Os Mineiros do Congo que Sofrem Para Você ter um Smartphone

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Os Mineiros do Congo que Sofrem Para Você ter um Smartphone

Apesar de enfrentarem riscos de ferimentos graves e de morte para desenterrar algo de que a maioria do mundo desenvolvido depende, os mineiros de coltan ganham cerca de sete dólares por dia.

Judith Prat é uma jornalista espanhola que vem capturando a dura realidade enfrentada pelos mineiros de coltan da República Democrática do Congo. O coltan (ou columbite e tantalite) é um mineral essencial para a fabricação dos pequenos capacitores que fazem coisas como smartphones, computadores, armas e equipamentos aeronáuticos funcionarem.

A enorme demanda por coltan nos últimos anos o tornou um mineral de conflito, com vários exércitos e grupos rebeldes usando isso para financiar suas guerras. Então não é surpresa que as condições de trabalho nessas minas sejam terríveis. Apesar de enfrentarem riscos de ferimentos graves e de morte para desenterrar algo de que a maioria do mundo desenvolvido depende, os mineiros de coltam ganham cerca de sete dólares por dia.

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VICE: Que impacto essa mineração vem tendo na República Democrática do Congo?
Judith Prat: Há uma rede de interesses internacionais que tem como objetivo saquear a área. Países vizinhos como Ruanda e Uganda – que é por onde o coltan sai do país – e multinacionais de todo o mundo são quem lucra com esse saque ilegal. Os próprios membros do governo congolês são responsáveis pelo país estar sendo devastado pela guerra há tantos anos. A população congolesa é vítima de um conflito armado que deixou cinco milhões de mortos e cerca de 1,5 milhão de deslocados. Há uma infinidade de grupos armados operando na região, e eles são financiados por e para servir os interesses que mencionei.

Como eles extraem o coltan?
Os mineiros extraem o coltan com picaretas e pás. Os túneis subterrâneos que eles escavam são sustentados por vigas e tábuas de madeira. Os mineiros levam o coltan nos ombros ou arrastando os sacos colina abaixo até o vilarejo. É uma jornada longa num terreno íngreme.

Nenhum investimento em modernização está sendo feito. A mão de obra abundante e barata significa que os donos das minas não investiram nada para melhorar as condições de trabalho dos mineiros.

Parece muito perigoso.
Acidentes são comuns. Durante a temporada de chuvas, os túneis frequentemente desabam e os mineiros ficam presos e morrem. Eles trabalham 15 horas por dia. Crianças e idosos também trabalham nas minas; o trabalho é ainda mais pesados para eles.

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Eles não têm roupas de trabalho adequadas ou qualquer equipamento de proteção. Mesmo as ferramentas que eles usam geralmente estão em más condições. Nenhum dos túneis é seguro, não há proteção contra desabamento, vazamento de gás ou falta de oxigênio.

Por que você decidiu fotografar essa série?
Minha intenção é que a série denuncie o saque à riqueza mineral na RD do Congo. Isso também deveria deixar claro que esse saque é a principal causa do país estar permanentemente em conflito – um conflito que continua há mais de 20 anos.

Os cidadãos do mundo desenvolvido também têm a responsabilidade de estar conscientes do que acontece lá e de exigir que nossos governos tomem decisões políticas que tragam um fim para situações terríveis como essa.

Tradução: Marina Schnoor

Nascer do sol em Rubaya, no leste da República Democrática do Congo. Os mineiros começam sua jornada de trabalho nas minas.Foto por Judith Prat

Mina Nyange, Rubaya, RD do Congo.Foto por Judith Prat

Equipada apenas com pás, a maioria trabalha em minas a céu aberto.Foto por Judith Prat

Um mineiro sai das galerias de escavação. Durante a temporada de chuvas, os túneis frequentemente desabam.Foto por Judith Prat

Os mineiros extraem o minério usando apenas pás.Foto por Judith Prat

Mineiros comem seu almoço de batatas no meio da mina.Foto por Judith Prat

Foto por Judith Prat

A primeira lavagem do minério é feito na mina.Foto por Judith Prat

Retrato de um mineiro.Foto por Judith Prat

Mineiros reunidos ao redor de uma pilha de manganês que será colocada em sacos.Foto por Judith Prat

Foto por Judith Prat

Mineiros puxam uma fileira de sacos de coltan montanha abaixo.Foto por Judith Prat

Um grupo carrega os sacos de minério da montanha até o vilarejo.Foto por Judith Prat

Mineiros voltando ao vilarejo.Foto por Judith Prat

Um mineiro retorna ao vilarejo depois de um dia de trabalho.Foto por Judith Prat

Sodoma, o distrito da luz vermelha de Rubaya.Foto por Judith Prat

A principal rua de Rubaya ao anoitecer.Foto por Judith Prat