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Música

A Waxwork Records Está Aqui para Fazer Você se Lembrar Porque Borrava as Calças

Depois de "Re-Animator" e "O Bebê de Rosemary", a Waxwork fez as trilhas de "Dia dos Mortos", "Creepshow" e"Chopping Mall". Trocamos uma ideia com eles sobre sua relação com o cinema.

Em pouquíssimo tempo, a Waxwork Records ganhou seu lugar na comunidade de fãs de trilhas sonoras. Uma estreia impressionante com o lançamento da trilha da Richard Howard Band para o clássico de 1985 de Stuart Gordon, Re-Animator, ajudou a chamar a atenção do público, que foi mantida com o lançamento seguinte, a radicalmente diferente trilha deO Bebê de Rosemary. Feita por Krzysztof Komeda, trata-se de uma composição cheia de jazz que usa o andamento para criar histeria. Com duas trilhas diferentes lançadas, sobrava espaço para crescer ainda mais. Agora, a gravadora já lançou cinco trilhas diferentes – incluindo aí Dia dos Mortos, Creepshow e a mais recente, Chopping Mall – e está com os olhos voltados para o futuro. Aproveitando o recente trabalho com Chopping Mall e o futuro lançamento de Sexta-Feira 13, tivemos a oportunidade de conversar com Kevin Bergeron sobre a formação do selo e suas dificuldades iniciais, a relação entre música e cinema, e os planos da Waxwork para 2015.

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Noisey: Quais foram os desafios iniciais para montar a Waxwork Records? Havia muita coisa diferente de um selo “normal”?
Kevin Bergeron: Algumas pessoas não entendiam o que eu queria fazer. Não tinha muita grana pra começar a Waxwork. É difícil conseguir um empréstimo quando o pessoal do banco te olha sem entender nada quando você apresenta seu plano de negócios para uma gravadora que só lança discos de vinil; é como se você estivesse falando em outra língua. Todo mundo me perguntava: “ainda fabricam vinis? Bom, não fabricam mais vitrolas, né?”.

Então vendi tudo que eu tinha e mal deu pra pagar as capas do Re-Animator.

Quando finalmente consegui botar a Waxwork pra funcionar, e as pessoas começaram a conhecê-la, passei a receber e-mails de gente curiosa com o que estávamos fazendo. Conseguimos os direitos para a trilha de O Bebê de Rosemary com poucos meses de atividade, e quando anunciamos o lançamento, foi como uma bomba. Fui contatado por gente da indústria que queria saber mais sobre nós e conhecer quais outros títulos tínhamos preparados para lançar. Na época eu não queria que ninguém soubesse no que estávamos trabalhando, mas fomos meio que encurralados.

Não sei de nenhuma treta, só que éramos a molecada nova no bairro naquele instante. Só seguimos em frente para conseguir construir nosso nome.

Então, é, os maiores desafios de botar a Waxwork pra frente foram as pessoas que não nos entendiam e nos rejeitavam, e quem entendia o que estávamos fazendo não aceitava isso logo de primeira.

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A equipe da Waxwork

Você tinha alguma experiência com gravadoras ou selos? Qual o seu histórico?

Eu tinha experiência em prensar vinis e gravar. Toquei em bandas de hardcore por um bom tempo, por cerca de 15 anos. Toque em uma banda punk que se importa com o que faz por tempo suficiente e eventualmente você vai produzir um disco.

O processo todo de criar um disco me fascina, e gosto muito de entrar no estúdio. Então, de repente, eu era o cara na banda que fazia tudo rolar. Na última banda em que toquei, ninguém ajudava, portanto, me colocaram nessa posição de aprender tudo e segurar as mãos de todos. Eu era o guitarrista, o agente, o assessor, o cara do merchandising, o cara que telava camisetas às 3h da madrugada, o roadie, o cara que escrevia todas as músicas, que pagava pela gravação e pelos ensaios, que pagava a prensagem dos discos, a postagem, e por aí vai – lembre que existiam outros quatro caras comigo. Até toquei guitarra e baixo em um disco, porque o nosso baixista era um fodido. Sei que isso tudo soa como reclamação, mas não é, de verdade. Só fiz o que tinha que fazer. Eventualmente, você não espera que ninguém mais vá ajudar. Você está ali conduzindo a parada e isso tem muitos benefícios. Acabamos sendo a primeira banda norte-americana a fazer uma turnê em Cuba e, quando voltamos para os EUA, os outros caras do grupo deixaram claro que não aguentavam o tranco na estrada. E eu já estava agendando uma turnê na Rússia! Então fizemos uma reunião, daí o vocalista e o guitarrista caíram fora, e eu expulsei o baterista – isso tudo rolou em mais ou menos dez minutos. Aí eu disse “foda-se essa merda” e decidi correr atrás de montar o meu próprio selo, a Waxwork.

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Você poderia nos falar um pouco sobre o processo de obtenção dos direitos destes lançamentos? Parece ser algo complicado e caro.

O primeiro passo é descobrir quem, de fato, é dono dos direitos; esses direitos podem ter vários donos. É preciso cuidado, porque tem gente aí que tentará licenciar algo sobre o que não possui direito nenhum. Quando se sabe quem é o dono da música, pede-se permissão e se formula um contrato de licenciamento, só que também é preciso conseguir uma licença separada. É um pouco mais complicado que isso, mas essa é uma noção geral. O processo pode ser difícil e doloroso, isso sempre varia. Algumas vezes conseguimos os direitos de um título em poucos dias; outras, isso demora mais de um ano. Há momentos em que rola umas 20 pessoas diferentes estendendo as mãos e pedindo royalties.

