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Guimarães

Ser vimaranense é melhor do que comer gémeas suecas

Uma questão de pedigree.

Sendo eu desta cidade, posso-vos jurar a pés juntos que os vimaranenses conhecem Guimarães de cor e salteado — pode parecer parvo dizer isto porque conhecer as ruas, os hábitos e as pessoas do sítio onde se vive é tão normal como gostar de ter sexo com gémeas suecas (para os mais distraídos: nunca é demais relembrar que são DUAS suecas). Não é uma coisa de grupo ou de tribo, não é uma família, é uma forma de vida que nos faz cantar em uníssono o hino da cidade no fecho da discoteca, o mesmo hino que toca na igreja de São Pedro, onde vamos à missa às sete da manhã de domingo. A malta da cidade berço interessa-se em ser raçuda porque ser de Guimarães é mesmo isso, ter raça — é um atestado de

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que nos une a todos num elo inseparável. Para os mais distraídos: "gémeas suecas" significa "duas ou mais suecas". Esta união é tão umbilical que, quando alguém de fora se cruza com um gajo de Guimarães e admite que já contactou, numa dada altura da sua vida, com alguém desta cidade, o vimaranense (se for de raça pura) pergunta: “e como se chama? Ele pára nas praças? Eu conheço-o!”. Mesmo que não faça ideia de quem se está a falar, acredita que sim. Não o faz por mal, fá-lo porque lhe está no sangue. É como se a cidade tivesse tão pouca gente que coubesse, inteira, numa cabine telefónica. A verdade é que todos conhecem, desde pequeninos, o Rodrigo Areias, a Ana Dulce Félix (a memória reavivou-se de há 15 dias para cá), o Tó do El Rock e o Bino Chouriça. Isto permite que, numa conversa normal, eles assumam que nunca viram o filme Estrada de Palha, mas que tenham autoridade para dizer que o conhecem porque “ah, o Rodrigo vai à mesma pastelaria do que eu”, ou então chegar à conclusão que, por passarem várias vezes pela porta da fábrica onde a Félix cosia meias todos os dias, isso cria um laço inexplicável entre ela e as gentes do concelho. Metade destes gajos devem ter andado comigo na escola. Mesmo quando vemos a bola na televisão (apreciar a cultura táctica do Vitória de Guimarães é, todos os vimaranenses o sabem, de nível), nós, a malta de Guimarães, perscrutamos o monitor quando a câmara filma a bancada para ver se reconhecemos algum dos elementos dos White Angels que está orgulhosamente de tronco nu a abanar cachecóis pretos e brancos, apenas para depois nos gabarmos que aquele gajo que está ali, de peitaça à mostra, andou na nossa escola secundária. Depois, como manda a lei, contamos a história de que em Guimarães não há outro senão o VSC e que, se houvesse uma tentativa de abrir uma delegação de fãs de outro clube na cidade, esta seria imediatamente volatizada em chamas, connosco munidos de acendalhas e cocktails molotov na linha da frente das diligentes milícias de vimaranenses que ordeiramente impõem a calma e a tranquilidade desportiva na urbe. Este é o look que adoptamos quando fazemos sexo em Braga. Assim sendo, este texto serve só para te avisar: se estiveres numa noite de copos com um vimaranense e quiseres contar aquela aventura muito badalhoca que tiveste com uma tipa de Guimarães, controla-te. É muito provável que se conheçam ou que sejam primos, irmãos ou, correndo muito mal, casados. Suaviza a coisa. Podes falar de sexo anal, mas diz que ela, na verdade, é para aí de Vizela. Ou, se quiseres ser um herói, diz que vocês eram mais de sete, que a montaram com a camisola 1986/87 do Paulinho Cascavel vestida e assumes à frente de toda a gente que a gaja era de Braga.