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Drogas

A dona de salão de beleza que tinha uma vida dupla como traficante de cocaína

A história de Leanne Duffin, que usava seu salão de beleza para mascarar um lucrativo cartel de tráfico de maconha e cocaína.
Leanne Duffin. Foto: Facebook.

Matéria originalmente publicada na VICE UK.

Pouca coisa digna de nota acontece no vilarejo tranquilo de Llanrug. Mas quando uma Range Rover chamativa estacionou no The Glyntwrog Inn numa tarde de quarta-feira preguiçosa no ano passado, os clientes bebendo seus pints em frente ao bar sabiam que aquele dia seria diferente. Do carro emergiu uma mulher de cabelo rosa muito característica e dois homens – um mais velho, outro bem mais jovem.

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O trio – Leanne Duffine, 31 anos; seu pai, Brian, 66; e o colega de apartamento deles, Jordan Whittle, 19 anos – se sentou numa mesa do pub típico das profundezas do noroeste do País de Gales e pediu o almoço. Mas antes que a comida viesse da cozinha, policiais disfarçado entraram no local e algemaram os três. Eles foram presos por conspiração para fornecer drogas de classe A e B.

“Leanne ficou irritada porque a comida naquele pub era bem cara, e ela tinha acabado de pedir quando chegamos para prendê-la”, diz Danielle Lilley, detetive da Polícia de Lancashire. “Ela disse: 'Não acredito, acabei de pagar pelo almoço e não vamos nem comê-lo'. Isso causou uma certa comoção no pub. Os locais ficaram de boca aberta. Eles nos abordaram depois, dizendo que sabiam que tinha alguma coisa com eles. Um dos locais era um policial aposentado, e mesmo ele disse que essa foi a coisa mais emocionante que já aconteceu por lá.”

As prisões podem ter entretido os locais e estragado os planos de almoço de Duffin, mas foram um grande resultado para Lilley e sua equipe. Fora ter sido “bem divertido”, o momento era o clímax de mais de um ano de operações disfarçadas. Além de comandar um conhecido salão de bronzeamento artificial, Duffin – como foi descoberto – era a chefe de um dos maiores sindicatos de tráfico de drogas da história recente de Chorley, uma cidade de Lancashire a menos de uma hora de carro de Manchester.

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ASSISTA:


A polícia começou a receber inteligência sobre as operações com cocaína e maconha em Preston, Chorley, Leyland e outras partes do condado de South Ribble em Lancashire no começo de 2016, e uma investigação secreta foi estabelecida para tentar pegar o grupo.

“A informação vinha de conversar com os locais, e desenvolvemos a partir disso”, explica o sargento Keith Duckworth da unidade de inteligência da Polícia de Chorley. “Estávamos conseguindo pequenas pistas, e depois aquilo ganhou peso suficiente para começar uma operação disfarçada, com vigilância sobre os movimentos do grupo.”

Apesar das provas estarem se acumulando, inicialmente “elas não deram frutos”, e a equipe de Duffin conseguiu evitar ser pega. A polícia acredita que a gangue estava chegando a um pouco onde achava que era “intocável”.

Com Duffin no comando, o cartel continuou fornecendo drogas para usuários locais por vários meses enquanto era vigiado pela polícia. “Essa foi uma das primeiras vezes [em casos de tráfico de drogas] onde tínhamos uma filha comandando o show enquanto o pai também participava”, diz Duckworth. “Isso é incomum. Escutas mostraram que Leanne estava definitivamente no controle. É mais comum o homem ser o chefe.”

Lilley também diz que essa é a primeira vez que ela cruza com uma mulher liderando um grupo de crime organizado, e nada na investigação sugere pressão de cima. “A experiência que eu tinha era que a pessoa no papel de comando geralmente era um homem”, ela explica. “Às vezes há uma namorada envolvida, mas ela nunca está no comando. Esse é o caso de uma mulher como líder, dirigindo quem estava abaixo dela. Não sei explicar por que as pessoas iam querer fazer um acordo com ela. Ela devia ser uma vendedora muito boa para conseguir fazer as pessoas embarcarem nessa sob o risco de serem presas.”

