Andi Galdi Vinko fotografa o humor absurdo do mundano

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Andi Galdi Vinko fotografa o humor absurdo do mundano

"Muito do meu trabalho é feito com aquilo que acho estranho, interessante ou surpreendente".

Todas as fotografias por Andi Galdi Vinko.

"Londres tem um monte de palmeiras", salienta a fotógrafa Andi Galdi Vinko antes da nossa entrevista. Desde então, os salpicos de topiaria tropical da cidade têm sido difíceis de perder. Estão pendurados no lado de fora das lojas, nas janelas, nos parques de estacionamento - são peculiares, cómicos e um poucos inspiradores (em termos de: se te concentras somente na árvore podes sentir que estás na Califórnia, e não em Chingford). É neste mundo que habitam as fotografias da Andi - onde existe a noção de que, se olhares a sério para o teu entorno, encontras sempre um elemento do absurdo.

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"Paradisco", uma série de fotos da Andi, serão exibidas durante a sua estreia no Reino Unido nesta quinta-feira, dia 4 de junho. A palavra é uma combinação de "para" - gíria húngara que pode ser vagamente traduzida como "o estranho" ou "medo" - e "disco", que já sabes o que significa. A palavra descreve perfeitamente a sua estética, que é perturbadora mas brincalhona, assustadora mas brilhante.

Eu tive uma conversa com ela enquanto tomávamos café para falar sobre o processo por trás destas imagens, e porque é que o conceito "girliness" deve ser usado com auto-reflexão.

VICE: Em primeiro lugar, nas tuas próprias palavras, o que significa o termo "Paradisco"?
Andi Galdi Vinko: É calão. O medo é apenas medo, mas "para" é quando estás com medo de coisas de uma maneira estranha. Eu não acho que exista uma palavra em Inglés que a descreva. O disco é, obviamente, apenas "disco". Eu também gosto da palavra italiana "paradiso", que é paraíso, por isso surgiu organicamente. As duas palavras combinadas fazem alusão a este paraíso indescritível.

Para mim não existe melhor exemplo de "Paradisco" do que pessoas que constroem uma piscina à frente de um oceano infinito. Porque farias isso? É como por perfume nas flores. Mas, ao mesmo tempo, se és um turista e vais para um hotel, ficas satisfeito se houver uma piscina junto à praia.

Onde sentes que a palavra "Paradisco" se encaixa com esta série?
Muito do meu trabalho é feito com aquilo que acho estranho, interessante ou surpreendente. É tudo de plástico e cor-de-rosa - as coisas que nós as raparigas, supostamente, temos de gostar. Eu adoro unicórnios e verniz cor-de-rosa, mas também me pergunto porquê. Será que é porque tenho de gostar? Vivemos num mundo avassalador. Se não tens muitos seguidores no Instagram, ou o cabelo colorido, ou não mostras os teus pêlos púbicos não és suficientemente interessante, não é verdade? É isto que está a acontecer.

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Eu sinto que as tuas fotos têm uma estética típica das redes sociais - como se pudessem ser facilmente digeridas no Tumblr ou no Instagram. Isso é intencional? Pensas muito em Social Media?
Eu penso nisso depois, mas não quando as estou a fazer. A minha inspiração não vem necessariamente da Internet, mas do que está lá fora no mundo e naquilo que vês diariamente. Estão sempre a acontecer coisas estranhas na rua, mas nem sempre funcionam fotograficamente. Uma grande parte do tempo, eu passo por alguma coisa e se me parecem interessantes tento recriá-las.

Isso é interessante, porque eu tenho reparado que as tuas fotos parecem tanto espontâneas como fortemente trabalhadas.
Exactamente. Um bom exemplo é a fotografia do urso de peluche cor-de-rosa. Eu estava no Sri Lanka com o meu melhor amigo - estávamos a viajar de carro e passámos por uma parede azul, cinco minutos depois vi este peluche cor-de-rosa dentro de um saco plástico. Tínhamos um motorista particular, e não podes simplesmente parar o carro - não podes desperdiçar o tempo dos outros só porque viste um urso de peluche e uma parede. Mas eu queria tanto, que comecei a gritar, "Pare o carro!" e eles acabaram por dar a volta para que eu pudesse tirar a fotografia. Foi espontâneo, mas também pensado, e isso é um bom exemplo de como as minhas fotos têm sido feitas em geral.

Li que o teu trabalho explora a forma de como nos vemos a nós próprios e como tentamos continuamente controlar como somos vistos pelas outras pessoas. Achas que isto se aplica a esta série em particular?
Sim, de certa forma. Vivemos num mundo onde tudo é moldado pela forma como desejas ser visto. Parece muito óbvio, mas no Instagram e no Facebook, toda aquela vulnerabilidade e fragilidade do ser humano desaparece. Mostras-te como se fosses uma artista forte e independente com muitas exposições e a fazer coisas espectaculares, mas não partilhas nada sobre não teres dinheiro para um café.

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Hoje em dia já não se imprimem fotografias. Estão todas nos nossos iPhones, apagamos as más e colocamos filtros nas boas. O meu realizador favorito é o Harmony Korine - ele incluí sempre esta fragilidade humana nos seus trabalhos.

Posso definitivamente ver essa estética fora do comum do Harmony Korine nas tuas fotografias. Por exemplo, aquela cena no Gummo onde um miúdo come esparguete na banheira. É uma cena quase tão estranha que só pode ser vista na vida real. Consigo ver esse tipo de influência no teu trabalho.
É uma cena muito bonita e seria um momento que captaria com a minha câmera. Acho que as cores, a cabeça do miúdo, o cabelo… são estes pequenos gestos e detalhes que eu vejo nos seus trabalhos, e que também tento incluir no meu trabalho. É por isso que tenho de mudar alguma coisa em cada imagem para torná-la mais estranha e mais incomum.

A frase "cultura juvenil" é muitas vezes usada quando se fala sobre as tuas fotografias. É uma coisa que tentas encapsular?
Eu não sei exactamente o que significa "cultura juvenil", mas sei que o meu pai ficou chateado quando lhe mostrei esta série. Perguntou-me: "É assim que tu vês o mundo?" Ele achou que as fotos eram horríveis e disse que não tinham nenhum elemento clássico. Depois perguntou-me para onde tinham ido os meus estudos de arte.

Mas no entanto existe uma "feminilidade" clássica em algumas das tuas fotos.
Existem muitas questões nisto de ser uma mulher, sempre que vou a um estúdio só passado uma hora é que as pessoas dizem, "Ah, não és a modelo". Então, para mim, acho que ao usar coisas cor-de-rosa - e a clássica "girliness" - é tudo sobre a ironia e a auto-reflexão. Eu quero ser brincalhona, e certamente não me preocupo com o olhar masculino. Para mim, nem sequer existe. Eu não publico um monte de selfies. Penso sempre: 'Se o fizesse, teria mais seguidores?' Acho que não preciso disso.

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Dá uma vista de olhos no website de Andi, no seu Instagram, e na página de eventos.

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