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Música

Os Xungaria no Céu vão ao Vodafone Mexefest curtir como se fosse 1999

Um colectivo de adolescentes que mistura hip-hop, rap, punk-rock, entre outras coisas.

O ano de 1999 não só viu nascer a FlorCaveira, sob o lema de “Religião e Panque-Roque”, como também serviu de inspiração a um muito célebre tema do Prince, que fazia do presente o momento certo para curtir — como se o mundo estivesse prestes a acabar. Com uma visão ao alcance de poucos, Prince transformava assim o single “1999” numa chamada urgente à celebração, porque o medonho 2000 estava ali mesmo à porta e a partir daí —

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oops

 – não haveria mais tempo para dançar.

O tempo transforma os ânimos e, recorrendo a um salto temporal semelhante ao de Prince, a FlorCaveira unida agora em Xungaria no Céu retrocede ao espírito dos anos 90, porque é nessa década que se sente mais jovem, enérgica e totalmente despreocupada. Será por isso também que Xungaria no Céu soa ao mais old school de todos os projectos da FlorCaveira. A velha escola rege-se por várias regras (respeito e irmandade são valores sagrados), mas também concede espaço a todo o tipo de liberdades.

Faz isso com que os Xungaria no Céu sejam, na sua essência (um loop, um ritmo, microfones em punho), um colectivo de hip-hop que alterna entre o rap, o reggae, o punk-rock e tantos outros géneros, com a mesma naturalidade e falta de complexos. Não nos admiraríamos portanto se o Palácio da Independência (Lisboa) recebesse, no primeiro dia do

Vodafone Mexefest

, uma daquelas festas inesquecíveis em que vale tudo e sobretudo proporcionar um serão bem passado a todos os presentes.

Depois de assistirmos a algumas aparições recentes dos Xungaria no Céu, não sobram sequer dúvidas sobre qual é a missão de Tiago Cavaco (o artista anteriormente conhecido por Tiago Guillul) e dos seus rapazes: ou seja, procurar sempre incluir o público numa celebração rejuvenescedora comum a todos e não apenas a quem está em palco. Em conversa, Samuel Úria, cavalheiro robusto e dono das melhores patilhas do país, faz a ponte entre 1999 e a juventude, e explica que, em Xungaria no Céu, “há um lado enérgico, quase aeróbico, que nos faz querer festejar como se fosse 1999. Literalmente 1999 e não apenas como citado pelo Prince". A ideia de novidade também por aqui anda, uma vez que, segundo o próprio, "este é o primeiro colectivo da FlorCaveira em que entro depois dos 30 e após já ter feito da música profissão, mas a atitude é como se estivesse com 19 anos em 1999". Além de que "há um lado de caos, de confusão, de alegria adolescente, que teria todo o sentido quando éramos putos e nenhum de nós fazia carreira disto”, confessa-nos.

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Agora que são adultos, embora eternamente menores no coração (como cantam os Minor Threat), os membros da FlorCaveira congregados em Xungaria no Céu têm uma experiência acrescida (proveniente de muitos concertos e projectos diferentes) que lhes permite seguir o caminho que entenderem, com uma coragem que pertence apenas aos bravos. O primeiro dia do Vodafone Mexefest (29 de Novembro) coloca-nos a todos em situação privilegiada para sentir de perto essa força que existe no desdobramento dos Xungaria no Céu, que tão depressa parecem os Run-DMC, como logo depois conseguem

dropar

 um sample roubado aos Rancid ou aos Goldfinger.

O patrão da FlorCaveira, Tiago de Oliveira Cavaco, aproveita a deixa dos Run-DMC para recordar como o produtor Rick Rubin é um dos seus principais guias na utilização do sample: “Tal como lia no outro dia explicado por si próprio, o Rick Rubin entende o 'produzido por' como 'reduzido por'". Para o pastor, "produzir tem muito mais a ver com pegar naquilo que está feito e reduzir ao que realmente interessa. Este disco segue esse lema. Por exemplo, uma das músicas mais elogiadas tem sido 'O Futuro do Chão Não Passa', que basicamente era a parte final da canção 'Prolongamos o Sonho', dos Pontos Negros. Pegámos só no finalzinho e metemos letra nova porque, na minha opinião, o finalzinho era melhor do que todas as outras partes da canção. Esse é o meu negócio”. Logo de seguida, Tiago confessa estar “em modo Beastie Boys desde o álbum anterior

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Amamos Duvall

”, e é nesse preciso momento que nos ocorre que o disco de Xungaria no Céu pode até ser o

Paul’s Boutique

 da FlorCaveira.

Ultrapassados os vários tópicos, fica a sobrar o tempo suficiente para tentar saber por onde andará a Xungaria no Céu no restante Vodafone Mexefest. Atento aos manos, Samuel Úria promete calçar os seus melhores botins para chegar a tempo dos concertos de Alex D’Alva (membro de Xungaria que actuará também como D’Alva) e dos RAC (“conheço o André Allen Anjos desde que nasceu”), ambos a ter lugar no primeiro dia do festival. Alex D’Alva, por sua vez, espera “conseguir ver Wavves, Glasser e Los Waves”, e nós esperamos ver a sua

pinta de Príncipe de Bel-Air

 por lá também.

Ilustração por Pedro Lourenço.