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Guimarães

Cinema, finos e gajas boas na esplanada

Em Guimarães, os filmes são adaptados à realidade local, com miúdas giras por todo o lado.

Arrancou esta semana outra edição de "Cinema em Noites de Verão", o mais antigo evento de cinema ao ar livre realizado em Portugal, que remonta à longínqua data de 1139. Nesse ano, para comemorar a vitória portuguesa na batalha de Ourique, D. Afonso Henriques mandou organizar uma série de eventos culturais e recreativos para todos os gostos, destinados a animar a malta cá do burgo. A Azurara Beach Party, o jogo de Solteiros contra Casados no campo do Benlhevai e o Cinema em Noites de Verão foram os espectáculos mais concorridos. Ainda hoje se ouve, na voz dos mais idosos, vários relatos elogiosos dessas grandes festividades. Nesse primeiro "Cinema em Noites de Verão"  que se realizou no castelo , foram exibidos diversos filmes que muito agradaram aos vimaranenses: um western com muitas sequências de acção; um filme de ficção científica ambientado em Júpiter (que até venceu o Oscar para melhores efeitos especiais e sonoros); um drama existencialista dinamarquês que propunha uma reflexão metafísica sobre os diospiros; uma comédia italiana com algumas cenas mais ousadas e, na última sessão, uma obra de um jovem e promissor cineasta português chamado Manoel de Oliveira, que veio propositadamente do Porto para apresentar o filme. Passados quase 900 anos, o Cineclube de Guimarães decidiu recuperar este importante evento e, desde 1989, passou a realizá-lo no Largo da Oliveira ou, sempre que os caprichos meteorológicos o ditassem, no Salão Paroquial da Colegiada da Oliveira. De acordo com os responsáveis do Cineclube de Guimarães, esta mudança deveu-se a vários factores estratégicos — o Largo da Oliveira é mais central, tem mais casas-de-banho e é muito frequentado por miúdas giras. Para 2012, na 24.ª edição da nova era do Cinema em Noites de Verão, há uma selecção muito cuidada dos filmes de agrado popular, que são autênticos marcos cinéfilos. A Invenção de Hugo, que abriu o evento, é um misto de comédia e ficção científica que trata da história de um replicante bolivariano construído em instalações secretas no Irão, com a ajuda de cientistas estalinistas da antiga URSS, que tem como único objectivo azucrinar a vida aos norte-americanos a partir da Venezuela. Um dos filmes mais aguardados pelos cinéfilos vimaranenses era O Artista. Este biopic não autorizado, com argumento inspirado num best-seller de Felícia Cabrita, recupera a história de um dos grandes ícones da cultura rock vimaranense: o mítico Bino Chouriça, o Iggy Pop de Cruz de Pedra. Recuando até meados dos anos 80, o filme retrata os tempos áureos do pai do rock vimaranense, quando este dominava as pistas da Jennifer, do Penha Club e da Croc. A versão a exibir será a Director’s Cut, que inclui cenas inéditas com Bino Chouriça num jantar de Velhos Nicolinos na noite do Pinheiro de 1984 e na festa privada de Paulinho Cascavel, Roldão e N’Dinga, depois do Vitória eliminar o Groningen no jogo da segunda mão dos oitavos de final da taça UEFA de 1986-87. Ainda por exibir, O Miúdo da Bicicleta traz-nos os anais da infância difícil de um jovem órfão que venceria em adulto a Tour de France e que depois seria desclassificado por um escândalo de doping. Dias depois, o Meia-Noite em Paris conta a vida de um guarda-nocturno emigrante vimaranense na capital francesa. Já Os Descendentes relata o miserável destino dos filhos bastardos do nosso Afonso Henriques nos últimos 900 anos. E, para terminar em grande, dia 29 de Agosto exibe-se Le Havre, que em português significa refúgio. E mais não digo. Vantagens: podes trocar a praga das pipocas por umas tapas como deve ser ou por uma alheira assada. Podes pedir os finos que conseguires beber em duas horas de película na Praça da Oliveira e deixar de lado o miserável refrigerante de água choca do capitalismo. Esquece as filas para comprar o bilhete e o cheiro a mofo, porque é uma sala de cinema ao livre. Ah, e é de borla! Desvantagens: haver tanta gaja boa por metro quadrado, o que pode resultar em não veres puto do filme. Para te armares em intelectual no dia seguinte, relê este artigo e espeta as sinopses descritas acima numa conversa qualquer. E fazes, assim, figura de urso.