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Fotos

Uma Entrevista com Roe Ethridge

Mais uma vez temos uma entrevista originalmente publicada no The Vice Photo Book, lá de 2007, para você. Essa é com o Roe Ethridge, o fotógrafo que fez a capa da nossa Edição de Foto 2010.

Mais uma vez temos uma entrevista originalmente publicada no The Vice Photo Book, lá de 2007, para você. Essa é com o Roe Ethridge, o fotógrafo que fez a capa da nossa Edição de Foto 2010.

Vice: Algo que sempre penso sobre o seu trabalho é como você escolhe o que vai clicar. Mais do que qualquer outro fotógrafo da atualidade que me vem à mente, suas fotos parecem literais para mim, como contos. Como você decide sobre o que vai tirar foto?
Roe Ethridge: Eu tenho uma lista de temas com que eu estou trabalhando no momento, apesar de eu às vezes simplesmente sair e tirar fotos, e a razão pela qual eu uso certa imagem em um projeto de um livro ou uma exposição se torna óbvia muito depois de que a tirei. Algumas vezes demora uns dois anos antes de certas fotos fazerem sentido para mim—ou pelo menos isso vem acontecendo bastante nos últimos dois anos. De uma forma geral eu sempre volto à uma sensação de que trabalho em serviço da imagem—ou na indústria do serviço de imagens—dependendo de como o dia de trabalho está indo.

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Eu gosto disso—a indústria do serviço de imagens. É como um faxineiro fotográfico. Ler te inspira?
Bom, eu não leio muitos romances. Termino muito poucos. Dos que cheguei até o final recentemente amei os últimos três do Michel Hoellbecq e algumas histórias do John Haskell. Os dois sabem escrever sobre a solidão que nós humanos passamos em momentos de merda. Mas acho que tem mais a ver com o sentimento de medo que eles constóem. Isso meio que fica em você. Eu percebo alguma coisa dentro desse sentimento. É como um estado de fuga.

Ah, essa palavrinha com F.
Pois é. A primeira vez que eu li a palavra fuga nesse sentido foi no livro The Last Gentleman, do Walker Percy. No livro ele fala de fuga como um estado mental, mas você provavelmente sabe que fuga também é uma estrutura de composição em música clássica. O Bach era o melhor criador de fugas. A idéia de que essa coisa é tanto um estado mental quanto uma estrutura musical é interesse, inspiração e método de longa data no meu trabalho.

É engraçado como você consegue algo de dentro do medo e da fuga, porque para mim o seu trabalho sempre passou uma sensação de conforto, segurança e de que tudo está dando certo no mundo. Eu não saquei mesmo o seu trabalho!
Talvez seja porque esses escritores sabem como escrever sobre o mundo e não fazer parecer completamente óbvio que eles o fazem.

E talvez não seja exatamente um sentimento de segurança que eu sinta no seu trabalho, mas algo como encantamento. Não acredito que acabei de falar essa palavra, encantamento. Mas não quero dizer isso no sentido mágico de bruxo, quero dizer um sentido mais tipo, “Que coisa é essa que estou olhando e fotografando.” Como se eu estivesse vendo você descobrir as coisas através da fotografia.
Bom, mas você achou as minhas fotos do Papai Noel reconfortantes?

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Talvez não essas. Essas estão no limite entre “hilário” e “amedrontador.” Mas sério, desculpe por ter falado “encantamento.”
Tudo bem. Mas é, eu também acho que a palavra “encantar” tem um sentido meio tosco por trás.

Mas você entendeu o que eu queria dizer, certo?
Acho que sim. Eu sei que tenho interesse na capacidade de uma imagem carregar algo ordinário, ou apresentar algo completamente fodido de uma forma reta, “objetiva.” Uma melancia sem caroço de um lado e um tubarão martelo do outro.

Eu já vi você trabalhando em uma boa quantidade de sessões, e acho que seu processo de tirar fotos parece ser muito ponderado e considerado.
Mas eu passo muito mais tempo olhando a foto da coisa que quero clicar do que a coisa em si. Talvez seja por isso que eu sempre retorno às mesmas fotos e temas. Depois que eu saí da escola, senti que precisava ter projetos com objetivos claros. Tipo, “Essa é a idéia ou tese ou sei lá o quê e esses são os exemplos do que eu estava falando na tese.” Na época eu era obcecado por tipologia alemã e tal. O Jeff Wall e o Christopher Williams pareciam para mim os fotógrafos mais inteligentes na história da humanidade. E sim, isso foi nos anos 90.

Muito anos 90, mas não necessariamente ruim!
Em algum momento eu percebi que estava de saco cheio desses projetos, e que manter essa singularidade era muito cansativo. Eu queria começar a manter as fotos em grupos pequenos, e aí eu fazia grupos menores quando as editava. Ao mesmo tempo eu tinha acabado de me mudar pra Nova York e estava fazendo fotos para capas de discos de amigos, tipo pro Andrew WK e pro Fisherspooner, assim como umas coisas mais comerciais para vários clientes diferentes, tipo Allure e The Times. Esses trabalhos pareciam para mim coisas que faria só uma vez, para criar um portfolio aleatório, em contra-partida ao meu trabalho pessoal.

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Por que você quis fotografar a Lua?
Eu sempre gostei da Lua como algo para fotografar por vários motivos. Um deles era a guerra; outro porque é algo realmente velho. Eu também gostei de que, para tirar a foto, tive que mergulhar em umas merdas especializadas de amador. Acabei descobrindo que muitas pessoas estão tirando a mesma fotos toda noite. Eu usei uma lente de 20 cm com uma câmera de médio-formato. Tive que arranjar um adaptador personalizado feito por um cara que mora no meio do Queens. Daí eu tirei as fotos do meu telhado, em Williamsburg.

Espera aí, como assim a guerra está relacionada com a Lua?
Eu estava tirando fotos da Lua ao mesmo tempo que estavam se preparando para a invasão [do Iraque] em 2003, e eu ficava lendo notícias falando que o exército estava esperando a lua cheia para invadir à noite.

Muitas das suas fotos parecem explorar a área e a vida suburbana. Você pode me contar um pouco sobre isso? O que você espera encontrar ou descobrir quando fotografa essa área?
Eu acho que sou fascinado pela área suburbana porque cresci lá.

Existe um clichê muito grande em livros e filmes sobre essa área. Sempre falam “do podre que existe escondido na área suburbana.” Mas não é isso que você mostra na suas fotos.
Pois é, não é muito o podre que me interessa, mas esse confronto vazio que você encontra na área suburbana. Ultimamente, para mim, parece que esse vazio está consumindo a área cada vez mais. No momento eu estou conversando da sala de estar reformada da casa dos meus pais. Vim visitá-los. Pelo menos eles tem internet sem fio na casa, então não preciso ir para o Starbucks da esquina para ver meus emails.

Ah, mas isso é ruim, porque não foi nesse Starbucks que você conheceu o Papai Noel das suas fotos?
Sim. Eu conhecei o Papai Noel Dan no Starbucks aqui em Dunwoody Village, na área suburbana de Atlanta. Era 26 de dezembro e, obviamente, era seu primeiro dia de folga em muito tempo. Eu estava trabalhando em um projeto sobre as coisas da área suburbana e ele me pareceu encaixar nessa idéia. Fiz um acordo com ele: se fizesse novas fotos para o seu portfólio, eu poderia usar algumas delas no meu projeto. Aconteceu que eu não consegui usar as fotos até muito tempo depois porque pensava que elas eram muito assustadoras, ou tristes ou algo assim. Às vezes demora um tempo mesmo.