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Entrevistamos o Bruno Maron de novo por que ele está lançando um livro

O Bruno Maron, quadrinista do Dinâmica de Bruto, está lançando o livro Manual de Sobrevivência dos Tímidos

Quando entrevistamos pela primeira vez o Bruno Maron, no longínquo ano de 2011, o tom era de que ele havia finalmente vencido sua timidez crônica. Seu blog de tirinhas humorísticas, o Dinâmica de Bruto, foi a alavanca final na superação do constrangimento.

O tempo passou, tanto o Dinâmica quanto o Maron foram ganhando penetração nas redes: muitos likes e compartilhamentos, espaço na grande imprensa, todo um mundo de possibilidades para “fazer essa porra virar”, como dizem nas ruas. Nessa conjuntura, o Bruno resgatou um antigo projeto, o Manual de Sobrevivência dos Tímidos. A ideia do livro surgiu muito antes do Dinâmica, durante a “golden age da timidez” do cara. “A ideia nasceu em decorrência de uma fase bastante sombria da minha vida, de consagração da inoperância social. Sinto até saudade, sabe?”, diz Maron.

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O Manual não é um compêndio de tirinhas ou, necessariamente, um livro. A inspiração estilística da parada são aquelas cartelas de segurança que vemos nos aviões, com traços retos e chapados, e cores fortes. A verborragia do Dinâmica dá lugar a um texto mais em prosa, mas que, ainda assim, tem o toque de autocrítica irônica do Maron. É tipo o hipsterismo que queremos, manja? Veja abaixo o vídeo-teaser do livro::

Neste sábado, 20, a editora Lote 42 promove o evento de lançamento da tão aguardada obra, que já está em pré-venda aqui. E eles nos deram vários presentes, que iremos compartilhar com você, caro leitor. O primeiro, é a versão digital do livro, que não vamos dar para ninguém, porque configura pirataria e isso ainda é crime no Brasil. No entanto, separamos alguns trechos bem fera do livro para ilustrar a descontraída entrevista que fizemos com o Maron. O outro, é que eles nos mandaram dois exemplares físicos do Manual para sortearmos. Para concorrer, siga as instruções depois da entrevista.

VICE: Inescapável pergunta: por que diabos fazer um livro?
Bruno Maron: Escrevi somente porque quase todo mundo escreve um livro, já percebeu? Acho um fenômeno muito bizarro: você entra na livraria e tem um trilhão de livros escritos por zilhões de autores. Como pode isso? Como tem tanta gente com essa audácia de colocar no papel algo que elas supõem que outras pessoas vão se interessar? Sempre pensei: "porra, eu nunca escreveria sobre nada" por dois motivos 1) eu não sei muito sobre nada, 2) só sei sobre minha vidinha sem graça que não interessaria a ninguém. No entanto, repensei: "todo mundo bota a bunda flácida na janela, vou botar também e foda-se".

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Em comparação com o Dinâmica de Bruto, a temática muda bastante. Como pintou essa mudança?
Na verdade o Manual é muito anterior ao Dinâmica de Bruto. A ideia nasceu em decorrência de uma fase bastante sombria em minha vida, de consagração da inoperância social. Foi a golden age da minha timidez, sinto até saudade, sabe? Só tive a oportunidade de lançar agora porque fui colocando um monte de prioridades na frente dele, inclusive, os quadrinhos surgiram muito espontaneamente e eu precisava daquele fôlego inicial. Eu ia tocando o livro paralelamente, de forma tímida mesmo. O livro é tão tímido que demorou a aparecer. Mas ó, taí o filha da puta.

O traço dos desenhos também é bem diferente. O que rolou, cara?
Eu queria fechar um conceito legal para o livro, fazer uma integração interessante entre desenho e texto. Sempre fui apaixonado pelos desenhos de cartela de segurança de aviões, especialmente os mais antigos. Sentia que, de alguma, forma aquele desespero das situações de emergência combinava com o sufoco da timidez. Apesar de achar muito prazeroso fazer o desenho escangalhado do Dinâmica de Bruto, quero me arriscar em outras experiências no campo da ilustração.

