Tempos de recessão: o que quer o MTST e qual é o futuro da classe trabalhadora no Brasil
Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

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Tempos de recessão: o que quer o MTST e qual é o futuro da classe trabalhadora no Brasil

Muita coisa pode emergir das ruas enquanto o governo Temer tenta reequilibrar as contas públicas.

Ao assumir a presidência interinamente, Michel Temer (PMDB) afirmou que programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida seriam mantidos. No dia 17, porém, o recém-empossado ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), revogou uma portaria editada pela presidente Dilma Rousseff (PT) que autorizava a Caixa Econômica Federal a contratar a construção de 11.250 unidades habitacionais do programa – causando revolta entre movimentos de moradia como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), liderado por Guilherme Boulos.

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Manifestante em meio a nuvem de gás lacrimogêneo arremesado pela PM em protesto do MTST na Avenida Paulista na última quarta (1º). Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

A resposta veio em formato de protesto na última quarta (1º), que acabou com a ocupação da Sede da Presidência da República em São Paulo, na Avenida Paulista. Ali, a Polícia Militar apelou para bombas de gás lacrimogêneo e seis manifestantes foram presos. Uma mulher, posteriormente identificada como Erika Sampaio, que seria médica, chegou a receber um mata-leão de policiais. O vídeo foi amplamente divulgado nas redes sociais.

Manifestantes correm de bombas de gás lacrimogêneo arremessadas pela polícia em protesto do MTST na Avenida Paulista na última quarta (1º). Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

"Pegaram uma manifestação pacífica do MTST aqui na Paulista e resolveram, sem mais nem menos, prender pessoas e jogar bomba; meter gás em mães e pais de famílias, em idosos, crianças. Polícia Militar covarde", esbravejou Boulos, que diz não reconhecer Temer como presidente. "Esse governo, de forma injustificável, além de dar um golpe para chegar ao poder, deu um golpe no direito dos trabalhadores e cortou 11 mil moradias", detalhou.

Manifestantes correm de bombas de gás lacrimogêneo arremessadas pela polícia em protesto do MTST na Avenida Paulista na última quarta (1º). Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

A ideia era montar um acampamento no local e mantê-lo por tempo indeterminado até que o governo federal recuasse. Pela noite, chegou a notícia de que o Ministério das Cidades havia voltado atrás e a contratação das moradias seria mantida. Os militantes do MTST celebraram a decisão favorável. "Quem luta, conquista", publicou o líder em seu Facebook.

Manifestante do MTST enfrenta a PM. Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

A oposição feita pelo MTST ao governo de Michel Temer é provavelmente apenas o começo de uma revolta popular que irá se entender ao passo em que novas medidas econômicas forem anunciadas para reequilibrar as contas públicas, já que parte delas poderá envolver cortes em programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, além de reformas na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e na Previdência Social. Vale ressaltar também que movimentos representantes de aposentados e pensionistas também não ficaram felizes com o fim do Ministério da Previdência Social, que agora fica anexado à pasta da Fazenda.

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Na última segunda (31), trabalhadores do INSS de São Paulo protestaram contra a proposta de reforma da Previdência ensejados por sindicalistas da CUT (Centra Única dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e Intersindical.

Protesto do MTST na Avenida Paulista na última quarta (1º). Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

O caminho pelo qual a classe trabalhadora irá passar ainda é indefinido e obscuro. A possibilidade de enfrentar uma política de austeridade cabulosa como vimos e ainda vemos em países como a Grécia não parece impossível. Assim como as chances de inflar os movimentos sociais e o bicho pegar nas ruas não são pequenas.


MTST APOIA A LUTA DAS MULHERES, MAS FAZ COMENTÁRIO MACHISTA

Por volta das 16h do mesmo dia, um protesto organizado por mulheres tomou conta do vão do Masp e acabou encontrando com o MTST. As principais pautas do ato repudiavam o estupro cometido por 33 homens contra uma adolescente no Rio de Janeiro e contra o governo Temer. Apesar de apoiar a causa feminista, dizer "não à cultura do estupro" e que "machistas não passarão" nas redes sociais, o MTST perdeu a linha em sua própria página de Facebook nesta quinta (2).

Em resposta a uma mulher que os criticava por receber dinheiro do PT, o movimento publicou que ela deveria poupar "o tempo que a máquina de lavar louças" lhe proporcionava "para conhecer um pouco mais de história do Brasil".

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