"Apontar a arma na cabeça de uma pessoa e tirar algo que é dela dói muito no coração", diz Gabriel*, há 10 meses na Fundação
Mundão
A Fundação Casa assiste jovens de 12 a 21 anos em todo o Estado de São Paulo que cometeram atos infracionais – e não "crimes", como são chamados os delitos praticados por adultos. Em Pirituba, todos estão privados de liberdade. Ou seja, internados. Mas os próprios garotos afirmam estar "presos". Para eles, é como se o termo "interno" fosse mero eufemismo.Em funcionamento desde 2003, a unidade Pirituba se divide em dois prédios. Cada um comporta 41 jovens. Dentre eles, somente um é reincidente.Em novembro do ano passado, um susto. Parte dos internos fez uma rebelião na qual dois funcionários ficaram feridos. Um deles voltou à rotina normal de trabalho. Já o outro está afastado pelo INSS. Por conta dos ferimentos, teve de passar por uma cirurgia e agora está em recuperação.De segunda a sexta-feira: a rotina de um interno na Fundação Casa Pirituba
5h30: todos acordam, arrumam as camas, tomam banho e café da manhã
7h: início das aulas
9h30: intervalo
9h50: retorno para a aula
12h20: horário de almoço e escovação de dentes
14h: aulas de ensino profissionalizante e/ou cultural
18h: jantar
19h30: atividades religiosas (facultativo) ou educação física
21h: todos tomam banho e vão para seus dormitórios
22h: as luzes da Fundação Casa são apagadas
Mesmo com a rotina pesada das aulas, João tem uma paixão: compor. As coisas engrenaram quando ele se aproximou de Rafael*, 17 anos. Utilizando cadernos – e, na falta deles, gravando tudo na mente, já que não podem levar folhas de papel para os quartos –, ambos produzem o que chamam de "funk realidade", com letras que falam sobre suas vivências no mundo do crime."Lá, no mundão, eu cantava, tinha DJ e tudo. Só que daí comecei a me envolver no crime e deixei de cantar", relembra Rafael*, há dois meses internado na fundação
A carreira do jovem MC, que está há dois meses internado, não começou agora. "Lá, no mundão, eu cantava, tinha DJ e tudo. Só que daí comecei a me envolver no crime e deixei de cantar."As namoradas podem visitar os internos, que continuam monitorados, e não em área privada. Porém, beijos (até mesmo selinho) são proibidos.
O que pode e o que não pode dentro da Fundação Casa Pirituba
Televisão: os internos podem assistir à TV em horários estipulados durante as férias escolares e também aos sábados e domingos. De acordo com o diretor da unidade, telejornais são evitados e o programa preferido deles é a novela Malhação.
Visitas: sábado é o dia de receber visitas de familiares. Os que trabalham podem conseguir autorização para visitar os internos aos domingos, mas isso é exceção. Durante a semana, existem as visitas programadas. O familiar pode passar um tempo acompanhando a rotina do adolescente.
Namoradas: no primeiro e terceiro domingo do mês, as namoradas podem visitar os internos, que continuam monitorados, e não em área privada. Porém, beijos (até mesmo selinho) são proibidos.
Internet: Não pode. Embora alguns cursos envolvam a utilização de computador, como o de webdesign, internet é algo proibido.
Ligações: internos que não recebem visitas podem fazer ligações, sempre acompanhados de um(a) assistente social.
Quartos: as acomodações possuem 5x6 metros quadrados e contam com três beliches (portanto, seis internos). No quarto, eles podem manter duas cartas de familiares e duas fotos.