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Opinião

É esta a próxima “Geringonça”?

Viagem até às Legislativas de 2019, depois de conhecidos os resultados das Autárquicas de 1 de Outubro de 2017.
Costa & Cristas. Uma futura aliança para perpetuar os socialistas no poder? Fotos via wikipedia. (Montagem VICE Staff)

Após uma noite eleitoral, é natural olhar-se para os resultados como se fossem uma bola de cristal para o que aí vem. Nas últimas horas, com as conclusões decorrentes das Autárquicas deste 1 de Outubro, o PS de António Costa sai reforçado e, diz-se, a caminho de uma maioria absoluta nas Legislativas. A bem do País, espero que não.

O recado comunista e o bloco lisboeta

Dos vários resultados conhecidos no domingo, a passagem de vários bastiões da CDU para as mãos socialistas - como Almada e Barreiro - poderá ser relevante daqui em diante. Os comunistas, pela voz do seu líder, Jerónimo de Sousa, deixaram o seguinte recado: "A perda de presidências (…) é, sobretudo, uma perda para as populações que não demorarão a perceber o quão errada foi essa opção".

Especulando para além do óbvio, será que não há aqui um sinal de que os comunistas não vão facilitar a vida ao actual Governo? E que, segundo o comentador da SIC, Marques Mendes, devem aprovar o orçamento deste ano e o seguinte népia? Seja como for, se esse pensamento estiver correcto, é de esperar o soltar dos "cães da CDU" (traduzir para mais manifs e reinvindicações dos sindicatos), com o objectivo de interferir nos planos alinhavados pelos "amigos" do Largo do Rato.

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E o que dizer do outro "amigo" da "Geringonça"? Como se esperava, o Bloco de Esquerda nem foi carne nem peixe. A força autárquica do partido é quase insignificante (apesar de já ter sido "dono" da câmara de Salvaterra de Magos), mas não deixa de ser uma vitória o regresso de um vereador seu a Lisboa. Relativamente à sua colaboração com o governo de Costa, pouco deve ser alterado. Irá fazer o barulho possível nos próximos orçamentos para que alguma da sua agenda seja respeitada, só que dará sempre o handshake necessário para que o acordo parlamentar siga em frente.

Como se sabe, mais do que admirar as políticas do PS, tanto o BE e a CDU sempre tiveram como grande alvo a figura de Passos Coelho e tudo o que ele representou enquanto governante. Ou seja, para a esquerda com maior protagonismo na vida social portuguesa, Passos será sempre o "diabo" a evitar e os socialistas um mal necessário.

Passos no fim da linha e Cristas a crescer (com um mentor especial)

E como se saiu o "belzebu" nestas eleições? Super enfraquecido. Ao escolher, por exemplo, candidatos pouco apelativos para o Porto e Lisboa - Teresa Leal Coelho, em paralelo com a Ministra da Administração Interna, faz lembrar uma professora com ar de eterno bocejo -, Passos traçou o seu destino. Resta-lhe a consolação de ver André Ventura a somar mais um vereador em Loures (bem, se este apoio for considerado coisa boa … ).

É ver, nos próximos tempos, se ele vai até ao fim da linha - concorrer nas próximas legislativas - , ou preparará a sucessão com um nome do seu círculo de "laranjinhas". Aqui, Luís Montenegro perfila-se como o "protegido" para fazer frente à (ainda) hipotética candidatura de Rui Rio. De qualquer forma, o partido de Sá Carneiro vai precisar de muita uva para que volte ao governo. É que quilos de parra não lhe faltam.

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Quem ficou com um sorriso de orelha a orelha foi Assunção Cristas. Deu uma lição ao PSD por este não ter aceite uma coligação na capital e conseguiu um resultado surpreendente. Atingiu a segunda posiçãocom 20 por cento (mais nove pontos do que os sociais-democratas) e legitimou a sua liderança no CDS-PP. E o que fazer com este resultado no futuro?

Como a maioria absoluta é muitíssimo má conselheira, daqui a dois anos, nas Legislativas, espero que ninguém a obtenha, a bem da sanidade mental e financeira do País. Basta ver o nocivo que foi nos governos de Sócrates e Cavaco, com o primeiro alegadamente a pensar que era o "Rei Sol" para os seus bolsos.

Caso isso se confirme, e sabendo que o Bloco e a CDU têm alergia em assumir pastas ministeriais; que os socialistas estão desejosos para deixar de "baixar as calças" a Jerónimo e Catarina Martins; que este PSD parece o Benfica imóvel e agarrado ao passado recente; não espanta que um CDS em crescimento pudesse formar uma nova "geringonça" com o PS. Costa e a sua "entourage" não se importariam. O fundamental é manter o poder. Com quem, é o menos importante.

Básico: tudo dependerá, entre outras coisas, de como irá ser o ritmo económico da Europa; das asneiras que os ministros façam; do estado do "apadrinhamento" de Marcelo ao Governo; ou de quem vai ser o próximo líder do PSD. Básico parte 2: e também dependerá dos conselhos que Assunção receba do "Paulinho das Feiras" … No Largo do Caldas, acredito que se diga em surdina que "atrás de uma grande líder há sempre um grande mentor".