O futebol das antigas fora dos campos

O Pedro é designer na VICE. Ele também tem uma editora, a Pipoca Press. Por isso, ele sabe que tem muito trabalho foda de muita gente foda que está circulando pelas feiras e eventos de publicação no Brasil e fora dele. Aqui você vai conhecer esses trabalhos e essas pessoas.

Rafa Moo é designer e editor da editora baiana Gris, ao lado de Lara Perl. Ele também é fã de futebol e, desde o nascimento de seu projeto editorial, tinha a vontade de unir as paixões e ofícios em uma publicação. Seu pai, o Raimundo, ou Dino Furacão, foi artilheiro profissional de alguns times brasileiros como o Bahia e o Santos; de times portugueses como o Chaves e o Nacional de Madeira; e ainda teve também uma passagem pelo Sharjah F.C., dos Emirados Árabes, nas décadas de 80 e 90.

Rafa cresceu escutando as histórias dessas viagens e um dia, mexendo nas fotos do pai, pensou que algo podia sair dali. Nasceu então a coleção Futebooks, que se propõe a contar e mostrar um lado mais afetivo e pessoal de jogadores de futebol. Algo que vai além de números, gols e carreira.

Furacão 82 é o primeiro livro da coleção e conta da passagem de Dino Furacão quando foi artilheiro nos Emirados Árabes. O livro compartilha a intimidade do jovem craque, entre autorretratos e trechos de cartas enviadas ao seu pai. Ali, a viagem é reconstruída como um sonho, uma ficção arquitetada a partir de fragmentos.

O texto guia a narrativa e as imagens registradas e quase apagadas impressas em risografia na cor laranja – que aparecem com interferências gráficas de jornais e revistas da época na cor preta. O livro tem formato de álbum 10x15 cm, exatamente igual aos álbuns em que as fotografias foram guardadas.

Além do livro, o projeto tem um cartaz A3 como desdobramento, o “Zico nas Arábias”, que apresenta o jogador como representante da seleção brasileira de 82 em meio a uma composição gráfica em árabe.

Em Heriken 87, os arquivos de seu pai são revisitados e editados por Rafa, que cria um novo trajeto, mais silencioso e apenas com imagens. A narrativa é apresentada como os livros japoneses, sendo lida da direita para a esquerda – elementos visuais da cultura japonesa como a proporção e a simplicidade no projeto gráfico. A publicação revela um antigo desejo em conhecer o país e a edição acaba sendo uma realização por outra perspectiva.

“O segundo livro não tem tanto desse registro de cartas e tal, porque já era um outro momento do meu pai. Foi um período curto de uma semana que ele passou no Japão com a seleção paulista. Tem o programa que mostra os bastidores de um jogador. Ou como era a vida de um jogador naquela época”, conta Rafa.

Rafa planeja mais duas publicações, ainda com registros de seu pai e de seu avô, que também foi jogador e alfaiate. A editora está recebendo histórias interessantes de jogadores e estão começando uma plataforma online para que elas sejam publicadas em breve.

No país do futebol e em ano de copa, aguardemos!

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