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Void metal: o novo conceito de headbanging em Portugal

Já existia pêlo na venta, mas faltava mais cabelo a esvoaçar.

Vivemos numa época que envergonha o pessoal do black metal mais extremo. Se os tablóides dos anos 90 foram encabeçados com notícias de grupos pirómano-satânicos altamente organizados e perturbadores — nomeadamente putos entediados a incendiar igrejas —, a segunda década do século XXI tem vindo a vexar qualquer metaleiro adorador de satã que se preze. Isto porque, por mais acutilantes que sejam os grunhidos e dissidentes riffs, o pessoal do metal mais negro não tem conseguido criar um impacto no ouvinte — membro da desprezível humanidade — tão eficiente como uma nova vaga de metaleiros cujo surgimento remonta aos anos 70 em Chicago, no país dos hambúrgueres. Se o metal dos Chicago Boys foi uma espécie de doom para os chilenos, a sua implementação na cena tuga abriu alas à criação de um estilo ainda não explorado até agora: o void metal. Esta variante inovadora caracteriza-se por um blast pungente e constante nos cidadãos, isto porque, após uma rajada de escândalos públicos que contribuíram para a redefinição da própria noção de escândalo, estes vanguardistas não cessam de surpreender a audiência com o seu audacioso desprezo pelo homo sapiens. Consta-se que o nome “void” surgiu do desejo ardente que este grupo possui em dizimar a classe média, contudo, outras fontes indicam que poderá tratar-se de uma referência ao conteúdo da caixa craniana de alguns membros parlamentares. Se, até agora, algumas bandas de black metal apenas conseguiram que um punhado de adolescentes bem preparados para a vida sucumbisse às sugestões suicidas implícitas nas suas melodias, o pessoal do void tem conseguido fazer disparar a taxa de suicídio portuguesa para números que impressionam de tal forma os membros da comunicação social que lhes causaram uma espécie de síndrome pós traumático, em que a capacidade de comunicar fica inviabilizada. Também se consta que o próprio headbanging do void é mais frenético do que o dos restantes estilos. Segundo Armando Netenício, voyeur profissional, o número de cabelos a esvoaçar freneticamente disparou nos últimos tempos, principalmente na altura de abertura de cartas com a conta do IRS. Da mesma forma que as socialites com vasta experiência sabem que criticar alguém é algo que se faz apenas nas costas da pessoa em questão, estes grupos, ao contrário do pessoal do black, procuram manter uma relação cordial com Cristo, pois nunca se sabe quando é que se poderá precisar dele para repor o equilíbrio orgânico das leis da oferta e da procura. Portugal é um país de grandes desígnios, constituído por auspiciosas fontes de águas termais alentejanas que, além de curarem sinusites, poderão ser, segundo a NASA, a origem da própria sinusite. Na mesma lógica lusitana, se o FMI é a causa do aumento de impostos, o próprio FMI também é a origem da cura, e daí a recente decisão de pagar a técnicos para nos mostrarem como é que se liquida dívidas em tempo record. Portanto, pessoal dos nortes, deixem de sacrificar cabritos e ponham os olhos nesta vanguarda: headbanging ao som do void metal, parece que é do mais bad-ass que há.