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Adeus Starman - David Bowie (1947-2016)

O músico, produtor, actor, artista pioneiro David Bowie morreu no Domingo, 10 de Janeiro, depois de uma batalha de 18 meses contra um cancro.

Ilustração de Filippo Fiumani.

Nunca fui um fã acérrimo do Bowie. Sempre percebi a sua importância fulcral na construção da cultura pop, mas quando ainda na infância a música começou verdadeiramente a moldar-me a vida, Bowie era o mainstream. E omainstream nessa altura, na primeira metade dos anos 80, quando o meu pai tinha uma loja de discos e eu vivia grande parte dos meus dias dentro dela, era uma coisa pouco apetecível. Era o Bowie que os adultos adoravam. O Bowie do Top Disco. Do dueto com Mick Jagger que não saía da televisão e da rádio. O Bowie de "Absolute Beginners". Vade retro satanás. Hoje, esse Bowie, o actor, o que cantava " Put on your red shoes and dance the blues" é o meu favorito.

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Mais para o final da década, descobri o Bowie que via nas capas de discos lá na loja, mas nunca quis ouvir. Descobri-o por causa do "Som da Frente" do António Sérgio. O Bowie de "Changes", de Berlim, o Ziggy Stardust que a vontade de só ouvir o que mais ninguém ouvia me tinha escondido durante anos.

Ainda assim, a paixão nunca foi arrebatadora. Não o suficiente para em 1990 ter ido com a malta a Alvalade, aquando da "Sound + Vision Tour". Nem quando em 1996 finalmente o vi ao vivo naquela nebulosa segunda edição do Super Rock em Algés. Continuei sempre a perceber a sua importância, a sua influência e a gostar cada vez mais, isso sim, desse período antes inefável, desse "Let's Dance" que quando era puto abominava.

Nos últimos dias, "Blackstar", o disco novo acabado de editar parecia omnipresente nas redes sociais. Poucos foram os que não partilharam alvíssaras pelo regresso "em grande forma", pelo teledisco soturno e genial, pela relevância multidisciplinar que o artista continuava a ter aos frescos 69 anos de vida, ainda que há muito retirado dos palcos e de mais frequentes aparições públicas. Meti-o a tocar no dia em que saiu, mas, confesso, não o deixei chegar ao fim. Ao contrário do que pensei que pudesse acontecer ao ler inúmeras resenhas elogiosas de gente que admiro e cujas opiniões nunca me são indiferentes, não senti aquela coisa da genialidade absoluta, do regresso apoteótico…não sei…é claramente um bom disco, mas com Bowie (como com outros da mesma estirpe e com o mesmo peso na história da música popular) parece que estou sempre à espera de uma coisa que acaba por nunca se confirmar. Ou, muito provavelmente, não estava para ali virado e daqui a uns tempos, quando o voltar a rodar, tudo soará diferente. Até pode ser daqui a 10 anos. Uma coisa que, definitivamente, Bowie há muito (muito) tempo conquistou chama-se intemporalidade. E isso, goste-se mais, goste-se menos, não é discutível.

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Hoje acordei com a notícia do seu desaparecimento. Ouvi na rádio. Uns minutos depois, Álvaro Costa chorava em directo na Antena 3 ao recordar a importância que o músico, o artista, o mito, teve na sua vida. O poder da música, dos artistas, da cultura pop, nunca pode deixar de nos surpreender. Hoje desapareceu um bom pedaço desse poder. Goste-se mais, goste-se menos.

O músico, produtor, actor, artista pioneiro David Bowie morreu no Domingo, 10 de Janeiro, depois de uma batalha de 18 meses contra um cancro. Tinha 69 anos de idade.

A notícia foi avançada às primeiras horas da manhã de segunda-feira, 11, através de uma declaração publicada no seu site oficial e nas suas redes sociais:

"David Bowie died peacefully today surrounded by his family after a courageous 18 month battle with cancer. While many of you will share in this loss, we ask that you respect the family's privacy during their time of grief. "

O seu filho, Duncan Jones, confirmou a notícia através do Twitter.

Very sorry and sad to say it's true. I'll be offline for a while. Love to all. — Duncan Jones (@ManMadeMoon)January 11, 2016

Bowie, nascido David Robert Jones, em Brixton, no ano de 1947, celebrou ainda há três dias, a 8 de Janeiro, o seu aniversário e o lançamento do 26º álbum de estúdio, "Blackstar" e, apesar do estado de saúde débil, conseguiu gravar alguns vídeos para a promoção do disco. Apesar de há vários anos afastado dos palcos, Bowie vinha sendo apontado como possível cabeça de cartaz da próxima edição do Festival Primavera Sound, em Barcelona, naquele que seria o seu regresso aos concertos.

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Deixa dois filhos, Duncan Jones e Alexandria "Lexi" Zahra Jones e um legado extraordinário espalhado por 49 anos de carreira que, inexoravelmente, marcaram o mundo artístico para sempre. Thank you for everything, Starman. Burn bright.

O nosso habitual colaborador Filippo Fiumani agraciou-nos mais uma vez com uma comovente ilustração de homenagem, e nas redes sociais, músicos portugueses e estrangeiros, radialistas, djs, artistas, reagiram assim:

- Manuel Simões (guitarrista, Norton)

- Álvaro Costa (radialista, apresentador, autor, Antena 3 / Rtp)

- Nuno Calado (radialista, Antena 3)

- Alpha (banda britânica)

- Ana Markl (radialista, Antena 3)

- Benjamin (músico)

- Gavin Dunbar (baixista, Camera Obscura)

- Elsa Garcia (editora Revista Umbigo)

- David Holmes (músico e produtor irlandês)

- Armando Teixeira (músico, Balla)

- Dario Azevedo Silva Oliveira (director do Festival Porto Post Doc)

- Sebastian Litmanovich (músico, Papaya)