O Homem, a Máquina e o Semibreve

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Música

O Homem, a Máquina e o Semibreve

Três dias de música exploratória em Braga.

Toca o sino e por um instante interrompem-se as conversas, procuram-se os bilhetes e fumam-se os últimos cigarros. O staff, sempre educado, apressa toda a gente a entrar na opulenta sala principal do antigo teatro, até se fecharem as portas de acesso à plateia e se ouvirem as primeiras notas. Quem chegar atrasado vai para os camarotes. Começou assim a terceira edição do Semibreve, um festival dedicado à música exploratória que nas duas anteriores edições interrompeu o marasmo da cidade de Braga com nomes como Alva Noto, Ben Frost, Mouse on Mars e Jon Hopkins.

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Coube a Philip Jeck a honra de iniciar as actuações na sala principal, numa recriação de Vinyl Requiem, o seu trabalho mais conhecido. Encostado a um canto, com as projecções a tomarem o papel principal, a performance esteve longe de ser memorável, apesar de interessante. A noite acabou com Raime, dupla britânica semi-encoberta pelos computadores que debitava ritmos metálicos austeros e profundos, complementados por filmagens a preto e branco e em câmera lenta de figuras à beira do desespero. No segundo dia, Haxan Cloak protagonizou uma intensa actuação que prescindiu do uso da imagem, tornando Bobby Krilic e o seu domínio da fúria contida das máquinas no único foco de atenção do público. Forest Swords, projecto de Matthew Barnes, que ao vivo é acompanhado por um baixista, esculpiu paisagens sonoras que fazem lembrar os sons da pradaria de uma realidade distante enquanto à minha frente um casal nas suas cinquenta primaveras abanava frenéticamente a cabeça com ar satisfeito. Para Domingo estavam reservados Atom™ e Sculpture. O primeiro afirmava ser a sua própria máquina, e não raras vezes a sua cara digitalizada era projectada na tela ao som de fusíveis, circuitos e vozes sintetizadas para deleite do público, que aplaudiu efusivamente o primeiro “Stop the imperialist Pop” e se deixou levar pela exploração do ruído construído de explosões núcleares. Os segundos conseguiram a performance visual mais interessante, uma espécie de DJ’ing de discos com imagens impressas que enquanto rodavam eram transmitidos por uma câmera para o projector: um regalo para o olho, o ouvido cansou-se. Foi um prazer, Semibreve.

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Fotografia por Miguel Meira.