Mais uma vez, tiro, porrada e bomba na Cracolândia
Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

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Mais uma vez, tiro, porrada e bomba na Cracolândia

Seis policiais foram feridos e um fotógrafo foi atingido perna por um projétil.

No começo de tarde da quinta-feira (23), a Força Tática da Polícia Militar de São Paulo avançou sobre moradores da região da Cracolândia,  no Centro de São Paulo. Por volta das 12:30, policiais com escudos e armaduras tacaram bombas e spray de pimenta nos usuários de droga e frequentadores do fluxo, que responderam com pedras e objetos nos policiais e ateando fogo em barricadas improvisadas. Dois fotógrafos, cinco bombeiros e um policial militar também saíram feridos.

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A Craco Resiste, organização de direitos humanos que atua no fluxo, compartilhou com a VICE dois depoimentos de quem estava no momento da ação. Um deles, um trabalhador da Cracolândia que pediu para não ser identificado, disse que desde o começo da atuação da PM já estava presente um "aparato enorme" da Choque bloqueando a Rua Helvetia. "Os PMs foram passando de quadra em quadra atirando bombas e muita bala de borracha para dispersar a galera", relata. "Os usuários tentaram se organizar montando uma barricada. " Segundo a assessoria de imprensa da PM, a confusão começou porque a polícia seguia um carro suspeito que entrou em uma das ruas da Cracolândia e os moradores teriam atacado os policiais achando que se tratava de uma ação contra a região.

Rastros de sangue do fotógrafo atingido por um projétil. Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

O fotógrafo Dario Oliveira foi atingido por um projétil na coxa, e depois de socorrido pelos moradores do local foi levado até a Santa Casa. Segundo o fotógrafo André Lucas, responsável pelos registros da ação de hoje que ilustram esta matéria, vários disparos foram feitos durante o conflito. Um deles acertou a perna de Dário, o outro, na coxa de Tchelo, da agência Framephoto, que não se feriu mais gravemente por causa do celular no bolso. "Cheguei um minuto depois que aconteceu o disparo contra o Dário, ouvi o pessoal gritando dos prédios que ele foi atingindo". Procurada, a PM disse não ter informações sobre os fotógrafos feridos.

Celular do fotógrafo Chello, destruíndo durante a ação policial. Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

Até as 14 horas, uns pontos de conflito foram registrados pela Globo News, que exibiu frequentadores do fluxo atrás de barricadas improvisadas respondendo à investida da PM.

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Esta não é a primeira ação na Cracolândia que acaba em confronto. Em janeiro, a mesma situação se desenrolou no fluxo que, segundo a organização Craco Resiste, aconteceu porque muitas vezes os policiais passam pela área provocando os usuários e moradores.

Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

"Não vou citar meu nome, mas eu vi tudo", relata uma moradora da Cracolândia. "Humilhação, desumanidade, tratando as pessoas como zé ninguém. Ninguém é perfeito, perfeito é Deus. Tratar as pessoas assim porque usam drogas… Eu achei um absurdo esse negócio de jogar bomba, gás e spray de pimenta na gente. Isso é humilhação. Por quê? Porque eles tão de farda? E amanhã? Amanhã eles vão estar sem farda, sendo um ser humano que nem nós. Só que eles estão esquecendo que nós somos humanos que nem eles."

Dario, já na Santa Casa, tomando medicamentos. Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

Abaixo, mais fotos de hoje feitas por André Lucas:

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