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Música

O que se passa no Club of Gore, fica no Club of Gore

O Amplifest está aí a chegar e vai haver gore.

O que fazias naquela madrugada de sábado para domingo, quando o relógio digital do carro marcava 4h45 e não havia mais ninguém naquela travessa refundida? Nós não fazemos ideia, mas os Bohren & Der Club of Gore parecem saber muito bem o que se passou. Aliás, a banda alemã já o sabia há muito tempo e transformou esse segredo num híbrido à parte: música instrumental com tanto de lounge como de jazz noir, tão cheia de rescaldo sexual como de cinema sombrio e veludo. O que se passa na calada da noite fica num disco de Bohren & Der Club of Gore. Andamos portanto a ouvir os segredos uns dos outros em álbuns como Sunset Mission ou Black Earth, e só isso bastaria para que estes alemães fossem um dos mais magníficos mistérios de toda a música contemporânea. E tudo nos Bohren & Der Club of Gore contribui para esse mistério: seja a intriga que sai do saxofone ou do piano elétrico Fender Rhodes, o enigma insolúvel de um disco como Geisterfaust, a escassez de luz nos concertos ou uma mão cheia de mitos urbanos associados à banda. Depois de um primeiro concerto adiado e muita saliva envolvida na espera, os Bohren & Der Club of Gore estarão no primeiro dia do Amplifest para nos contarem um pouco mais sobre o que se passa na Boavista quando não está lá ninguém para ver. Antes que se apaguem as luzes, no Hard Club, e o Paulo Cecílio se borre todo, houve tempo para uma conversa de surra com Cristoph Clöser, um dos multi-instrumentistas da banda que desaparece na sombra. VICE: Sei que “Beileid” significa “Condolences” e há um certo sentimento de adeus neste mini-disco. Gravaram mais alguma coisa desde estas sessões?
Clöser: Sim, estamos a trabalhar no nosso novo CD, que será editado — espero eu — no Outono/Inverno de 2013. Antes de terem o Mike Patton a cantar na vossa versão de “Catch My Heart”, alguma vez tentaram inserir outros vocais nos discos de Bohren?
Não. E não temos [nada do género] planeado para um futuro próximo. O nosso próximo disco “normal” será estritamente instrumental. Como é que surgiu terem o Mike Patton a cantar no vosso disco? Fizeram a versão instrumental da “Catch My Heart” e pensaram: “Fogo… Esta aqui precisava mesmo de vozes dramáticas. ‘Bora chamar o Mike Patton?”
Desde o primeiro momento, pensámos numa rapariga ou numa vocalista. O Patton foi a primeira ideia [para a canção], mas achámos que seria demasiado óbvio convidá-lo. Mais tarde, quando a canção foi tornando-se mais lenta e mais difícil de ser cantada, voltámos a falar com ele. Perguntámos-lhe se ele estaria interessado — ele estava e assim foi. De vez em quando, há malta que vos pergunta a influência que a Twin Peaks teve na vossa música, mas queria evitar isso e perguntar-vos se há outra série internacional ou alemã que também tenha influenciado a vossa música.
DER KOMMISSAR, WINETOU 1-3. Suspeito que já tenham recebido alguns convites para escreverem música para filmes, ou que já vos tenham pedido para ceder música para cinema, ou para séries televisivas. Será que estas suspeitas estão correctas? Qual foi o convite mais impressionante?
O convite mais impressionante e surpreendente veio da Madonna. Ela queria (e lá conseguiu) a “Karin from Dolores”, para o seu último filme W.E. Se um de vós fosse o realizador e tivesse de escolher dois actores para um filme baseado no Sunset Mission, quem escolheriam para o papel do serial killer e para a sua obsessão feminina?
Kevin Spacey e a Cecile de France. Ouvi as histórias mais estranhas sobre as pessoas que compram e vendem test pressings de vinis de Bohren, que são agora legendárias. Desta última vez, no Discogs, um tipo estava a vender umtest press, e contou que essa cópia lhe tinha sido vendida por um junkie que precisava de dinheiro para a droga. Com que frequência é que ouvem este tipo de histórias? Quais são os factos mais estranhos sobre estes test pressings? Contem-me lá.
Nós ignoramos isso. De todos os discos que podem ser abordados neste concerto, há um que acho que poderia ser tocado na íntegra. É o Geisterfaust. É tão bom, cria espaço para tantas ideias e teorias. Normalmente, escolhem um disco para fazer parte do set, ou este é um daqueles discos que necessita de tratamento especial?
Tens razão, o Geisterfaust é um grande pedaço de música e é um pedaço complicado de música: uma pedra, não é fácil de consumir e de o tocar. Às vezes, tocamos o Kleiner Finger nos nossos sets, mas concordamos que ele necessita de tratamento especial. Um dia virá, havemos de o tocar completo. Vocês tocarão com os Godspeed You! Black Emperor no Amplifest, no Porto. Estão ansiosos com o novo disco deles? Que expectativas é que têm?
Gostámos de todos os discos anteriores deles, então vamos ouvir este novo com interesse. Mas não temos expectativas. Pensámos que poderíamos ver o concerto deles, mas infelizmente tocamos no sábado e os GY!BE no domingo, quando já estaremos a caminho de casa. Ouvi dizer que vocês são grandes fãs de cerveja. Para alguém que já viajou tanto, que cerveja é que recomendariam?
LAPIN KULTA. Tradução por Ana Beatriz Rodrigues