FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Pior Videoclipe Já Feito Estrelado Pelo Maior Otário do Mundo

O Ronnie Radke, vocalista da Falling in Reverse, uma banda de metalcore sem vergonha de Las Vegas, nos lembra por que o punk está morto.

Em algum momento dos anos 1990, a banda de queercore Pansy Division foi entrevistada pela revista Kerrang!. Naquela entrevista, eles compararam grandes bandas do pop punk como NOFX e Pennywise com aqueles tontos do metal farofa dos anos 80, o Mötley Crüe — afirmando que eles pareciam mais ou menos o mesmo tipo de pessoa (babacas baladeiros) que se comportava de maneira similar (sendo babacas em baladas), etc. Eles lamentavam que o punk estivesse virando um tipo de grêmio estudantil apolítico por meio da Warped Tour e da MTV. E mesmo com razão — o foco tinha mudado da luta contra o poder para a luta contra o vômito — eles nunca poderiam prever o Ronnie Radke. Ninguém poderia.

Publicidade

Ronnie Radke é o vocalista duma banda de metalcore sem vergonha de Las Vegas chamada Falling In Reverse. Um tempo atrás, o Ronnie demitiu a banda inteira por causa de uma discussão sobre venda de ingressos. Mas não sem antes lançar um videoclipe que faz a gente lembrar por que os terroristas odeiam os Estados Unidos, que o punk está morto e o que é ser uma porra de uma estrela do rock:

Sim, alguém, em algum lugar, achou que seria uma boa colocar um monte de emos para cuidar da coreografia de uma música de metalcore, colocar o cara mais irritante do universo para rimar e picotar um monte de sintetizadores trance sub-Skrillex por cima de tudo isso. Sintetizadores que parecem mijo gangrenoso. Não sei se melhora ou piora o fato de o Radke afirmar que está sóbrio e livre de drogas há quase cinco anos (coincidência ou não, ele passou esses mesmos cinco anos em condicional por seu envolvimento numa briga que resultou na morte de uma pessoa, dois deles na cadeia por dar um perdido em seu oficial de condicional — sim, ele é esse tipo de cara).

Lamentavelmente, para todos que curtem assistir a uma prima donna de cara tatuada falando merda na internet sobre quem ele acha que vacilou com ele, Radke deletou todos os tuítes e fotos do Instagram feitos durante seu acesso de raiva algum tempo atrás. Devido a essa grande amarelada, temos que juntar os caquinhos da psique desse puta rock star plenamente desenvolvido assistindo com atenção ao clipe de “Alone”.

Publicidade

A abertura acontece ao som de sintetizadores e com um bando de emos — que parecem saídos de um jogo de “monte uma banda” para PC dos anos 1990 — descendo de um helicóptero. Enquanto você considera o helicóptero, pense que esses caras assinaram com a Epitaph Records, a Motown do pop punk fundada pelo Brett Gurewitz, guitarrista do Bad Religion. Isso mesmo. O homem que escreveu “We're Only Gonna Die (From Our Own Arrogance)” deu permissão para o aluguel de um helicóptero e de vários ternos brancos para transformar a merda mais fedorenta da privada do ego de Ronnie Radke em realidade. Não sou um purista do punk, mas me parece que o senhor Gurewitz precisa repensar suas atitudes.

Ronnie chega alguns momentos depois de seus colegas de banda, como todo otário costuma fazer. A estrela do show emerge de uma Ferrari aparentemente dirigida por um fantasma. Sim, é isso mesmo: tem um rap rolando. Se você usar cocaína suficiente, sempre vai ter um rap rolando. Cacete, a faixa ainda parece uma parceria entre Fall Out Boy e 2 Chainz que, provavelmente, já está sendo feita em algum estúdio pomposo de LA.

Aí ele aponta para os tênis e diz:

White boy on the beat/ rockin' Gucci sneaks."

Que é a coisa mais bizarra a se dizer. Ou, talvez, eu só ache isso porque as únicas pessoas que vejo usando conjuntos da Gucci são aquelas tias turistas de meia idade na Holanda. “Você poderia me dizer onde fica o Piccadilly Circle?”

Publicidade

Depois de mandar umas verdades sobre o Charlie Sheen (cara, nem o Justin Lee Collins tentaria fazer graça com o meme “winning” em 2013), o Ronnie faz essa cara. Aqueles familiarizados com o metalcore vão reconhecê-la como aquilo que acontece quando um homem corta um vocal emo de coroinha da igreja com um grito que é uma mistura de Monstro do Biscoito com Raging Speedhorn: “Rrrrrwooooooargh!”.

Dica profi: fora de contexto, essa cara parece sempre um boquete.

Depois da gritaria, a banda e umas periguetes de miniblusa seguem seu destemido líder até um hangar em Nevada para cuidar de negócios. Que tipo de negócios?

NEGÓCIOS DO ROCK!

Tentar pausar o vídeo bem na hora que o Ronnie solta seu maior swag “Instagram do Rick Ross” foi algo muito difícil, infelizmente, mas permitiu que todo esse conhecimento (por meio da letra de “Alone”) chegasse até você:

"I've got a lot of people talking nothing but chatter/ Why'd you switch your style up and that I don't matter/ Man, I've been in rap since I was shitting in Pampers/ Climb the ladder to the top and now I'm shitting on rappers." [Tem um monte de gente só tagarelando/ Por que mudar seu estilo e que eu não importo/ Cara, eu faço rap desde que cagava em Pampers/ Subindo a escada até o topo agora estou cagando em rappers.]

Bum! Toma essa, filho da puta! Pampers!

Sem querer parecer velho e amargo, mas a história, provavelmente, é a seguinte: em 1997, Dennis Lyxzen do Refused começou a curtir Levis e jazz e fez esse disco/clipe, por isso que hoje temos babacas que, supostamente, batem em suas mulheres usando ternos escrotos e jeans de menina rimando em cima de sintetizadores de trance. Um pouco de história para vocês. De brinde. Esse é o tipo de transição que, em comparação, faz o Larry Levan do Flux Pavilion parecer um cara coerente e respeitável.

Publicidade

Óculos escuros em ambientes fechados, a Coca-Cola das coisas que marcam imediatamente uma pessoa como idiota. O mais estranho é que sinto que os óculos escuros são meio que reconfortantes neste momento. Tem tanta merda jorrando desse clipe que é legal lembrar de como as coisas escrotas eram no passado. Porque, comparado com Falling In Reverse, o passado foi uma era de ouro para a escrotidão.

Sério? Por que as pessoas continuam fazendo isso? Até minha mãe mostra o dedo ocasionalmente quando alguém dá uma fechada nela no trânsito. O dedo do meio não é mais o punho fechado no ar na terra da hipocrisia que era em 1999. Existe internet agora, gente. Esse gesto nunca mais vai ser ofensivo pra ninguém. Parem.

Não tenho certeza, mas isto pode ser o relance de um raro momento em que Ronnie duvida de si mesmo na vida. Nesta imagem, ele está fazendo aquela marca de “loser” (© Wheatus, 2000) na testa, só que ao contrário. Ele está fazendo para si mesmo. Nas palavras de Richard Littlejohn, “Não dava pra eu ter inventado isso”.

Fechar mandando um beijo para todas as moças/haters/moças haters do mundo é encerrar com classe, né? Classe até o talo, Ronnie, seu homenzinho iludido.

Música melhor:

O Nascimento Nerd e Espinhento do Thrash Metal em São Francisco

O Legítimo Black Metal Norueguês