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Música

Discos: Arcade Fire

Um jogo de sedução este Reflektor.

Reflektor
Universal
9/10 Corria o ano de 2004 quando “Funeral”, o primeiro álbum dos Arcade Fire , despertou fortes sensações nas almas indie rock por este mundo fora. No ano seguinte, na bucólica praia fluvial do Tabuão em Paredes de Coura, deu-se o início a uma relação de intensa paixão entre os portugueses e a banda canadiana. Com o passar dos anos a paixão tornou-se em algo mais sério e inevitavelmente nasceu um amor assolapado que cresceu até hoje. Nas páginas mais doces dos almanaques amorosos bem se fala que a relação perfeita é a que alia o conforto do conhecido com a chama da paixão e que, em muitos casos, se extingue na monotonia do quotidiano. Sentia-se já no ar o esmorecimento desta emoção latejante nos corações dos amantes mais independentes e temia-se o início do esgotamento que muitas vezes leva a enveredar por aventuras casuais com outros parceiros, muitos deles portadores de malefícios aos quais não se está habituado. Mas eis que senão, num exímio jogo de sedução, os Arcade Fire oferecem-nos Reflektor, reavivando a chama ao ponto de quase saber a um novo e desconhecido amor, mas confortável posto que soa familiar. A técnica infalivelmente picante do role playing é a primeira táctica, aparecendo uma banda alter-ego chamada The Reflektors que gosta de máscaras e ritmos exóticos que vão da Jamaica ao Haiti, os quais se sentem principalmente nas faixas "Reflektor" e "Flashbulb Eyes". Depois adivinham-se os conselhos do grande guru James Murphy nas composições mais dançáveis como "We Exist", cuja linha de baixo quase soa a Billy Jean, ou "It’s Never Over (Hey Orpheus)". Ainda há tempo para umas malhas genuinamente rock, sendo "Normal Person" e "Joan of Arc" os maiores exemplos, e para os hinos da praxe, como "Awful Sound (Oh Eurydice)", os tais que nos confortam com a certeza de que à saída da casa dos espelhos, depois do cair da máscara, os Arcade Fire continuam connosco, sem nunca nos tomarem por garantidos. Amor verdadeiro é isso mesmo, cantado em mitos como o de Orfeu e Eurídice, personagens esculpidas pelo grande Rodin e que agora aparece num álbum que promete não se esgotar.