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A semana da política, do filho de Temer ao Alexandre de Moraes numa plantação de maconha

Um rolê para a escola de Michelzinho Temer à plantação de maconha com Alexandre de Moraes. Da Lava Jato à disputa das eleições municipais em São Paulo.

Crédito: Agência Brasil.

Recesso parlamentar e forense dá nisso: uma das grandes notícias da política na semana foi o presidente interino Michel Temer convocando a imprensa para acompanhar a saga de buscar seu filho Michelzinho no primeiro dia de aulas em Brasília, o que obviamente gerou um número razoável de piadas sobre o novo governo, incluindo uma possível reedição do clássico quadro do SBT "A Semana do Presidente".

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Mas as coisas não estão assim tão suaves para o Planalto. Na sexta-feira (29) foi divulgada a atual taxa de desemprego, mostrando que a ainda invisível recuperação da economia está longe de acontecer – o índice subiu para 11,3%, o pior da chapa Dilma-Temer e um dos piores desde o início da diminuição do desemprego em 2004. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que tem se assanhado para tentar concorrer à presidência em 2018, vai ter que fazer bem mais que aprovar o teto dos gastos do governo para viabilizar seu nome para a disputa.

Enquanto Eduardo Paes fazia as pazes com a delegação australiana, que criticou o estado das acomodações da Vila Olímpica, com direito a muito canguru, Temer mudava o comando da Autoridade Pública Olímpica às vésperas do início do evento, bagunçando ainda mais um dos eventos já mais esculhambados do ano. A estratégia faz parte da troca de poder de Temer, que tenta apaziguar o Centrão distribuindo cargos aos partidos em diferentes escalões usando um discurso de "desaparelhamento" (na real, trocando um aparelho por outro), e está em ação em pastas como o Ministério da Saúde, que demitiu 73 comissionados, e o Ministério da Cultura, que, num corte de 70 cargos, demitiu a cúpula da Cinemateca de São Paulo – ação amplamente questionada , uma vez que atropelou o Conselho Curador do órgão.

A Lava Jato, por sua vez, diferente da renda do trabalhador, só aumenta. O que se desenha nos vazamentos dos bastidores é que há uma corrida de delações entre as empreiteiras. O presidente da Andrade Gutierrez afirmou que tratava propina como "custo operacional" e disse que repassava 1% do valor das obras públicas da empresa para o PT. Já os executivos da Odebercht teriam citado mais de cem políticos em suas delações premiadas, incluindo governadores como Pezão (PMDB-RJ), Alckmin (PSDB-SP) e Pimentel (PT-MG) – como já falamos aqui, quem tiver de sapato não sobra.

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As eleições municipais de São Paulo renderam um dos momentos mais, hm, pitorescos da política na semana, quando a insuspeita chapa Marta Suplicy (PMDB) e Andrea Matarazzo (PSD) foi confirmada, para o deleite dos adversários. A recém ex-petista Marta e o recém ex-tucano Andrea nunca se entenderam. Matarazzo é ligado ao chanceler José Serra (PSDB), e deixou o PSDB depois de ser atropelado por João Dória (que conta com o apoio irrestrito do governador Alckmin) nas prévias do partido, tentando viabilizar uma candidatura própria. Enterrado nas pesquisas, acabou cedendo à articulação do ex-prefeito de São Paulo e agora ministro do governo interino Gilberto Kassb (PSD) – alvo de ataques por parte de Marta que beiraram à homofobia na disputa pela prefeitura em 2008. Andrea chegou a declarar mais cedo no ano que "seria mais fácil uma vaca voar" do que ele ser vice de Marta, e suas críticas públicas à ex-prefeita viraram listinha na internet. O acordo desagradou o PTB, que lançaria Marlena Campos Machado, esposa do deputado estadual Campos Machado (aquele que queria proibir o goró nas vias públicas de São Paulo), como vice de Marta. Revoltado, o PTB se bandeou para a chapa de Celso Russomanno (PRB), que deve anunciar a chapa em evento com a presença ilustre do delator Robert Jefferson, presidente do partido.

O ministro da Justiça Alexandre de Moraes, o Wilson Fisk paulistano, segue na sua campanha de paladino da justiça brasileira (se cuida Sergio Moro!), dessa vez realizando uma grande colheita de maconha no Paraguai. ÊPA. Na verdade o próprio ministro andou divulgando por aí um vídeo onde cortava uma série de pés de cannabis no Paraguai (alguns bem servidos), durante uma ação de combate ao tráfico da erva coordenada com o governo do país fronteiriço, realizada na semana anterior. Infelizmente o vídeo não mostra o destino da maconha podada, mas há de se crer que a plantação acabou toda queimada.

E para fechar a semana e azedar o almoço de família do domingo, a Justiça Federal do Distrito Federal aceitou a denúncia do MPF contra Lula, Delcídio do Amaral e mais uma turminha, tornando o ex-presidente pela primeira vez oficialmente réu desde o começo da Lava Jato. Como explicamos aqui na semana anterior, a denúncia, que havia sido começada pelo Procurador da República Rodrigo Janot e foi levada adiante pelo procurador federal Ivan Marx (ah, a ironia em um sobrenome) trata da suposta tentativa de Lula de "calar" Nestor Cerveró em relação a denúncias que poderia fazer contra o pecuarista José Carlos Bumlai. O bolão de apostas sobre a data da prisão de Lula já deve estar bombando no grupão de Whats da sua família, mas, apesar da crise, a gente não recomenda inteirar nada com a turma, já que essa novela deve ir bem longe.

Domingão foi dia de protestos, mas parece que muita gente não ligou para isso. Segundo o G1, os protestos a favor do impeachment de Dilma aconteceram em 20 estados, além do Distrito Federal, enquanto as manifestações contra Temer aconteceram em 15 estados e também no DF. Os números de manifestantes parecem difíceis de auferir, uma vez que a PM não divulgou os dados das duas manifestações da capital paulista e praticamente nada sobre manifestações anti-Temer – um chutômetro baseado nas fotos apresentadas de São Paulo indicaria que a manifestação contra o interino reuniu mais gente, mas realmente não passa de chute. Não circularam notícias de grandes incidentes, a não ser com a atriz Letícia Sabatatella, que foi hostilizada no ato anti-Dilma em Curitiba. Ela publicou na sua conta do Instagram um vídeo onde é chamada de "puta" por um cidadão e é empurrada por outro sexagenário, sob o coro de "a nossa bandeira jamais será vermelha". A atriz, que se manifestou contra o impeachment quase desde o inicio do processo, registrou queixa em Curitiba contra a mini turba nesta manhã de segunda-feira (1º).

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