Os Super-heróis de Ouagadougou

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

Os Super-heróis de Ouagadougou

Alexandre Eudier usa o artesanato local para reinterpretar a cultura pop, misturando clichês africanos com símbolos familiares do consumismo e novas tecnologias, criando situações que questionam as imagens que vemos na mídia.

Todas as fotos cortesia do autor.

Essa série de fotos, feita em Burkina Faso, é uma continuação de um projeto de arte que comecei na Indonésia. A ideia por trás disso é usar artesanato local para reinterpretar a cultura pop. Em Bali e Java, tive a oportunidade de trabalhar com escultores que integraram graffiti em casas tradicionais, assim como pintores hiper-realistas que contratei para reimaginar minhas fotografias.

O que me interessava era as questões de status do trabalho – alguém pode ser o "autor" de uma obra quando parte de sua produção foi terceirizada? Decidi não colocar meu nome em nenhuma delas e creditar as obras com a legenda: "Intitulado, Anônimo".

Publicidade

Quando cheguei a Burkina Faso em 2012, eu queria explorar essas questões trabalhando com as mesmas colisões. Eu queria misturar clichês africanos com símbolos familiares do consumismo e novas tecnologias, criando assim situações que questionassem as imagens que vemos na mídia.

Meu plano era não me ancorar no meu redor, mas jogar com referências que transcendessem fronteiras. Essa série sobre super-heróis veio de um rascunho simples – um boubou de Homem-Aranha que desenhei no meu caderno. Junto com meu colega Bruno Revert, desenvolvi essa ideia e decidi expandi-la, criando outras figuras-chave da cultura ocidental. Terminamos com três fantasias.

Como modelos, contratei Kaboré (Homem-Aranha), que é parte do Face-O-Sceno – uma pequena organização que cria cenários de teatro e com que eu já tinha colaborado em vários projetos. Depois chamei Gedor (Homem de Ferro), que tinha acabado de se formar em artes e estava procurando um estágio. Ele me acompanhou em várias sessões de fotos. Mathias (Batman) era o motorista que contratei para levar a equipe até as sessões de fotos pela manhã. Ele só nos levava para as locações e ria dos outros modelos, mas quando perguntei se ele gostaria de se fantasiar, ele imediatamente perguntou se podia ser o Batman.

Para conseguir o brilho particular que eu estava procurando, as fantasias foram feitas de bazin. Esse tecido é muito popular e geralmente usado pelos privilegiados, então isso impõe certo respeito. Para atingir todo o brilho potencial, você precisa cobrir o tecido com seiva vegetal.

Publicidade

Escolhi recriar super-heróis por várias razões. Primeiro por causa da estética – as cores brilhantes das fantasias ecoavam as vestimentas tradicionais locais. Também havia algo de engraçado em trocar as fantasias supercoladas dos super-heróis para essas túnicas largas.

Também fiz uma fantasia de Ronald McDonald. Essa, na verdade, foi uma realização de Bruno Revert para outro projeto meu. Ficamos surpresos em descobrir que muitos burquinenses não sabem quem é Ronald McDonald. Imagino quanto tempo isso vai durar.

TDTF é uma editora criada por Alexandre Eudier e Matthew Noiret. Os dois primeiros livros deles, Vermillion Coast e Super, já estão disponíveis.

Tradução: Marina Schnoor