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O salão de Duffin, uma loja rosa e verde chamada Cosmopolitan em Leyland, foi um elemento-chave para criar a imagem de empresária de sucesso – mas, segundo a polícia, o lugar era só uma fachada para lavagem de dinheiro. Apesar de comentários em postagens na página da Polícia de Chorley do Facebook apresentando a mug shot de Duffin – uma das imagens mais compartilhadas e comentadas da página – sugerirem que o salão deveria ter sido batizado de “Tan Lines”, não há provas de que as drogas eram vendidas lá.

“Era onde o dinheiro era lavado”, diz Lilley. “O negócio tinha clientes legítimos. Encontramos os livros como parte da busca, e a receita era registrada, mas era pouca. A renda que Leanne dizia que o negócio de bronzeamento artificial gerava não podia ser provada, então parece que o dinheiro dela vinha das drogas, não do Cosmopolitan.”

Escrevendo esta matéria, tentei entrar em contato com Leanne para uma entrevista através de dois solicitadores e do contato na polícia, mas não recebi resposta.

A polícia diz que não tem certeza de há quanto tempo Duffin fornecia drogas, mas não acham que o esquema foi montado em 2016. Durante os 15 meses de investigação, estimasse que o grupo tenha vendido 4 quilos de cocaína – num valor de rua de cerca de £200 mil – e 6 quilos de cannabis, valendo cerca de £60 mil.

Os ativos “substanciais” de Duffin – incluindo sua Range Rover Sport preta – foram apreendidos e serão discutidos numa audiência do Proceeds of Crime Act em 30 de março de 2018. “Não tenho dúvida de que o carro foi comprado com dinheiro de drogas”, diz Lilley.

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A polícia também acredita que seria difícil para os clientes do Cosmopolitan não saberem sobre a associação do salão com tráfico de drogas, porque – segundo eles – muita gente da área sabia o que estava acontecendo. Mas nem todo mundo sabia que o negócio tinha uma ligação criminosa. Empregados da Farmácia Rowlands vizinha conheciam Duffin, mas não tinham ideia do que acontecia ali. “Ela vinha aqui de vez em quando. Ela era muito educada”, um funcionário disse. “Ela sempre pareceu educada para mim.”

Foto: VICE

Alguns clientes do Cosmopolitan ficaram mais chocados em saber que compraram pacotes de bronzeamento que não poderiam fazer porque o negócio foi fechado quando Duffin foi presa. “Acho que não vou ter meu dinheiro de volta”, disse um cliente – que tinha comprado um pacote completo. “Não acredito que ela estava envolvida nisso. Nunca suspeitei de nada. Eu só usava a loja dela porque ela tinha camas de terapia de colágeno, a única cura para minha psoríase. A loja era um pouco bagunçada, sem chave na porta, mas Leanne era simpática. Um tanto excêntrica. Ela tinha seu próprio estilo.”

E a polícia acredita que essa imagem chamativa pode ter tido um papel na queda dela, impossibilitando que ela transitasse abaixo do radar, especialmente numa área pequena onde todo mundo se conhece e as pessoas falam. “A aparência e reputação dela a precediam”, Lilley explica. “Ela estava lá. Ela tinha um senso único de estilo, usando hot pants e crop tops. Você conseguia vê-la a um quilômetro de distância – ela tem várias tatuagens… e o cabelo rosa, cabelo branco, cabelo cor de chiclete, ela estava sempre mudando sua aparência.

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“Ela era muito sociável e extrovertida. Você pode ver pelo número de comentários que ela gerou no Facebook quantas pessoas a conheciam. Sua aparência e o jeito como ela agia nas redes sociais atraía atenção positiva e negativa.”

