Os exemplos do parágrafo acima são formas de racismo. Segundo o Atlas da Violência 2017, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), porém, pessoas negras têm 23,5% mais chances de morrer do que membros de demais etnias. A escolaridade não equipara renda entre negros e brancos — negros ganham 85% do salário de uma pessoa branca em caso de ensino médio completo, e 65% em caso de nível superior. Já as mulheres negras têm salários, em média, 59% menores do que homens brancos.Não são poucos os exemplos que mostram o racismo como uma constante no Brasil. No último dia 2 de dezembro, por exemplo, uma agência fez um post no Facebook com uma montagem de uma foto de Jim Carrey antes e depois de entrar no setor de estoque. No post do “depois”, Carrey aparece com blackface e cabelo crespo. O meme racista recebeu um sem número de questionamentos a ponto de a empresa retirar o post do ar e se retratar publicamente negando que a publicação teria sido racista.“Já ouvi de uma professora na escola que eu era uma negra de alma branca por causa do meu comportamento em sala de aula, além de que sou bonita por ter traços finos e não ter ‘nariz de preto’. Certa vez, uma mulher X virou para trás, em uma fila, e me disse que o meu cabelo era legal, pois estava na moda.” — Leandra Silva*, 19.
“Um cara veio de vermelho, outro de azul, mais um de branco e outro de verde. Comentário: ‘Está todo mundo hoje de Power Ranger, menos os Diego*!’ Ele é o ranger preto.’ Estou usando [camisa] vinho e isso aconteceu hoje [5 de dezembro] na firma.” — Diego Moreira*, 30.
A proporção de negros em postos estratégicos no Brasil está longe de ser igualitária. Dados mostram que 43 entre 513 se reconhecem desse modo na Câmara dos Deputados. Ainda, 12,8% dos jovens negros estão no ensino superior, enquanto 26,5% brancos estão no mesmo patamar. “Não é só no capital político que há sub-representação do negro: todos [os setores] têm ausência brutal da população negra e o que choca é essa assimetria no Brasil. É necessário haver ações estratégicas para reivindicar espaços nas universidades públicas. A nossa política é para a universalização do acesso de negros a esses capitais.”Há alguns dias, a atriz Taís Araújo foi ridicularizada após dizer que a cor do filho dela fazia pessoas mudarem de calçada. Na mesma semana, Titi, filha dos globais Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, sofreu ataques racistas. Em todos os casos, a pessoa negra foi ridicularizada por falar sobre racismo, enquanto um indivíduo branco ganhou apoio pelo mesmo motivo.“Hoje [5 de dezembro] um cara me disse que o meu cabelo é estranho e parecia que eu havia tomado um choque – ele achou esse comentário muito legal. E há quem diga: ‘Você não é negra, é moreninha’.” — Daisy Coelho, 30.
Esses fatos exemplificam a autoridade de fala — a opinião de alguém branco costuma ser sempre a mais respeitada em qualquer contexto. “Há pessoas que têm procurado tirar expressões racistas da fala. Estamos em uma sociedade submersa na prática cultural da escravidão e é de se supor que está impregnada de preconceitos”, destaca Xavier. “Quando há setores da sociedade que aprendem a lidar com a diversidade e erram tentando aprender, vale o processo educativo. Quando se lida com outro fascista, que retroalimenta a fala preconceituosa, isso é crime e a pessoa deve responder na Justiça”, finaliza o professor de jornalismo da Unesp.*Alguns nomes foram modificados para preservar a identidade dos personagens.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.“Desde que fiz tranças, o que é algo recente, sempre ouço que pareço alguma artista. Não haveria problema nisso se não fosse por acharem que todo negro se parece ou é irmão. Além disso, há diversos pedidos para tocarem o meu cabelo e acho isso um saco.” — Thayse Lopes, 30.