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Música

Fomos lá e vimos: Wim Mertens

De cada vez que havia uma saída havia uma ovação.

Apesar das visitas menos frequentes do que qualquer devoto preferiria, a cumplicidade de Wim Mertens não só é asusmida, como está registada. Já passaram mais de 20 anos desde a gravação de um concerto ao vivo em Lisboa, e em 2012 o compositor belga consumou a relação com o nosso país com a escrita de “When Tool Meets Wood” — encomendada pela então Capital Europeia da Cultura, Guimarães. Esta semana Wim Mertens veio mostrar esse trabalho, mas também uma breve antologia dos êxitos mais reconhecidos, à Aula Magna e à Casa da Música. Fomos a esta catedral nortenha testemunhar o elo entre o público português e o compositor na nobre Sala Suggia. Apresentando-se com acompanhamento diferente do que havia sido anunciado, o trio da casa da música compôs-se de um violoncelista e um clarinetista/alto-sax. A primeira parte foi, então, uma apresentação do trabalho composto no âmbito de Guimarães 2012. Uma sala repleta de reverência voltou todo o seu âmago para o palco calorosamente mas levemente iluminado, e os dedos do mestre belga começaram a mover os ânimos. Originalmente composta para interpretação com orquestra, as três vozes presentes desdobraram-se numa recitação ofegante de composições com uma estrutura sinfónica. Ofegante, mas não opressiva: o toque melífluo de Mertens ainda deu azo a que uma quarta voz se juntasse — a do próprio pianista, que apenas canta no seu dialecto exclusivo quando assim o sente. Quanto aos companheiros de palco, resultados diferentes: o clarinetista brilhou, executando solos seguros e sem uma única nota em falso ou fora do padrão emocional; já o violoncelista mostrou-se incapaz de fazer um contrapeso a estes dois gigantes, e mostrou-se resignado a providenciar o tecido de fundo. Finda a primeira parte, os devotos que enchiam a Sala Suggia trocavam olhares de ansiedade. As introduções estavam feitas, agora viria o recital de canções que ao longo dos anos sempre os haviam acompanhado nos momentos mais íntimos. Eruditos e ouvintes casuais partilhavam a mesma corrente electrizante. E, de facto, foi nada menos do que um turbilhão aquilo que lhes caiu em cima. Começando por visitas atávicas a este e aquele álbum, a verdadeira celebração começou com a primeira, falsa, despedida. O vigor das palmas não esmorecia e transformava-se numa ovação em pé. O mestre agradecia, generosamente pedia para o tributo ser prestado também aos seus companheiros, retirava-se. E de seguida voltava com mais um hino. Foi assim com “Close Cover”, foi assim com “Often a Bird”, e foi assim com o retumbante “Struggle for Pleasure”. De cada vez que havia uma saída havia uma ovação. O carinho foi denso e, como sempre, a relação entre Wim Mertens e Portugal ficou fortalecida.