Mas no final das contas, Duffin parecia ser uma mulher normal, não a chefe durona de gangue que os tabloides queriam mostrar desde que ela foi presa. “Falando com Leanne, ela é muito pé no chão”, diz Lilley. “Fiquei surpresa com isso. Eu esperava que ela fosse selvagem, mas ela é simpática, gosta de conversar, ela não acha que está acima de ninguém. Ela é só uma pessoa normal.”

Talvez o carisma de Duffin tenha ajudado a conseguir pessoas para trabalhar com ela. Além do pai e Whittle – que a polícia diz não ter família e provavelmente apreciava fazer parte da gangue – o grupo também incluía Geri Treadwell, 51 anos, de Coppull, e Kevin Hewitt, 51, de Adlington. Whittle e Treadwell faziam as entregas, deixando as drogas com os clientes e pegando o dinheiro, enquanto Hewitt fornecia a casa de segurança.

A busca naquela casa de segurança em setembro de 2016 descobriu uma pasta trancada, que continha um terço de quilo de agente para corte benzocaína, uma pequena quantidade de cocaína, cannabis, chips de celular, fones e balanças. O departamento forense ligou a pasta a Duffin e seu pai, enquanto um celular descartável Nokia – que continha mensagens sobre os preços deles, um grama de cocaína por £40, três por £100 e nove por £200 – também foi ligado ao grupo.

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Leanne Duffin e seu salão de beleza, o Cosmopolitan.

Levaria mais oito meses para o ataque final, quando um celular apreendido de Duffin usou o mesmo número do celular descartável encontrado na casa de segurança – o mesmo número que estava funcionando no começo das investigações.

No dia da prisão em maio de 2017, a polícia chegou ao endereço de Duffin em Standish, Grande Manchester, mas ela não estava lá. Eles conseguiram localizá-la no País de Gales, onde – como parte das armadilhas de seu estilo de vida – ela tinha comprado um trailer numa propriedade de luxo.

O local, Brynteg Holiday Homes, se promove em seu site como “aninhado no sopé de Snowdonia […] Deixe o stress do dia a dia em casa e aproveite nosso retiro […] Perto o suficiente para uma pausa de final de semana, mas longe o suficiente para relaxar e descontrair”. Mas parece que não longe o suficiente para escapar de uma unidade de investigação da polícia. “Leanne disse que não acreditava que a gente fosse segui-la até o País de Gales”, diz Lilley.

Mas não houve luta: Duffin se entregou, e até bateu um “papo de meninas” com as policiais na jornada de volta a Lancashire. “Conversamos sobre a vida dela”, diz Lilley. “Ela estava me dizendo que dançava, que era dançarina antes. Ela falou sobre o cara com quem estava saindo – sabe, todas essas coisas que garotas conversam, roupas, maquiagem, etc. Ela contou sobre problemas de relacionamento que teve com um namorado. Ela arranjou esse cara e não conseguia terminar com ele, e provavelmente não era o melhor relacionamento, mas eles se amavam. É o tipo de história que você ouve de centenas de outras garotas.”

Duffin, que a polícia descreve como uma “filhinha de papai”, também ficou preocupada com a prisão do pai. “O pai é tudo para ela”, diz Lilley. “Ela ficou muito triste pelo pai ter sido preso. Ela dizia 'Por favor, cuide dele, ele tem problemas de saúde, por favor, leve a medicação dele, por favor, veja se ele está bem'.”

Duffin continua sob custódia desde aquele dia e foi sentenciada há oito anos de prisão. Ela pode pedir condicional em novembro de 2021. Seu pai pegou seis anos, Whittle pegou três anos e oito meses. Treadwell foi sentenciada a quatro anos e Hewitt pegou 12 meses.

“Você não pode escapar dessa atenção para sempre”, diz Lilley. “Em algum momento você vai ser descoberto, e a polícia está sempre buscando colocar traficantes na cadeia.”

@emilysgoddard

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