Dito isso, o que levou você a lançar Re-Animator primeiro?

O Richard Band foi a primeira pessoa que nos deu uma chance. Sério mesmo, foi assim que rolou. Conversamos por telefone, e eu disse o que queríamos fazer, e ele deu uma chance a um novo selo. O cara é demais. E também é amigo do compositor Harry Manfredini. Quando o Richard sacou que a coisa era séria e viu a nossa empolgação para lançar Re-Animator, ele nos colocou em contato com o Harry, e foi assim que começamos a negociar a trilha de Sexta-Feira 13.

Uma coisa que pode ser sacada de primeira é que os seus lançamentos diferem bastante entre si. Deixando de lado o fato de serem todos trilhas de filmes de terror, são de estilos completamente diferentes. Isso foi intencional?

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Não planejamos isso de forma alguma, mas fico feliz que tenha rolado assim. Não quero que a Waxwork vire sinônimo de um único estilo. A minha única intenção desde o início era lançar grandes trilhas de filmes com os quais cresci e que adoro. Literalmente, fiz uma listinha do que eu queria e corri atrás.

Os dois próximos lançamentos planejados – Chopping Mall e Sexta-Feira 13 – são marcados por um forte sentimento do estilo ‘encontrar-o-monstro’. O que você acha que a trilha pode acrescentar a um monstro/assassino/personagem?

Ela pode criar uma identidade completa. Um bom exemplo disso é Sexta-Feira 13, em que só ouvimos a trilha quando o assassino está presente.

Por exemplo, em Chopping Mall temos esta trilha supereletrônica, que combina com os seguranças-robôs assassinos. Você conseguiria descrever uma parte do filme em que a trilha é particularmente eficaz em destacar um clima?

Na cena de abertura do filme, o tema principal de trilha dá o tom todo à coisa. Tudo nos créditos de abertura e no título é representativo da época em que aquilo foi feito, mostra bem quais eram os objetivos e o orçamento dos criadores. É pura diversão burra oitentista.

Claro que, em Sexta-Feira 13, há uma homenagem óbvia ao Psicose e à trilha de Bernard Herrman, mas o infame “tch tch tch, ah ah ah” é algo que se tornou inevitável com relação ao(s) assassino(s) da série.

Na real, isso vem de quando a personagem de Betsey Palmer diz “Kill Her Mommy”, “Ki-ki-ki Ma-ma-ma” [Mate a mamãe dela]. Harry Manfredini adicionou algumas notas bem informativas no nosso lançamento de Sexta-Feira 13 em que fala como criou este efeito sonoro icônico. Ao fazer a trilha sonora do filme, ele sussurrou e gravou as primeiras consoantes de “Kill” e “Mommy” com um microfone e aplicou um delay. Foi só uma coisa inesperada que o cara fez para criar uma identidade para o assassino e que acabou virando um puta lance icônico. É brilhante.

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Além das trilhas que você já lançou, que outras acha que combinam melhor clima e personagem? Tubarão? Halloween? Não precisa ser terror.

É difícil pensar assim. Em Tubarão, e especialmente Halloween, acho que os compositores não tinham como saber que estavam criando algo tão duradouro. O John Carpenter é conhecido por fazer as trilhas dos seus filmes muito rápido.

Acredito que o Tobe Hooper e o Wayne Bell criaram a trilha original de O Massacre da Serra Elétrica de forma metódica. Era um filme de orçamento baixíssimo e muito DIY, mas acho que aqueles caras sabiam que uma grande trilha orquestrada, ou mesmo uma eletrônica mais baratinha, não funcionaria, então eles criaram a trilha mais bizarrona de todos os tempos sem usar nenhum instrumento musical de verdade. Não acho que dê nem para chamar isso de trilha, é só algo que funciona perfeitamente.

O seu ramo é esquisito, no sentido de que há poucos selos fortes atuando em busca de objetivos similares. Com seu foco em relançamentos, é complicado trabalhar com um número finito de trilhas?

Não é tão esquisito assim. Digo, alguns dos outros selos lançaram coisas que eu amaria ter lançado, mas não perco meu sono por conta disso. Somos bem seletivos com o que lançamos. Acho que rola uma competitividade com trilhas mais clássicas, especialmente com o surgimento de novos selos. Até mesmo os selos mais antigos, que só lançavam CDs, estão voltando pro vinil.

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Com a Waxwork, sempre penso no que é melhor pra empresa, e o que vai mantê-la firme e forte, como podemos atrair mais pessoas com interesses parecidos, seguir adiante e tal.

Acho que haverá uma mudança e alguns dos selos vão passar a trabalhar com outros projetos não relacionados a trilhas. Nós já até falamos sobre isso. Idealmente, trabalharemos em cima de algo realmente bacana e não nos incomodaremos se outro selo lançar uma puta trilha na qual estávamos de olho. Com sorte, os fãs que conquistamos embarcarão nessa com a gente.

Isso soa como evolução. Você planeja ir além dos limites do horror e da ficção científica?

Com certeza. Lançaremos a trilha de The Warriors – Selvagens da Noite em 2015 e mais alguns títulos que acho que ninguém esperaria que lançássemos. Planejamos expandir para além das trilhas também.

Diz aí um lançamento do qual você adoraria participar.

De verdade, eu queria mesmo conseguir os trechos de áudio só do vento e das ligações telefônicas de Noite do Terror (1974) e lançar na época do Natal. Aquele filme é aterrorizante.

Rola uma vontade de trabalhar com lançamentos atuais? De novas trilhas?

Já estamos em cima!

Tradução: Thiago “Índio” Silva

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