Douglas morreu de um “ferimento transfixante”.

“A polícia matou meu filho. Ele tinha manchas de sangue por todo o corpo”, disse a mãe do dançarino, Maria de Fátima da Silva Pereira, aos repórteres no local. Ela contou que o filho tinha saído para comprar um ovo de Páscoa para a filha quando foi pego, sem RG, pela polícia, que fazia uma batida na favela. “Isso não é pacificação”, ela disse.

A Pavão-Pavãozinho, que fica perto do local onde as competições de natação acontecerão durante as Olimpíadas de 2016, é uma das 40 favelas que o governo brasileiro afirma ter “pacificado” antes da Copa do Mundo.

Cerca de 34 UPPs foram criadas para combater o crime em bairros pobres, mas acusações generalizadas de abuso nas mãos da polícia chamaram a atenção de observadores dos direitos humanos. Como sabemos, a “pacificação” tem sido uma questão polêmica na preparação do Brasil para os dois eventos esportivos globais. Quem fala com as autoridades ouve que as UPPs limparam as favelas de traficantes violentos e outros criminosos.

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Mas os moradores de algumas das comunidades urbanas mais pobres dizem que a “limpeza” trouxe um assédio pior, abusos e dezenas de assassinatos, mais até do que eles sofriam nas mãos dos criminosos. “É um mistério como a polícia tenta promover a segurança causando ainda mais insegurança”, disse um usuário do Twitter – refletindo um sentimento compartilhado nas ruas do Rio e nas redes sociais.

“Pacificação é um verdadeiro desastre”, outro crítico tuitou. “É como uma guerra onde quem mais sofre é a população carente.”

Difícil e complexo o processo de pacificação,é um mistério o fato da polícia ao tentar promover a segurança causar mais insegurança ainda.

— Roberto s. da costa (@rsdimy) April 23, 2014

Pacificação é um verdadeiro desastre e como uma guerra onde quem mais sofre e a população carente:(

— lidiane (@lidianeecletica) April 23, 2014

Ben Anderson, correspondente da VICE News, examina a “pacificação” nas favelas brasileiras no documentário da VICE para a HBO intitulado “A Pacificação do Rio”.

“Uma das principais reclamações sobre a pacificação das favelas é que existe uma grande preocupação em se livrar dos traficantes, mas nada é feito sobre questões como saúde, esgoto a céu aberto, educação”, disse Anderson. “Acho que os pobres do Rio, os moradores das favelas, se sentem completamente negligenciados.”

A atenção que eles conseguiram trouxe tudo, menos “paz” para as comunidade pobres.

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As fotos a seguir – algumas bem fortes – mostram cenas dos enfrentamentos da noite de ontem.

Fotos via Reuters.

“O Bope. Eles não ligam para o que o mundo exterior pensa deles, ou o Rio, as favelas… Eles com certeza são uma das forças mais letais da América Latina. Eles só se importam em perseguir, capturar e matar os 'bandidos'”, disse Anderson.

Ele acrescenta que muitos moradores das favelas dizem preferir viver sob o controle brutal das gangues de traficantes – “adolescentes com armas”, como Anderson os chama.

Os confrontos da terça-feira levantaram preocupações, mais uma vez, com a Copa do Mundo. E essa violência não foi isolada.

Na terça de manhã, tumultos também aconteceram em São Paulo, onde homens armados teriam incendiado mais de 30 ônibus numa ataque não relacionado, uma retribuição à morte de um traficante de 19 anos da área, segundo a polícia.

O vídeo abaixo mostra o rescaldo da violência.

Siga a Alice Speri no Twitter: @alicesperi.