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Música

Exclusivo! A "Lua Cheia" de Iguanas, ou como criar um clássico instantâneo

A 11 de Maio vai "aparecer brilhando", mas não é na Cova da Iria. Ninguém te preparou para o novo disco da dupla da Cafetra e também não é este vídeo promo que o vai fazer. Mas ajuda.

A 11 de Maio, Lua Cheia vai entrar de rompante pela tua vida adentro. Vais querer estar preparado… só que não vais estar. Não vais estar, porque o novo álbum dos Iguanas, dupla da Cafetra Records, faz questão que não estejas.

Pelo despudor com que as suas 11 canções se lançam de cabeça na contemporaneidade pop de largo espectro dos beats de Leonardo Bindilatti a.k.a. Rabu Mazda, pela abordagem desassombrada ao quotidiano urbano multicultural que transpira da lírica descarnada de Lourenço Crespo, pela imensidão das linguagens musicais, artísticas e culturais que te vão assaltar os sentidos, Lua Cheia é um aquilo a que, em modo cliché, se chama de "clássico instantâneo". E nunca estamos preparados para clássicos instantâneos. Eu pelo menos não estou, nem quero estar.

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Nos últimos anos (dois, três, quatro, se calhar já cinco, nem sei bem), a Cafetra e as suas gentes - que são bandas, promotores, artistas multidisciplinares, fazedores de coisas -, saltaram com a naturalidade possível do circuito semi fechado em que a simplicidade da adolescência os viu nascer, para se darem sem reservas ao Mundo que os rodeia - que somos nós todos - e para sugarem sem reservas tudo o que o Mundo que os rodeia tinha para lhes dar. E poucos o conseguem fazer melhor.

Capa de "lua cheia", por Sallim

Reflectir o sentimento de uma geração, a vida de uma cidade, a sociedade de um país em canções de três minutos e picos, sem tiques de activismo forçado, sem vedetismos juvenis de grupeta mais cool do liceu e mais weirdo da universidade, sem perdas de maior pelo caminho, sem deixarem apagar a chama devoradora do querer fazer tudo, a todo o custo, é só por si algo que se calhar poucos lhes vaticinavam em 2008. "Estranhamente", não só o conseguiram, como pelo caminho transformaram todo o panorama musical e artístico que antes os rodeava e que agora é deles. Abraçaram aquilo a que alguns chamam a vida adulta com o fervor da insaciabilidade. E, no caso de Iguanas, agarraram pelos cornos as canções que antes se "escondiam" debaixo de uma camada agreste e quase impenetrável de efeitos, de camadas densas e narcóticas, trazendo-as para a luz intensa da coisa pop.

Um clássico instantâneo este Lua Cheia. Um clássico instantâneo feito das pequenas grandes coisas da vida, como podes ver acima no promo vídeo realizado por Lourenço Crespo que agora estreamos e que nos mergulha num fresco da criação sem amarras de Lourenço e Leonardo. A limitá-los, só eles próprios, a sua preguiça hedonista, a sua imersão na busca da perfeição que não existe, a enxurrada de ideias que os aflige. Graças a Deus, diria eu se fosse crente. Graças a tudo o que os rodeia e à disponibilidade que têm para o transformar nesses postais de três minutos que nos ajudam a passar incólumes por essa tal coisa a que alguns chamam de vida adulta.

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Em Lua Cheia, diz o press release da Cafetra, "as coisas não acontecem na matemática da justaposição, mas antes no compromisso orgânico e potenciador da sinergia, aglutinando uma multiplicidade de linguagens que refractam a pop, o r&b, o rap, o footwork ou a house numa teia de hooks, palavras e batidas de visão singular tão esperta quanto honesta". Nada mais certo.

Leonardo & Lourenço. Iguanas. Foto cortesia Cafetra Records

E acrescenta-se: "Canções que, na sua respiração, abrem vista panorâmica sobre a vivência concreta, o mundano encarado com a street smart e o anseio natural daqueles anos que se seguem à adolescência. 'Namorado' [que será, em breve, o primeiro single] a deixar logo essa ideia patente, enquanto discorre os vícios normais de uma relação sob os sons de tarola da 909 e uma cascata de sintetizadores resplandecentes. Pequenos acontecimentos da recorrência quotidiana espelhados no ambiente efusivo de 'Novela', ou no balanço rítmico de 'Amigo' e que em 'Queridos' se enredam numa jinga quase doo wop pejada de sopros. A celebração do tédio de 'Mais Que Dez' em ambiente house, sob a qual palpita um certo desespero latente. O ócio que se alimenta de si próprio. Tangencialmente 'Não Faças Mal' pede emprestada a mesma cadência do piano para um momento tão terno quanto extático. O final deixa-nos a candura contemplativa de 'Vento Forte', como quem projecta r&b no crepúsculo. Como mais um daqueles dias aparentemente singelos a circular pela cidade que vão deixando memória".

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É preguiçoso descrever o que acabei de ouvir, com citações de um comunicado de imprensa? Até pode ser. Mas, quando essas citações descrevem mil vezes melhor aquilo que sentes, porque, na verdade, ficaste sem palavras para o fazer, mais vale assim. Mais vale não estragar.

"Lua Cheia" tem edição agendada para 11 de Maio nas plataformas digitais, foi misturado por Eduardo Vinhas no Golden Pony, Lisboa e masterizado por Sonic Boom no New Atlantis, Sintra. A 1 de Junho há concerto de apresentação marcado para Lisboa em local a anunciar.


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