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Histórias de mulheres que encontraram o amor (ou algo parecido) na festa de fim de ano da firma

Sim, pode acontecer.

Ilustração por Ella Strickland.

Quem encontra o amor na festa de final de ano do trabalho? E, por amor, eu quero dizer uma pegação despreocupada ou um pouco daquilo que você classificaria como sexo. Um pouco de contato humano para se sentir menos solitário depois de um longo e cansativo ano de trabalho. Vamos lá, levantem a mão. Porque, apesar de esse ser considerado um dos eventos menos sensuais do ano (bebida quente, companhias estranhas e conversas deploráveis sendo a norma), uma parcela das mulheres já tocou partes dos colegas de trabalho que nunca pensou (ou pensou) em tocar antes.

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Mas as festas do trabalho não dão sempre em uma cagada que te assombra para sempre. Segundo uma pesquisa (totalmente confiável e científica) que apareceu na minha caixa de entrada nesta semana, uma em cada sete mulheres já entrou num relacionamento de longo prazo com um colega de trabalho depois de muita batida de maracujá na festa de natal do escritório. E, aparentemente, o mesmo número de mulheres está "de olho" em alguém do trabalho, esperando que as coisas fiquem mais íntimas após umas cervejas mornas e uns punhados de amendoim.

Pela minha experiência, a coisa mais "sexy" que já aconteceu numa festa do escritório foi uma colega mostrar o sutiã. E acho que nem foi na minha direção.

Entretanto, a confraternização do trabalho pode mesmo ser um terreno fértil para o romance? Pedimos a quatro profissionais mulheres para contar suas experiências românticas na famigerada Festa da Firma.

CONHECI MINHA NAMORADA E ME APAIXONEI

Foi em 16 de dezembro de 2006. Eu trabalhava como recepcionista num teatro de West End, e nossa festa de natal aconteceu no Theatre Royal Drury Lane.

Sentei na escadaria do teatro, me sentindo empolgada com o moletom novo da Rip Curl que eu estava usando e com um copo plástico de champanhe na mão. Uma garota – vamos chamá-la de Denise – chegou e sentou do meu lado. A Denise era lindíssima, heterossexual e já tinha transado com um garoto que fez um comercial de manteiga de amendoim – ou seja, ela estava obviamente fora da minha liga. Também devo mencionar que eu estava usando uma calça de veludo boca de sino vermelha e não tinha começado a tingir minhas sobrancelhas ainda; então, eu sempre tinha a cara daquele emoji chocado de boca aberta. Conversamos, curtimos, e aí veio a pergunta que agora sei que é um SINAL VERMELHO PISCANTE DE ALERTA. Denise disse: "Então, você é lésbica? Não consigo imaginar como é, sabe, chupar uma garota…".

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Agora que já dou meus rolês há mais de uma década, posso dizer com propriedade que garotas completamente heterossexuais não fazem essa pergunta. Elas não passam muito tempo pensando em sexo oral com outras mulheres porque, sei lá, acho que o que elas curtem mesmo é salsicha. No entanto, e garotas hétero que têm um desejo secreto de pegar outras minas? Elas adoram encher a cara, encurralar lésbicas e fazer essa perguntinha. Aquela eu de vinte anos não sabia disso ainda; por isso, respondeu sinceramente: "Sei lá. É normal. Eu gosto".

Ficamos naquela escada, conversando, a noite inteira. Em questão de horas, eu fui de não saber o nome dela para saber tudo sobre ela – e depois perceber que, mesmo se eu fizesse o download do cérebro dela no meu, eu NUNCA ia saber o suficiente sobre ela. E aí a gente se beijou.

Me apaixonei pela Denise de um jeito que nunca me apaixonei por nada antes. Ela saiu do armário. Tornamos a coisa oficial. Crescemos juntas. Nos tornamos pessoas melhores. E, depois de cinco anos juntas, ela me pediu em… brincadeira. Ela me traiu e despedaçou meu coraçãozinho.

Porém, numa reviravolta chocante, resolvemos essa questão, e, anos depois, ela é uma das minhas amigas mais queridas. Clássico comportamento de sapatona. E tudo isso por causa de uma festa da firma. – Kayleigh Llewellyn

FESTAS DA FIRMA SÃO A PIOR COISA DO MUNDO

Eu nunca conseguiria imaginar uma atmosfera menos condutiva para um romance de conto de fadas que uma festa da firma. Para algumas pessoas, esses eventos estão cheios de possibilidades românticas. Claramente, nunca trabalhei nos mesmos lugares que essas pessoas. No meu escritório, a festa de natal começa no carpete em volta das mesas, com copos de plástico de espumante morno, tendo uma conversa muito groselha com uma tia da contabilidade para quem eu nunca nem mandei e-mail.

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Se você trabalha na "indústria criativa", a festa pode ter uma ilusão de glamour mais ambiciosa. A coisa toda é transferida para algum local de eventos de aluguel barato, onde as pessoas vão disparar como cachorros de corrida para o bar. Seja onde for a festa, a única pessoa que você já considerou pegar do escritório vai resolver ir embora por volta das 11 horas, falando alguma coisa sobre uma viagem para um lugar paradisíaco com a namorada – uma mulher que você nunca conheceu, embora sinta um certo ódio. Depois disso, você vai poder rodar o salão, sabotando gentilmente sua carreira de maneiras que só vão ficar claras durante o próximo ano. Apesar de ninguém estar "se divertindo", a atração do bar certamente vai sugar todo mundo como mariposas se afogando lentamente na cera de uma vela de igreja.

