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Música

Música: Bernardo Devlin

Uma ópera de horrores na estrada secundária da mente.

Sic Transit
Nau
7/10 Tinha acabado de entrar no meu primeiro concerto de Bernardo Devlin quando coloquei a mim mesmo a questão: “É pá, morreu alguém?” Ele demonstrava uma postura um pouco teatral e cantava como um crooner pronto para desanimar funerais. A voz soava a Scott Walker (comparação inevitável) e as letras eram pesadas ao ponto de serem incomodativas. Não é muito agradável entrar numa sala e farejar a morte, e ali estava eu no meu primeiro concerto-funeral, um bocado acagaçado. E todo este pesar palpável alastra-se aos discos de Bernardo Devlin, que parece quase sempre cantar sobre o que já morreu ou que está ainda por morrer. Inevitavelmente, um álbum de Devlin mede-se também pelo que tem de mórbido e fatalista. O novo Sic Transit não é assim tão diferente do anterior Ágio, mas é menos claustrofóbico e sufocante. Muitas vezes até surpreende por deixar entrar alguma luz num universo que raramente a conhece, tal como acontece em “Esplendor frio”, que é provavelmente a melhor das sete faixas. Sic Transit, tal como é indiciado pelo seu título e aspecto visual, funciona um pouco como uma ópera de horrores na estrada secundária da mente, e tantas vezes parece um carro que apetece guiar como uma sirene que a polícia de choque ligou para fazer dispersar.