Logo ali no começo do livro você diz que o Manual não é um livro de autoajuda. Então, é o quê?
É um livro bobo e descartável, que talvez provoque algumas risadinhas efêmeras. Também dei a dica no próprio livro: serve como calço para mesas bambas de botequim. Vai encher a caveira que é mais vantagem. A timidez é uma coisa muito charmosa, acho feio uma pessoa entrar numa livraria e comprar um livro acreditando que vai sair curado da timidez.

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Em nossa outra entrevista, você falou bastante sobre a classe média. Nesse meio tempo, você superou esse conflito de classes e partiu para uma viagem introspectiva em seu ser ou nada a ver, tô falando merda?
Eu parei de martelar na questão das classes? Eu adoro esse tema, se você percebeu que me afastei, então tá na hora de voltar. Não posso falar de outros países, mas percebo que o Brasil é um país muito dinheirista. A clivagem socioeconômica tem uma força desproporcional que induz — de forma quase osmótica — um respeito inflacionado pelas pessoas com muito dinheiro e consequentemente, com muito poder. Existem alguns tipos de miséria, dentre elas a miséria espiritual, que considero o estágio final da degradação humana. Mas qual é a miséria mais identificável, mais massacrada, mais repudiada? Sempre a merda da miséria socioeconômica. A miséria espiritual é a mais democrática de todas: está presente de forma maciça em todas as classes. Infelizmente, a inteligência humana é presidida por questões práticas e urgentes da esfera socioeconômica. O foco está sempre na economia, nunca no espírito, na vida interior. Não que tenha muitas viagens introspectivas, porque como disse há pouco, não tenho nenhum vasto tesouro interior, mas o mínimo que posso fazer é reconhecer a importância de cultivar a contemplação.

No Manual você fala que não comeu ninguém nas instituições de ensino que frequentou. O Dinâmica ajudou a quebrar essa sequência de derrotas ou não?
HAHAHAHHAHAH cara, abandonei esse lance de sexo há tempos, isso não é coisa de Deus não. Acho que escrevi isso no meu blog, sobre sexo: a sensação é maravilhosa, mas a posição é ridícula. Meu sonho é fazer sexo por bluetooth.

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Você também fala que é um "tímido de raíz". Fazer o Manual te ajudou a melhorar isso?
Melhorou completamente. Hoje, consigo rir de tudo. Digo que sou tímido de raiz porque meu pai é um dos fundadores da timidez, lá no Brasil dos anos 1950. É uma tradição forte, que requer uma lealdade a qual eu não estava preparado para sustentar. Sou um dissidente.

Quem acompanha os noticiários sabe que, aparentemente, a internet e as redes sociais são a nova sensação do Brasil. O Manual pode ser de alguma utilidade para essa nova horda de internautas?
Nas manifestações recentes, alguns cartazes diziam: “SAÍ DO FACEBOOK E VIM PRA RUA.” Quero que as pessoas leiam o livro e levantem esse cartaz: “SAÍ DA RUA E VOLTEI PRO CASULO”.

A Alexandra, d'O Pintinho, é quem escreve o prefácio. Por quê?
Porque sou um frango ateu militando pelo Estado laico. Ela ficou com um pouco de pena.

Deixe um recado para o jovem navegante da web que curte o Dinâmica e deseja comprar o Manual, e outro recado para o incauto novo classe média que está descobrindo este sensual mundo do humor on-line.
Jovem navegante: não compre o livro, a não ser que você queira dar de presente pra sacanear algum amigo tímido. Incauto novo classe média: riam escondidos, pois a risada é o novo cigarro.

Para concorrer aos dois exemplares do livro você precisa seguir nosso perfil na rede social de piadas curtas Twitter (@VICEBrasil) e dar um retweet (RT) nessa mensagem. Na sexta, 19 de julho, às 18 horas, vamos divulgar os privilegiados ganhadores.