Lá fora, os fumantes sociais vão compartilhar cigarros mentolados e anedotas sujas que você preferia nunca ter ouvido. Sua chefe conduz sua gestão de dentro de um reservado do banheiro, um cara da contabilidade tomando chopp submarino admite para você que não suporta a esposa e você começa uma paquera esquisita com o cara do TI. Isso pode ou não acabar em sexo muito bêbado na casa dele. Pela janela, você vai ver o cara de 40 e poucos anos do financeiro, que está passando por uma fase de usar chapéus, tentando impressionar a gerente mostrando que ainda sabe fazer a macarena. Essa exibição comovente marca o começo da contagem regressiva para as 2 da manhã, quando ele vai vomitar no seu trilby de veludo no banco de trás de um táxi. – Lucy Hancock

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ME APAIXONEI PELO MEU TRABALHO

Para mim, romance nunca esteve entre as prioridades da agenda festiva – a não ser contando a vez em que meu querido amigo e colega Ben tirou uma das bolas para fora da braguilha e tentou passar isso nas costas da minha mão, enquanto Gok Wan brincava com o cachorro dele na mesa ao lado. Mesmo assim, uma vez, me apaixonei numa festa de natal do trabalho.

Eu tinha 25 anos, tinha me mudado recentemente para Londres e morava num apartamento ligeiramente coberto de mofo preto com vista para Lidl. Eu não estava feliz, mas, graças a um DIU não hormonal e uma mudança de emprego, eu estava começando a me lembrar de como era se sentir feliz. A festa aconteceu na Shunt, um clube hoje fechado sob uma ponte ferroviária. Eu tinha tomada a precaução de não jantar e estava usando sapatos que não serviam para nosso regabofe anual. Quando entrei, dei de cara com uma bandeja de frisante e meu chefe filantropo rico num conjunto de moletom ultracolorido conversando animadamente com uma garçonete. Bebi, usei várias árvores de natal como cinzeiro, vi vários casais se pegando contra os casacos pendurados na parede e perguntei aos meus colegas em quem eles fariam um buraco para usar de canoa no caso de um apocalipse.

"Naquele momento, eu me apaixonei. Não por uma pessoa, mas pelo meu emprego."

Pela primeira vez em muito tempo, eu estava trabalhando com gente jovem – pessoas que me faziam rir, que odiavam o natal, que faziam dancinhas que podiam facilmente resultar num colar cervical e que ficavam felizes em se pegarem contra uma parede de jaquetas puff. Estavam me pagando para escrever, eu não tinha mais que vender concentrado de suco de uva e conseguia pagar a passagem de trem em vez de ter de pegar ônibus.

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Naquele momento, eu me apaixonei. Não por uma pessoa, mas pelo meu emprego. E levaria meses, se não anos, para eu começar a transar com qualquer um dos meus colegas. – Nell Frizzell

AS PESSOAS SÃO SUJAS – E ISSO É ÓTIMO

Talvez sejam os vapores das 20 latas de xampu a seco sendo disparadas no banheiro das mulheres. Talvez seja o fato de que você odeia seus colegas. Talvez seja a musiquinha de natal que alguém está tocando no PC desde as 9 da manhã. Só que tem alguma coisa nas festas da firma que transforma todo mundo num maníaco hormonal. Abastecida por um open bar (até as 21 horas) e toda uma variedade de presentes do Amigo Secreto, toda sua persona muda. Se você está num relacionamento sério e apaixonado – como eu estava –, a temperatura sobe e você começa a se comportar, honestamente, como uma biscate.

Por exemplo, o ano em que eu estava trabalhando num jornal. Num vestido colado, decidi cair na pista ao som de "Diamonds", da Rihana, sabendo muito bem que um editor sênior estava atrás de mim, perplexo, assistindo a meus movimentos sensuais. Na hora, me senti sexy. Empoderada pela minha feminilidade. Mas é isso que 12 taças de champanhe fazem com você.

Naquela mesma noite, recebi a proposta mais romântica de todos os tempos de outra pessoa: "Vou lá fora pegar um táxi. Me encontre daqui a dez minutos. Ninguém precisa saber".

Entretanto, isso é só parte do ritual de humilhação que fazemos todo ano. Qualquer colega ligeiramente atrativo vira jogo. É algo mecânico, nem tão divertido assim, advindo principalmente do tédio e sempre doloroso no dia seguinte no escritório.

Por isso é que tanta gente encontra o amor nas confraternizações do trabalho: baixamos nossa guarda e agimos de um jeito que nem sonharíamos. Sim, há o risco de sair desiludida ou de ficar com um cara esquisito e problemático, porém, quando você aceita o risco, essas coisas podem mesmo acontecer. Então, vai – solte seu lado safado e veja o que pode acontecer. Mas pegue um táxi depois. – Helen Nianias

Tradução: Marina Schnoor.

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