FYI.

This story is over 5 years old.

cenas

Será a polémica injustificada o último recurso da pop?

Há 10 anos, a Janet Jackson arriscou tudo, quando Justin Timberlake lhe arrancou uma parte da roupa e a deixou com um mamilo à mostra, no palco da Superbowl.

Foto de Rob Sinclair.

Na última edição do SXSW (um festival anual de música e cinema que se realiza em Austin, Texas), os sonhos de muitos tornaram-se realidade quando alguém vomitou sobre a Lady Gaga durante a actuação. Momento este que a Demi Lovato criticou, por achar que era uma tentativa de normalizar os transtornos alimentícios (embora aquele vómito só fosse possível se ela tivesse bebido um batido de Tang de lima, combinado com o líquido fluorescente que está dentro daquelas barrinhas de luz das discotecas). Era parte da performance da Lady Gaga enquanto interpretava Swine, um dos temas do seu último álbum. Millie Brown, a artista que deixou Stefani Germanotta empapada, falou com a Noisey sobre o assunto: "Funcionava muito bem com o tema da canção, e com o tema das más energias e ver-se livre delas".

No entanto, existe algo nesse momento (tão GG Allin) que realmente encaixa no tipo de campanha que Gaga levou a cabo na tour de ARTPOP. Apesar da polémica relacionada com o acto em si, surgiu um debate à volta da humilhação das celebrities. Na era da selfie, onde o corpo das mulheres se objectivou a níveis inimagináveis, os cânones de perfeição são cada vez mais inalcançáveis, e tudo está tão comercializado que não há nada mais eficaz que uma estrela pop feminina, que utiliza o seu corpo como plataforma para uso e deleite do público.

Há 10 anos, a Janet Jackson arriscou tudo quando Justin Timberlake lhe arrancou uma parte da roupa, e a deixou com um mamilo (e um piercing) à mostra, no palco da Superbowl. A reacção exagerada do público (a comissão federal de comunicação multou todas as partes implicadas e a Janet desapareceu de todas as listas de êxitos) foi um daqueles momentos em que dizes: "Pensava que na América eram todos como os do elenco de Friends, mas… AFINAL ESTÃO COMPLETAMENTE LOUCOS". Também se demonstrou a facilidade com que o corpo feminino pode chocar os americanos. Toda a gente gostava da Janet, fosse nos seus tempos áureos, como actriz em Good Times, aos 11 anos, ou quando deu o seu primeiro beijo em Diff'rent Strokes, ou até da Janet hiper sexualizada e autora de temas como Sexhibition e Moist, do álbum Damita Jo. Mas assim de repente, aquele peito (negro e perfurado!) entra em acção, e o descontentamento é tão grande, que se gera todo um drama à volta desse mamilo insignificante.

Quando surgiu a polémica da actuação da Miley, nos VMA em 2013, pensei logo na Janet. A Miley também foi uma estrela infantil que conquistou os corações dos lares americanos, (graças à personagem Hanna Montana). A sua tentativa de mostrar um lado mais adulto e sexual provocou milhões de gestos de decepção e incómodo. O que aconteceu nos VMA foi um momento crucial para a destruição do seu passado Disney: os seus movimentos com a língua, a forma como se move, e coisas como a sua recente tatuagem de um emoticon em forma de gato, no interior do lábio inferior, são apenas alguns dos factores que mostraram ao público que a autora de discos como The Climb foi embora, para nunca mais voltar.

O mundo choca-se quando a Katy Perry pinta o cabelo de verde, quando a Madonna incrusta diamantes nos dentes, ou quando a Britney rapa o cabelo, mas talvez estes sejam alguns dos raros momentos punk que ainda nos restam, do mundo em que vivemos.