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Fui torturado por ser preso político

Mas continuarei a lutar pelo meu país.

Fotografia gentilmente cedida pelo Ahmed Radhi Ser jornalista no Bahrain tem vários riscos. A imprensa não tem liberdade para se movimentar, nem para trabalhar com independência sem ser assediada pelo regime. Fui investigado pelo Ministério da Informação por ter noticiado a presença norte-americana no país. Contudo, foi a entrevista que dei, via telefone, para a BBC, a 13 de Maio de 2011, que conduziu à minha prisão: foi aí que critiquei, abertamente, uma proposta de união entre o Bahrain e a Arábia Saudita. Não há dúvidas que os EUA e a Arábia Saudita são tópicos que o regime do Bahrain não tolera, simplesmente não os quer ver discutidos. Fui preso três dias depois, a 16. A polícia e civis disfarçados cercaram e invadiram a casa do meu pai, sem mandato do tribunal. Eram cerca das três e meia da manhã. Fui interrogado desde que me prenderam até chegar ao edifício do Departamento de Investigação Criminal. Durante os dois dias seguintes, fui submetido a uma humilhante tortura física, espancado (especialmente na cabeça, cara e peito) e depois enviaram-me para o quarto escuro. O agente Isa al-Majali, que tem uma grande reputação no que diz respeito a lidar com presos políticos, e que chefia todos os interrogatórios no quarto escuro, supervisionou toda a minha estadia na cadeia. Enquanto isso, vendaram-me, algemaram-se e, em variadas alturas da minha tortura ouvi gritos e gemidos de outro preso político, que estava a ser “interrogado” no quarto escuro. Além de tudo isto, obrigaram-me a assinar uma confissão. Os investigadores acusaram-me de desenvolver actividades obscuras, como participar em manifestações ilegais, fogo posto e atirar cocktails molotov. Fizeram-no para encobrir o real motivo da minha detenção — queixas de que eu era apoiante de uma revolução no Bahrain. Disse aos meus captores que costumava ter ataques do coração frequentemente e que era surdo de um ouvido (resultado da minha prisão e tortura durante os confrontos dos anos 90), mas eles não quiseram saber. Disseram-me que ia morrer na prisão e que não merecia atenção, nem tratamento médico. Na prisão, dediquei o meu tempo a documentar as violações de direitos humanos. Testemunhei menores a serem espancados, torturados e violados pelas forças de segurança. Vi pessoas entre a vida e a morte, a sofrerem tortura e a debaterem-se com doenças crónicas. Quatro meses depois, para minha surpresa, recebi um aviso de que ia ser libertado. Mais tarde, o meu advogado explicou-me que tinha sido proibido de viajar e que o regime poderia reactivar o caso, levar-me a tribunal ou prender-me novamente, quando bem lhes apetecesse. Fiquei contente por saber que iria ser libertado, mas perturbado por saber que os meus colegas iriam continuar detidos. Nunca os esquecerei e lutarei sempre pela sua causa. Todos aqueles que pensam que este regime pode ser melhorado ou são malucos, ou são parceiros nesta injusta caça à oposição.