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Politică

As lutas também podem ser mais ou menos

Apesar do nome este gajo não é nada mais ou menos.

[ ±MAISMENOS±](http://www.maismenos.net) (+-) é o nome de guerra deste rapaz que anda a fazer instalações polémicas pela cidade. Está em residência artística em Guimarães desde Maio e regressa na última semana de cada mês para concretizar cada um dos seis capítulos integram a programação da Capital Europeia da Cultura, nos quais utiliza várias linguagens — do stencil ao vídeo, passando pela performance. Cá, a ASA é o seu local de trabalho e as ruas são a sua galeria de eleição. Encontrei-o a construir o caixão que fará parte do IV capítulo da residência, “O Enterro”. Só para situar, caso não o conheças, ele começou por colocar um stencil na parede de uma fábrica mesmo em frente ao Centro Cultural Vila Flor que dizia: “Ireis pagar, pobre povo”, palavras que rapidamente foram apagadas e que causaram burburinho. VICE: Esclarece-nos de umas vez por todas. Tiveste autorização para pintar a parede da fábrica?
±MAISMENOS±: Sim e não. Tive autorização do dono da fábrica, mas não uma autorização institucional da CEC ou da autarquia. Acabaram por me apagar a peça — o que é excelente, porque traz mais falatório e causa polémica. Todo o burburinho é positivo e estimulante, às vezes mais do que a própria peça, [porque, assim, as pessoas] dão mais atenção ao meu trabalho. As redes sociais são muito interessantes nesse sentido. Houve pessoal que achou fixe pensar que a CEC estaria a par do projecto.
Não estava, mas saberiam que eu faria algo polémico, porque tem sido a minha linha desde o início de todo o projecto do ±MAISMENOS±. Sou um observador e, nas minhas intervenções, quero estimular o pensamento nas pessoas. É preciso ter coragem e dizer-se o que se pensa: criar controvérsia. Este foi só o início do que tinhas previsto para estes seis meses de residência.
A ideia foi criar uma relação entre a história de Portugal actual e o passado [do país], por estar em Guimarães — daí o projecto chamar-se “Portugal 1143- 2012”. Comecei pelo “Aviso”, com a alteração do hino, com o stencil. O “Ireis pagar, pobre povo” foi uma espécie de voz que avisa sobre o período em que vamos entrar. Foi o mote para tudo o resto. Depois, veio a “Traição”, a traição ao país. A faca tem a representação de Portugal, que nos traiu: espetei-a na estátua do Afonso Henriques. Tentei arranjar autorização para o fazer mas, como não vinha, fi-lo na mesma. Tinha um grande aparato montado para a coisa: gruas, câmaras e por aí fora. Fui para lá muito cedo e fi-lo à vista de toda a gente, até da polícia. Depois lá acabaram por nos abordar e, quando perceberam que não tinha autorização, tive que desmontar tudo, mas já tinha o que queria. A “Repressão” — em que ainda estou a trabalhar — vai ser uma ilustração das tentativas frustradas das pessoas dizerem alguma coisa. Não acredito em manifestações, [é como] tirar-te a fome com água. A alternativa é a acção. Sou contra a violência, basta marcar posição.A “Morte” acontece hoje, quinta-feira, às 17 horas. Estão todos convocados. E, mais para a frente, terei a “Ressureição” e a “Reconquista”. Neste processo todo, passo da ilustração à acção. É verdade, tens um enterro agendado

Sim, já coloquei no Facebook e as reacções têm sido muito interessantes. Desde pessoal a dizer [que isto é] brilhante, a outros chamarem-me parvalhão. Às vezes respondo, não resisto. Devia estar calado, mas não consigo — é uma questão de feitio e a verdade é que tem de haver proximidade humana (risos). Já houve quem me dissesse: “Enterra-te é tu e a capital” (sic). Como é que tudo se vai desenrolar?
O que vou procurar é um momento de introspecção. Sugeri que as pessoas venham vestidas de luto e farei uma procissão do Castelo até ao “Aqui nasceu Portugal”. Depois, o caixão vai ficar em exposição duas ou três horas na praça, com direito a umas salvas de honra da GNR. Vai ser interessante apanhar as pessoas que estão a passar. Finalmente, o caixão ficará em câmara ardente aqui ,na ASA. Haverá gente que a pensar que é mesmo um enterro.
Espero que sim mas, tendo em conta em que estamos na Capital, [as pessoas] vão perceber. A duplicidade das reacções vai ser interessante: a malta vai adorar ou detestar. Assumes a tua identidade?
Não faço alarde dela, porque o meu trabalho é mais importante do que a minha pessoa. Mas sim, porque acho importante assumirmos o que fazemos e, para já, não tive nenhum problema com isso.